A Embrapa desenvolveu cultivares resistentes para proteger a banana da extinção causada pela murcha de Fusarium. Conheça os detalhes da pesquisa, os riscos da doença e como o Brasil se prepara para enfrentar essa ameaça.
A banana, uma das frutas mais consumidas no mundo e símbolo da alimentação cotidiana dos brasileiros, enfrenta um risco real de extinção comercial. O perigo vem da murcha de Fusarium, doença capaz de devastar plantações inteiras em poucos anos. O desafio é tão grande que o pesquisador Edson Perito, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), descreve a luta contra o fungo como “lutar com um tanque de guerra”. A gravidade está no poder de permanência do microrganismo, que continua ativo no solo por até 50 anos.
O que é a murcha de Fusarium e como atua?
Antes chamada de mal do Panamá, a murcha de Fusarium é causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. cubense.
O patógeno se espalha pelo solo e pela água, e seu mecanismo de sobrevivência ocorre através da formação de estruturas resistentes chamadas clamidósporos.
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Essa capacidade permite que o fungo “hiberne” e permaneça no ambiente mesmo sem a presença de bananeiras.
Atualmente, os especialistas dividem a doença em três tipos principais: a raça 1, a raça 4 subtropical e a raça 4 tropical.
Entre elas, a mais agressiva é a tropical, já registrada em países da América Latina, como Colômbia, Peru e Venezuela.
Extinção da banana: A situação do Brasil
No Brasil, a raça 1 já provocou grandes prejuízos. Ela foi a principal responsável pela queda drástica na produção da banana-maçã, considerada extremamente suscetível.
As bananas do tipo prata, por outro lado, apresentaram mais resistência, enquanto as nanicas conseguiram se manter produtivas, ainda que sob risco.
Também já existe a presença da raça 4 subtropical em território nacional, especialmente em regiões do Sul e Sudeste.
No entanto, sua ação costuma ser limitada, já que depende de baixas temperaturas para se manifestar de forma intensa.
O maior temor está na entrada da raça 4 tropical. Ainda não há casos confirmados no Brasil, mas especialistas acreditam que é apenas uma questão de tempo.
Como explica Perito, a disseminação pode ocorrer de maneira simples, até mesmo pelo solado de um sapato.
Estratégia da Embrapa
Para evitar uma catástrofe na bananicultura brasileira, a Embrapa decidiu apostar em um caminho considerado mais seguro: o melhoramento genético.
Desde 2022, testes vêm sendo realizados na Colômbia em parceria com a AgroSavia, a Corporação Colombiana de Pesquisa Agropecuária, e com a Associação de Bananeros da Colômbia (Augura).
Os experimentos mostraram que as variedades BRS Princesa, BRS Platina e BRS Gerais resistiram ao ataque da raça 4 tropical. Menos de 1% das plantas dessas cultivares apresentou sintomas da doença, resultado que classificou as três como resistentes.
Com esse avanço, Perito reforça que a fruta não desaparecerá:
“O que a gente pode dizer a partir disso é que não, a banana não vai ser extinta com a raça 4 tropical de Fusarium. A Embrapa está colaborando com a produção de banana mundial, não só brasileira, desenvolvendo cultivares que são resistentes a essa doença”.
BRS Princesa: resistência e mercado consolidado
Entre as variedades apresentadas pela Embrapa, a BRS Princesa é uma das mais promissoras.
Essa cultivar de banana-maçã se tornou a primeira de seu tipo a apresentar resistência não só à raça 4 tropical, mas também à raça 1, responsável por dizimar plantações dessa fruta no país.
Nos últimos anos, a Princesa conquistou espaço significativo no mercado.
De acordo com informações de técnicos da Ceagesp, quase 100% das bananas-maçã comercializadas atualmente em São Paulo já pertencem a essa cultivar. A aceitação tanto por produtores quanto por consumidores é considerada alta.
BRS Platina: presença forte no segmento prata
Outra aposta da Embrapa é a BRS Platina, uma cultivar de banana-prata, o tipo mais plantado e consumido no Brasil.
Atualmente, cerca de 50% dos 456 mil hectares de banana cultivados no país correspondem a esse grupo.
Apesar da resistência comprovada ao Fusarium, a Platina ainda enfrenta alguns entraves comerciais.
Seu tempo de amadurecimento nas prateleiras é mais longo, o que a torna menos competitiva em relação à Prata-Anã, preferida pelo mercado.
Mesmo assim, representa uma alternativa segura e viável para enfrentar a ameaça da doença.
BRS Gerais: a novidade programada para 2026
A terceira variedade resistente é a BRS Gerais, considerada uma evolução da Platina.
Essa cultivar foi desenvolvida para se aproximar ainda mais da tradicional Prata-Anã, tanto no sabor quanto no aroma e na vida de prateleira.
Embora ainda não esteja disponível para comercialização, seu lançamento oficial já está previsto para 2026.
O registro junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária foi concluído recentemente, consolidando a expectativa de que a Gerais se torne uma das principais armas do Brasil contra a murcha de Fusarium.
A Embrapa iniciou estudos para desenvolver variedades resistentes da banana-nanica, responsável por grande parte das exportações brasileiras.
Os primeiros resultados são animadores e, em breve, poderão surgir novas opções de cultivo com alta resistência à doença.
Se confirmada a eficácia, essa inovação garantirá ao Brasil não apenas a continuidade da produção interna, mas também a manutenção de sua competitividade no comércio internacional de frutas.
Resistência a outras doenças
Além da tolerância às diferentes raças do Fusarium, as três cultivares apresentadas pela Embrapa demonstraram resistência ao fungo causador da Sigatoka-amarela.
Essa doença exige uso intenso de fungicidas no manejo convencional, mas com as novas variedades, a necessidade de defensivos cai significativamente.
Segundo Perito, essa característica reforça o caráter sustentável da pesquisa, já que reduz os custos de produção e diminui os impactos ambientais.
A descoberta oferece alternativas viáveis para produtores nacionais e internacionais e fortalece a segurança alimentar.