Quando meteoritos caíram no sertão de Pernambuco, cientistas descobriram relíquias de bilhões de anos e moradores viram uma chance rara de lucro imediato.
Em agosto de 2020, o céu do sertão pernambucano foi palco de um fenômeno raro e inesquecível. Fragmentos espaciais vindos do Cinturão de Asteroides cruzaram a atmosfera da Terra em alta velocidade e caíram sobre a cidade de Santa Filomena, no interior de Pernambuco.
O que começou como uma curiosidade astronômica se transformou em uma verdadeira corrida por pedras espaciais.
A origem da chuva cósmica
Entre Marte e Júpiter, existe uma imensa faixa de rochas em órbita chamada Cinturão de Asteroides. Formada por bilhões de corpos celestes, essa região costuma manter seus fragmentos girando ao redor do Sol.
-
Esse cara entrou para a história ao derrotar o ChatGPT no jogo de xadrez sem perder nenhuma peça, e ainda fez piada
-
Cientistas liberam 200 mil larvas de ostras no mar e o motivo por trás disso vai te surpreender
-
A Guerra Fria foi tão tensa que os EUA testaram aviões contra bombas nucleares em megatorre de madeira sem um único parafuso ou prego
-
Starlink de Elon Musk se populariza entre motoristas no Brasil, mas instalação incorreta pode levar à retenção do veículo, alerta PRF
Mas, de tempos em tempos, algumas dessas rochas se desprendem de sua rota habitual. Em 2020, parte desses pedaços errantes caiu na Terra, entrando na atmosfera com tamanha velocidade que se incendiaram com o atrito dos gases.
Esses corpos celestes receberam o nome de meteoros. Parte deles foi completamente pulverizada, mas cerca de 80 quilos conseguiram resistir ao calor e ao impacto.
No dia 19 de agosto daquele ano, esses meteoritos tocaram o solo brasileiro, mais precisamente em Santa Filomena e arredores, marcando um momento histórico para a cidade.
Do espaço para os telhados
O episódio ganhou repercussão nacional e internacional. Especialistas, curiosos e caçadores de meteoritos vieram de várias partes do mundo para acompanhar o fenômeno e tentar adquirir um pedaço do espaço.
Um dos fragmentos mais importantes foi encontrado no telhado da casa de uma moradora da cidade. Com 2,8 quilos, a rocha foi batizada de Meteorito Santa Filomena e passou a integrar o acervo do Museu Nacional.
A descoberta chamou atenção não só pelo tamanho, mas principalmente por suas características científicas. Exames químicos revelaram que o meteorito tem 4,56 bilhões de anos, o que o torna mais antigo que qualquer pedra encontrada na Terra. Sua composição inclui quatro minerais, um deles chamado troilita, que não existe naturalmente em nosso planeta.
Velocidade e resistência
Os pesquisadores também estimaram que a rocha entrou na atmosfera a uma velocidade de 54 mil quilômetros por hora. A aparência externa do meteorito comprova essa jornada violenta: sua crosta apresenta marcas, queimaduras e rachaduras profundas.
Um pedaço chegou a se soltar no impacto com o telhado. Ainda assim, a pedra sobreviveu ao seu longo percurso e foi recolhida a tempo de ser estudada.
A pesquisadora Amanda Tosi destacou a importância da rápida recuperação do meteorito. Segundo ela, muitas dessas rochas se perdem com o tempo, pois, ao caírem, podem acabar sendo confundidas com pedras comuns. “Esse fragmento está fresco, não vai sofrer com as intempéries, como chuva, a erosão”, explicou ela.
Negócio no sertão
Enquanto cientistas analisavam os meteoritos, outro fenômeno acontecia nas ruas de Santa Filomena. A cidade virou centro de comércio improvisado. Moradores que encontraram as pedras começaram a vendê-las para estrangeiros que ofereciam dinheiro em espécie. A única pousada da cidade virou ponto de encontro entre vendedores e compradores.
No início, o grama das pedras era vendido por c Com o aumento da procura, o valor chegou a R$ 40 por grama. Muitas famílias locais, sem saber o real valor científico dos fragmentos, viram naquelas rochas uma oportunidade única de faturar.
Mercado internacional e lucros altos
O nome mais citado entre os compradores foi o do norte-americano Michael Farmer, conhecido por adquirir meteoritos pelo mundo. Ele montou um catálogo com mais de 35 fragmentos de Santa Filomena, que divulgava em sua página no Facebook. As pedras chegavam a ser vendidas por valores bem acima do praticado localmente.
Um exemplo foi uma peça de 8,98 gramas, vendida por US$ 270 — o equivalente a R$ 2.400 na cotação da época. Já uma pedra de 235 gramas foi anunciada por US$ 4.700, o que ultrapassava R$ 26 mil. Os preços, que variavam de acordo com o tamanho e a qualidade da pedra, mostraram como o episódio havia gerado lucro para quem soube negociar.
Ciência e comércio lado a lado
A chuva de meteoros que atingiu Santa Filomena ficou marcada por dois caminhos distintos. De um lado, a ciência celebrou a descoberta de um artefato raro, com valor histórico e geológico incalculável.
Do outro, moradores e caçadores viram a oportunidade de transformar pedras espaciais em dinheiro, muitas vezes sem saber exatamente o que tinham em mãos.
Cinco anos após o evento, o caso ainda repercute. A cidade de Santa Filomena passou a ser lembrada como o lugar onde o céu despejou rochas valiosas no meio do sertão.
A imagem de pessoas caminhando com fragmentos nas mãos, negociando valores com estrangeiros em frente a uma pousada, permanece viva na memória dos que presenciaram aquele agosto incomum.
Hoje, o Meteorito Santa Filomena segue em exibição no Museu Nacional e continua sendo estudado por especialistas. Ao mesmo tempo, fragmentos vendidos naqueles dias ainda circulam pelo mundo, em coleções particulares e catálogos online.
O céu que trouxe ciência também trouxe oportunidade, e Santa Filomena ficou para sempre gravada na história das grandes quedas de meteoritos do planeta.