Brasil enfrenta o impasse da dívida bilionária da Venezuela com o BNDES, sem pagamentos desde 2018. O rombo já ultrapassa R$ 10 bilhões
Entre 2007 e 2015, o Brasil destinou bilhões de reais para financiar grandes obras na Venezuela. A promessa era de ganhos estratégicos, expansão das empresas brasileiras e fortalecimento das relações entre os dois países.
Hoje, a realidade é outra: uma dívida que ultrapassa R$ 10 bilhões, sem garantias de retorno, e que levanta uma pergunta inevitável — o que fazer diante desse impasse?
O peso de uma dívida sem pagamento
Os contratos financiados pelo BNDES envolveram desde a expansão do metrô de Caracas e Los Teques até a construção de um estaleiro e da Usina Siderúrgica Nacional.
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Empresas como Odebrecht e Andrade Gutierrez foram protagonistas dessas obras, muitas das quais nunca chegaram a ser concluídas.
Com a crise venezuelana e o colapso de sua economia, os pagamentos pararam em 2018. Desde então, os juros de mora não param de crescer.
Apenas nos três primeiros meses de 2025, o valor subiu US$ 53 milhões, atingindo a marca de US$ 1,766 bilhão — algo superior a R$ 10,3 bilhões.
Essa conta está sendo parcialmente coberta pelo Fundo de Garantia à Exportação (FGE), abastecido pelo Tesouro Nacional, o que significa que o contribuinte brasileiro já paga por esse prejuízo.
Um problema que vai além da Venezuela
A inadimplência não é exclusividade de Caracas. Cuba e Moçambique também deixaram de honrar compromissos, acumulando juntas mais de US$ 1,2 bilhão em dívidas.
Em Cuba, por exemplo, o Brasil financiou o Porto de Mariel em mais de R$ 4 bilhões, tendo como garantia a produção de charutos.
Em Moçambique, os recursos bancaram o Aeroporto de Nacala e a Barragem de Moamba Major.
O padrão se repete: grandes obras, empreiteiras brasileiras envolvidas em escândalos de corrupção, e pouca transparência sobre o retorno real desses investimentos.
O que fazer agora?
A questão central para o Brasil não é mais apenas contabilizar o prejuízo, mas decidir como agir diante da dívida. Há pelo menos três caminhos em discussão:
- Negociar uma reestruturação da dívida
O governo brasileiro, especialmente sob Lula, insiste que “no fim, todos acabam pagando”. Isso abre espaço para alongar prazos, trocar garantias ou mesmo aceitar bens e ativos venezuelanos como forma de pagamento. - Executar garantias e pressionar via instâncias internacionais
Em alguns casos, como em Cuba, foram oferecidas garantias concretas — mas na Venezuela, não há clareza sobre ativos que possam ser executados. A alternativa seria recorrer a organismos multilaterais para pressionar Caracas, embora isso envolva custos diplomáticos. - Assumir a perda e evitar novos erros
A terceira opção é reconhecer que parte desse dinheiro dificilmente será recuperada. Nesse cenário, a prioridade seria reformar as regras do BNDES para impedir que financiamentos externos, usados como instrumento político, voltem a gerar rombos bilionários sem contrapartida para os brasileiros.
O risco da reincidência
De 1998 a 2017, o BNDES liberou R$ 55 bilhões para projetos em países estrangeiros, sendo 88% apenas entre 2007 e 2015, durante os governos Lula e Dilma.
Críticos apontam que, mais do que estratégia econômica, esses recursos funcionaram como apoio a governos aliados, com pouca atenção à capacidade real de pagamento.
O problema atual é que o Brasil precisa de mais de 850 quilômetros de metrôs e trens urbanos para atender sua própria demanda. Enquanto isso, bilhões foram parar em obras inacabadas na Venezuela e em outros países.
Entre pragmatismo e política
A dívida da Venezuela com o Brasil não é apenas uma questão contábil — ela envolve diplomacia, credibilidade internacional e o uso responsável do dinheiro público.
O governo pode insistir em negociar, mas sem garantias sólidas, o risco é prolongar uma novela que já dura quase uma década. Por outro lado, aceitar a perda seria admitir um erro político e econômico de proporções históricas.
O desafio para o Brasil, portanto, é equilibrar pragmatismo e política: cobrar o que é devido, evitar novos financiamentos sem garantias e, sobretudo, priorizar investimentos internos que tragam benefícios concretos à população brasileira.
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