Brasil elimina tarifas de importação sobre carne, açúcar, milho e café para conter alta de preços. Medida pode reduzir inflação e impactar a mesa de milhões de famílias.
Em 13 de março de 2025, o governo brasileiro anunciou oficialmente a eliminação temporária das tarifas de importação sobre nove produtos essenciais da cesta de consumo nacional — entre eles carne, açúcar, milho e café. A medida, publicada em portaria interministerial, foi apresentada como resposta emergencial à escalada de preços dos alimentos, que vinha pressionando a inflação e comprometendo o poder de compra de milhões de famílias.
A medida, que já vinha sendo discutida nos bastidores, foi confirmada após forte pressão inflacionária e diante do temor de que o tarifaço americano contra produtos brasileiros pudesse gerar efeitos colaterais ainda maiores na economia interna. Ao abrir mão de parte da arrecadação, o Brasil aposta em segurar os preços internos e preservar o poder de compra da população.
Por que o Brasil decidiu zerar as tarifas?
A inflação dos alimentos voltou a preocupar em 2025. Com a combinação de choques internacionais, tarifas impostas pelos EUA sobre exportações brasileiras e variações nos custos logísticos, itens básicos da cesta de consumo das famílias sofreram reajustes expressivos.
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Um exemplo é a carne bovina, que já acumulava alta de dois dígitos no último ano, pressionada pelo aumento das exportações e pela menor oferta no mercado interno.
O açúcar e o milho, altamente demandados no mercado global, também puxaram os preços para cima. Diante desse cenário, o governo decidiu agir para evitar um efeito dominó que poderia encarecer ainda mais os alimentos industrializados.
Ao zerar as tarifas de importação, a expectativa é que os produtos cheguem ao país a custos mais competitivos, forçando uma redução ou estabilização nos preços finais ao consumidor.
Produtos contemplados na medida
A lista anunciada inclui nove itens que estão diretamente relacionados ao consumo doméstico e à indústria alimentícia:
- Carne bovina, suína e de aves: proteína fundamental na mesa dos brasileiros, mas pressionada pelo aumento das exportações.
- Açúcar e milho: base da cadeia produtiva de alimentos e insumos importantes para a indústria de bebidas e rações.
- Café: mesmo sendo o maior produtor e exportador do mundo, o Brasil sofre com pressões de preços internos, e a medida busca estabilizar o consumo local.
- Óleo de girassol e azeitona: insumos usados na cozinha e também em produtos industrializados.
- Sardinha: proteína acessível para famílias de baixa renda, mas impactada por quedas na produção local.
- Biscoitos e massas: produtos de consumo direto que refletem variações no preço de trigo e milho.
Essa cesta de alimentos foi escolhida estrategicamente para atingir tanto a base da alimentação popular quanto a indústria de transformação, garantindo um efeito em cadeia sobre diversos segmentos.
Impacto esperado na inflação
De acordo com economistas consultados pelo setor, a medida pode reduzir entre 0,3 e 0,5 ponto percentual no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) nos próximos meses, caso a importação de fato aumente e os preços cheguem mais baixos ao consumidor.
Por outro lado, há o risco de que a medida tenha efeitos limitados, caso os preços internacionais continuem elevados ou se o câmbio se mantiver pressionado. O dólar forte ainda pesa sobre o custo de importação, o que pode reduzir parte do impacto positivo esperado.
Reações do mercado e do setor produtivo
A decisão gerou reações divergentes. Indústrias de alimentos e associações de supermercados elogiaram a medida, destacando que ela pode reduzir custos e evitar que produtos básicos continuem subindo de forma insustentável.
Já produtores rurais e representantes do agro demonstraram preocupação. Para eles, a importação de alimentos sem tarifas pode aumentar a concorrência externa e pressionar a renda de produtores nacionais, principalmente em setores mais vulneráveis como milho e trigo.
O governo, no entanto, garantiu que a medida é temporária e será reavaliada conforme os efeitos na inflação e no mercado interno.
O contexto internacional
A decisão do Brasil não ocorreu em isolamento. A guerra comercial entre EUA e seus parceiros, com a imposição de tarifas sobre café, açúcar e outros produtos, criou um ambiente de incertezas no comércio internacional. Ao mesmo tempo, a demanda asiática por alimentos segue forte, pressionando ainda mais os preços globais.
Nesse contexto, o Brasil tenta equilibrar dois papéis: fornecedor estratégico de alimentos no cenário global e, ao mesmo tempo, garantidor da segurança alimentar da própria população. A abertura de importações sem tarifas é uma tentativa de reduzir o choque inflacionário interno sem comprometer a posição do país como exportador.
O que esperar daqui para frente
Especialistas afirmam que os próximos meses serão decisivos para avaliar o sucesso da medida. Se os preços internos estabilizarem, o governo poderá estender a isenção tarifária para outros produtos ou por mais tempo. Caso contrário, novas alternativas terão de ser estudadas, como ampliação de subsídios ou intervenção direta em cadeias produtivas.
O que fica claro é que a alimentação se tornou um dos principais campos de batalha da política econômica brasileira. Em um país em que mais de 60% da inflação medida pelo IPCA está diretamente ligada a alimentos e energia, qualquer movimento nessa área gera repercussões imediatas na vida de milhões de pessoas.
A decisão do Brasil de eliminar tarifas de importação sobre alimentos essenciais é, acima de tudo, um ato de defesa interna em meio a um cenário de choques externos e pressões globais. Ao abrir mão da arrecadação para tentar conter os preços, o governo busca aliviar a vida das famílias, mas corre o risco de enfrentar críticas de produtores nacionais.
Seja como for, a medida reforça o papel central do país na geopolítica dos alimentos: ao mesmo tempo em que abastece o mundo, precisa garantir que sua própria população tenha acesso à mesa de forma estável e acessível.