Empresa chinesa Meituan prepara estreia no Brasil com promessa de investimento bilionário, cem mil entregadores e forte impacto no mercado de delivery, despertando expectativas e receios sobre concorrência, condições de trabalho e a disputa com apps já consolidados no país.
A empresa chinesa Meituan, controladora do aplicativo de entregas Keeta, anunciou um investimento de R$ 5,6 bilhões até 2030 para iniciar suas operações no Brasil.
O plano prevê a captação de 100 mil entregadores, com 1.000 vagas no primeiro ano, sendo 90% destinadas a brasileiros, e a criação de 4.000 postos de trabalho permanentes nos anos seguintes, com foco no Nordeste.
A operação integra um pacote de cooperação econômica entre os governos do Brasil e da China, formalizado em maio de 2025.
-
Brasil inaugura a maior fábrica de mosquitos modificados do mundo e pretende proteger até 70 milhões de pessoas
-
Milhões de insetos geneticamente modificados foram liberados no Brasil, mas por que ninguém te contou isso antes?
-
Esse cara entrou para a história ao derrotar o ChatGPT no jogo de xadrez sem perder nenhuma peça, e ainda fez piada
-
Cientistas liberam 200 mil larvas de ostras no mar e o motivo por trás disso vai te surpreender
A estreia do aplicativo no país está programada para ocorrer nos próximos meses, embora ainda não tenha data oficial confirmada.
Concorrência no setor e estratégias econômicas
A entrada da Meituan ocorre em um cenário de disputa crescente no mercado de entregas.
Segundo dados do setor, o iFood detém aproximadamente 80% da participação de mercado.
Diante da nova concorrência, plataformas como iFood, Rappi e 99Food anunciaram mudanças operacionais.
Entre as medidas adotadas estão o aumento no valor pago por corrida e a redução ou isenção de taxas para restaurantes parceiros.
De acordo com a Meituan, a estratégia de inserção inclui subsídios para consumidores e estabelecimentos, além de campanhas promocionais e incentivo a entregadores.
A empresa já atua em mercados como China, Hong Kong e Arábia Saudita, e, conforme seu relatório financeiro de 2024, contabiliza 770 milhões de usuários ativos, cerca de 14,5 milhões de restaurantes parceiros e uma média de 98 milhões de entregas diárias.
Impactos econômicos no mercado brasileiro
Especialistas consultados por entidades do setor apontam que a chegada da Meituan pode promover uma redução nos preços para consumidores e ampliar as opções de serviços digitais.
Segundo o Instituto Foodservice Brasil, o setor de alimentação fora do lar registrou queda de 3% em 2024, com tendência de estabilização nos trimestres seguintes.
Nesse contexto, a atuação de uma nova empresa estrangeira é avaliada por analistas como um fator de pressão competitiva sobre as plataformas já estabelecidas no país.
Relatórios de consultorias financeiras indicam que o modelo de negócio da Meituan está baseado na diversificação de serviços e na integração tecnológica de alta escala, o que pode alterar a dinâmica de preços e margens de lucro das concorrentes.
Chegada da Meituan desperta preocupações com direitos trabalhistas
A possível precarização das condições de trabalho tem sido citada como uma das principais preocupações por representantes de sindicatos e associações de entregadores.
Segundo o Sindmoto-SP (Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Moto-Taxistas do Estado de São Paulo), há receio de que o modelo de atuação adotado na China — com longas jornadas e remuneração variável — seja replicado no Brasil.
Gilberto Almeida, presidente da entidade, declarou que é necessário acompanhar de perto o padrão de operação da empresa, sobretudo em relação às condições oferecidas aos entregadores.
A Associação de Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (Amabr) também se posicionou sobre o tema.
De acordo com a organização, o crescimento acelerado de plataformas digitais sem regulamentação pode gerar impactos negativos na renda e na segurança dos profissionais do setor.
Um levantamento citado por representantes da categoria estima que entregadores trabalham, em média, até 12 horas por dia, com rendimentos mensais que variam entre R$ 2.000 e R$ 2.500.
Regulamentação em debate no Congresso e no STF
A entrada de novos players no mercado de entregas reacendeu os debates sobre a regulamentação do trabalho por aplicativo.
Atualmente, tramitam no Congresso Nacional projetos que propõem critérios mínimos de remuneração, direitos previdenciários e limites de jornada.
O Supremo Tribunal Federal (STF) também analisa ações que discutem a natureza da relação entre plataformas digitais e trabalhadores cadastrados.
O Ministério do Trabalho informou que acompanha as discussões legislativas e apoia medidas voltadas à garantia de proteção social para trabalhadores de aplicativos, respeitando a autonomia contratual.
A empresa iFood declarou, por meio de nota, que atua no Brasil há 14 anos e que apoia desde 2021 a criação de um marco regulatório para o setor, com foco em segurança jurídica e inclusão social.
Segundo a companhia, suas atividades movimentaram R$ 110 bilhões em 2023, gerando aproximadamente 909 mil postos de trabalho diretos e indiretos.
Reações de empresas do setor
Rappi e 99Food não se manifestaram oficialmente, mas implementaram medidas comerciais voltadas a consumidores e restaurantes logo após o anúncio da chegada da Meituan.
Entre as ações estão o retorno da operação da 99Food no país, após a saída ocorrida em 2023, e o corte temporário de comissões em estabelecimentos parceiros.
O iFood afirmou que a concorrência é benéfica desde que observadas as regras de mercado e o equilíbrio nas condições de atuação.
Organizações representativas de trabalhadores, por outro lado, reforçam a necessidade de uma regulamentação clara que evite a redução de garantias trabalhistas diante da ampliação das atividades de empresas estrangeiras no setor.
Quais os próximos passos da Meituan no Brasil?
A expansão da Meituan no Brasil abre um novo capítulo no mercado de entregas por aplicativo, com potencial para alterar a estrutura econômica do setor e influenciar o debate sobre os direitos dos trabalhadores digitais.
Diante das mudanças em curso, a questão que se impõe é:
Como equilibrar inovação e geração de empregos com a garantia de condições justas e reguladas para quem entrega diariamente pelas ruas do país?