Empresa de móveis de Santa Catarina anuncia corte de funcionários após impacto direto das tarifas impostas pelos Estados Unidos, que derrubaram as exportações brasileiras e colocaram em risco milhares de empregos no setor moveleiro.
Uma fabricante de móveis de São Bento do Sul (SC) anunciou, na quarta-feira (17), uma demissão em massa após a retração nas vendas causada pelo recente “tarifaço” dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
O Sindicato de Indústrias da Construção e do Mobiliário (Sindusmobil) estima mais de 300 desligamentos.
A empresa — a Artefama Móveis, em atividade desde 1945 — confirmou uma reestruturação interna, mas não informou o número de demitidos.
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Dependência do mercado americano pressiona o polo moveleiro
O polo madeireiro do Norte catarinense, que inclui São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre, tem forte exposição aos Estados Unidos.
Segundo o setor, 62% da produção local tem como destino o mercado norte-americano.
Com a elevação das tarifas de importação, os pedidos de clientes dos EUA encolheram e derrubaram o fluxo de caixa das indústrias da região.
Além da queda nas encomendas, empresários relatam esticamento de prazos de pagamento e renegociações de contratos.
O efeito imediato foi a redução de turnos, férias coletivas e, agora, cortes de pessoal em empresas relevantes do polo.
Empresa confirma reestruturação e cortes de pessoal
Em nota, a Artefama informou que está “promovendo uma reestruturação importante para se adaptar às mudanças recentes no mercado internacional, que reduziram de forma significativa nossas vendas”.
A companhia acrescentou: “Como parte desse processo, será necessário reduzir grande parte de nossa equipe para manter a operação viável e preparar a empresa para um novo ciclo de crescimento.”
A fabricante disse ainda estar reorganizando processos, buscando novos mercados e projetando a retomada gradual da capacidade produtiva, com a possibilidade de recontratações no futuro.
Não houve detalhamento sobre áreas afetadas, cronograma de desligamentos ou eventuais programas de apoio aos trabalhadores.
Efeito em cadeia: demissões e ajustes no país
A reação não se limita a Santa Catarina. Levantamento da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente) indica que, entre 9 de julho — data do anúncio da taxação — e 15 de setembro, o setor registrou ao menos 4 mil demissões no Brasil.
A entidade reúne empresas de compensados, madeira serrada, pisos, molduras, portas e outros itens ligados à cadeia de base florestal.
O segmento emprega cerca de 180 mil pessoas no país.
Empresas consultadas pelas entidades setoriais adotaram medidas temporárias para enfrentar a perda de competitividade nos EUA, como acordos coletivos, redução de jornada e concessão de férias.
Houve também suspensão de contratos de trabalho em alguns casos, enquanto fornecedores e clientes renegociam volumes e preços.
‘Decisões difíceis’ e busca de alternativas, diz sindicato
O presidente do Sindusmobil, Luiz Carlos Pimentel, afirmou que a piora no cenário externo atingiu diretamente as indústrias exportadoras da região.
Segundo ele, parte delas está sem previsão de geração de caixa futuro, o que leva a cortes emergenciais.
Em suas palavras, as empresas “se veem obrigadas [a] tomar decisões mais difíceis, como redução do quadro de funcionários”.
Na tentativa de mitigar perdas, o sindicato relata que associadas buscam novos mercados e reforçam a prospecção internacional.
A expansão para outros destinos, contudo, exige tempo, certificações específicas, adequação de linhas e custos logísticos, o que limita uma substituição rápida do mercado norte-americano.
Medidas do governo catarinense para conter o impacto
Em agosto, o Governo de Santa Catarina anunciou um pacote emergencial de R$ 435 milhões para apoiar empresas impactadas pelas novas tarifas.
O conjunto inclui medidas tributárias e financeiras com o objetivo de preservar mais de 70 mil empregos vinculados às indústrias mais expostas.
Entre as frentes previstas estão a liberação de créditos de exportação, a postergação de ICMS e linhas de financiamento por meio de bancos de fomento.
A administração estadual informa que acompanha os números do emprego no setor, em diálogo com sindicatos e associações empresariais.
A avaliação é que o polo moveleiro do Norte do estado merece atenção prioritária por concentrar uma parcela relevante das exportações a clientes norte-americanos.
O que diz a Artefama
A Artefama reiterou, em comunicado, que a reestruturação é necessária para preservar a operação e manter a presença da companhia no município.
“Essa foi uma decisão difícil, mas necessária para garantir que continuemos produzindo e mantendo nossa presença no município”, informou a empresa.
A nota conclui que a companhia seguirá “comprometida com esta comunidade” e confiante na retomada após o ajuste.