Em vídeo no YouTube, o professor José Kobori comenta dúvidas recorrentes sobre Drex e Pix Garantido, discute digitalização do dinheiro, tokenização e gravames, e aborda receios de confisco e vigilância estatal sob a ótica do sistema financeiro.
O Drex, moeda digital em desenvolvimento pelo Banco Central, tem sido alvo de interpretações alarmistas e mitos sobre confisco de recursos e controle estatal.
A perspectiva apresentada por José Kobori, professor e especialista em finanças corporativas, foi exposta em vídeo publicado em seu canal no YouTube, no qual ele responde à pergunta de uma espectadora e contextualiza o tema.
Segundo o educador, os receios mais comuns decorrem de confusões sobre como funcionam o Pix Garantido e a própria arquitetura do Drex.
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Drex em foco e a origem da dúvida
A conversa parte de uma mensagem enviada por Jéssica Rego, de Fortaleza, Ceará, que associa o debate sobre digitalização do dinheiro à lembrança do confisco da poupança no governo Collor, em 1990.
De acordo com Kobori, a pergunta traduz uma inquietação frequente entre usuários que acompanham novidades como o parcelamento via Pix.
Conforme explicou, é importante separar o que é inovação de pagamento do que é moeda digital de banco central, pois os objetivos e impactos são distintos.
Pix Garantido: parcelamento com juros menores
No vídeo, o professor detalha o Pix Garantido como modalidade semelhante ao parcelamento no cartão de crédito, porém com juros potencialmente menores e com o banco garantindo o pagamento ao comerciante.
Ele pontua que a instituição financeira assume o risco e passa a cobrar as parcelas do cliente, após avaliar renda e histórico de conta.
“Não faz sentido associar isso a um confisco de poupança. É apenas uma inovação de crédito dentro do sistema bancário”, como destacou o especialista.
Segundo Kobori, a lógica é conhecida: o estabelecimento recebe, o banco quita e o consumidor paga em parcelas definidas, com encargos sob regra clara.
O que é o Drex: tokenização e liquidação mais ágil
Ao tratar do Drex, Kobori afirma que a proposta não implica emitir moeda digital diretamente do Banco Central para o cidadão.
De acordo com ele, a ideia envolve tokenização de ativos e liquidação financeira mais rápida, com a participação dos bancos na intermediação.
Conforme o professor, essa estrutura melhora a eficiência de processos que hoje são burocráticos e lentos, sem alterar direitos de propriedade nem ampliar poderes extraordinários do Estado sobre o saldo das pessoas.
Ele ainda comentou que a tecnologia se concentra em registrar e liquidar transações de modo mais seguro e automatizado, o que tende a reduzir custos operacionais e falhas de reconciliação.
Gravames, veículos, imóveis: menos burocracia, mais automação
Um ponto destacado no vídeo é o potencial do Drex para automatizar a baixa de gravames em bens financiados, como carros e imóveis.
Segundo Kobori, quando o consumidor quita o financiamento, a retirada da alienação fiduciária poderá ser processada de forma quase imediata, por meio dos registros tokenizados.
Ele observa que já participou de projetos ligados a esse tipo de solução no mercado financeiro e imobiliário e que os ganhos esperados estão principalmente na redução de etapas e de atritos documentais.
“A atualização será automática com a tokenização de gravames”, sintetiza, ao reforçar o caráter pragmático da mudança.
Autoritarismo, privacidade e o argumento do controle estatal
Entre as críticas ouvidas por Kobori, está a ideia de que uma moeda digital permitiria ao Estado monitorar gastos individuais de forma total.
Para o professor, esse raciocínio ignora que as operações no sistema bancário já são registradas e supervisionadas por normas de compliance e prevenção à lavagem de dinheiro.
“Sempre aparece esse discurso de que o Estado vai vigiar tudo, mas não faz sentido essa preocupação, a não ser que alguém esteja fazendo algo errado”, afirmou.
Como destacou, transações ilícitas costumam preferir o dinheiro em espécie, que dificulta rastreamento.
“Criminosos preferem transações em dinheiro vivo para esconder a origem dos recursos. Quando tudo estiver no sistema, será mais difícil lavar dinheiro”, acrescentou, ao comparar o ambiente atual com um cenário de maior digitalização.
Confisco e a memória do Plano Collor
O paralelo com 1990 reaparece recorrentemente nos comentários do público, segundo o vídeo.
De acordo com José Kobori, atribuir ao Drex a possibilidade de confisco é um equívoco de causalidade.
Ele frisou que medidas extremas de retenção de recursos são decisões políticas e legais, independentes do meio tecnológico utilizado para registrar saldos.
“Se essa fosse a intenção, poderia ser feita de qualquer forma, independentemente da tecnologia. Não é o Drex que cria essa possibilidade”, afirmou.
Conforme o professor, a comparação adequada exige considerar o arcabouço institucional e o conjunto de regras vigentes, não o formato — papel-moeda, depósito bancário ou representação tokenizada — do dinheiro.
O que muda para o cidadão comum
No material publicado no canal de José Kobori no YouTube, o especialista argumenta que a maior parte dos brasileiros já mantém seus recursos no sistema bancário, sem guardar grandes quantias em papel.
Ele resume a percepção de impacto cotidiano ao dizer que, para quem cumpre a lei e declara renda, a digitalização não altera princípios básicos de propriedade e acesso.
“Qual a diferença entre ter R$ 100 mil em espécie ou na conta, em moeda digital? Para quem age de forma honesta, não muda nada”, disse.
Segundo Kobori, temores persistentes costumam refletir memórias econômicas traumáticas e a circulação de conteúdos que exageram riscos.
Como enfatizou, o debate sobre Drex e Pix Garantido deve se concentrar em custos, eficiência, liquidação e segurança, e não em narrativas alarmistas.
Ele ainda comentou que a inovação tende a tornar processos mais transparentes, com registros precisos e integração entre instituições, o que aumenta a confiabilidade das operações.
Papéis dos bancos e comunicação pública
Kobori observa que a presença de intermediários financeiros permanece relevante no desenho do Drex.
De acordo com sua análise, os bancos seguirão realizando avaliação de crédito, gestão de risco e atendimento, além de competir em taxas e serviços.
Conforme relatado no vídeo, esclarecimentos públicos de autoridades do Banco Central têm buscado corrigir interpretações equivocadas sobre o modelo e seu estágio de desenvolvimento.
Ele reforça que discussões técnicas devem ser tratadas com linguagem clara, para evitar que conceitos como tokenização e liquidação instantânea sejam confundidos com “controle” ou “confisco”.
“Quem não deve, não teme”, resumiu, ao criticar conteúdos que propagam pânico sobre o tema.
Por fim, Kobori incentiva que dúvidas legítimas sejam respondidas com informação de qualidade, destacando que educação financeira ajuda a separar fatos de boatos.
Diante desse cenário, qual é a sua avaliação sobre o avanço do Drex: você enxerga mais ganhos de eficiência ou mais riscos, e por quais razões específicas considera isso relevante para o seu dia a dia?