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‘Desova chinesa’ no Brasil: ofensiva de Xi Jinping combina produtos baratos, acordos bilaterais e influência geopolítica sobre países emergentes

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 12/08/2025 às 10:29
governo chinês injetou US$ 2 trilhões para expandir produção em energia limpa, elétricos e semicondutores
governo chinês injetou US$ 2 trilhões para expandir produção em energia limpa, elétricos e semicondutores
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‘Desova chinesa’: como as tarifas de Trump podem empurrar produtos para o Brasil. Guerra comercial entre EUA e China redireciona excedente de produção para a América do Sul, e Brasil vira alvo preferencial

A desova chinesa ganhou novo impulso com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Em 2025, o republicano retomou a escalada de tarifas contra produtos de alta tecnologia vindos da China, atingindo especialmente veículos elétricos, painéis solares e máquinas industriais. Sem espaço nos mercados tradicionais, Pequim está reposicionando sua produção para regiões com menor barreira comercial — e o Brasil já sente os efeitos diretos dessa mudança.

Segundo projeções da Organização Mundial do Comércio (OMC), as exportações chinesas para a América do Sul devem crescer 9% neste ano, o maior avanço entre todas as regiões. No centro dessa nova rota, o Brasil combina grande mercado consumidor, logística consolidada e acordos comerciais que tornam o país especialmente atraente para empresas chinesas.

Por que a desova chinesa está se acelerando

A China responde por mais de 30% de toda a produção industrial do planeta. Nos últimos anos, o governo chinês injetou cerca de US$ 2 trilhões em crédito para expandir fábricas em setores estratégicos como mobilidade elétrica, energia limpa e semicondutores. O problema é que o consumo interno desacelerou desde 2021, afetado pela bolha imobiliária e pela queda de renda da classe média.

Com estoques acumulados e margens pressionadas, as empresas adotam a estratégia clássica: exportar. No entanto, o aumento das tarifas impostas por Trump e medidas similares na Europa e no México estão obrigando a China a buscar mercados alternativos, acelerando o fluxo para a América Latina.

O impacto no setor automotivo brasileiro

O exemplo mais visível da desova chinesa está no setor automotivo. Em 2023, a China ultrapassou Japão e Alemanha, tornando-se o maior exportador de carros do mundo. Montadoras como BYD e GWM não apenas ampliaram as vendas para o Brasil — hoje 85% dos carros elétricos importados no país vêm da China — como também instalaram fábricas locais, assumindo plantas desativadas de Ford e Mercedes-Benz.

A Anfavea, associação que representa as montadoras estabelecidas no Brasil, acusa as chinesas de praticar dumping, vendendo veículos abaixo do custo real com apoio estatal para conquistar participação de mercado. O receio é que, em poucos anos, marcas tradicionais percam espaço para modelos mais baratos e tecnologicamente avançados vindos da China.

Energia solar e o efeito repetido

A trajetória dos painéis solares é um alerta sobre como a desova chinesa pode remodelar setores inteiros. Após tarifas pesadas dos EUA durante o primeiro mandato de Trump, a China reduziu preços e redirecionou exportações para países como o Brasil. Entre 2018 e 2023, o volume importado cresceu de forma explosiva, derrubando custos e consolidando um domínio absoluto: hoje, nove em cada dez painéis solares instalados no Brasil são chineses.

Mais do que comércio: estratégia geopolítica

O movimento não se limita a preço e escala. O governo chinês, liderado por Xi Jinping, investe em uma ofensiva diplomática que envolve financiamentos, infraestrutura e acordos de longo prazo. Em 2024, Brasil e China assinaram 37 acordos bilaterais, reforçando a ideia de “comunidade de futuro compartilhado” defendida por Pequim.

Para a China, conquistar mercados emergentes é também uma forma de ampliar influência geopolítica. Para o Brasil, a questão é equilibrar acesso a produtos e tecnologias mais baratos com a necessidade de proteger a indústria nacional.

Riscos e oportunidades

Especialistas alertam que a entrada massiva de produtos chineses pode enfraquecer cadeias produtivas locais, dificultando a sobrevivência de empresas nacionais em setores estratégicos. Por outro lado, consumidores e empresas brasileiras se beneficiam de preços mais baixos e acesso rápido a tecnologias avançadas.

A decisão que o Brasil terá de tomar não é simples: aproveitar a onda e integrar-se à cadeia global chinesa ou erguer barreiras para preservar competitividade interna.

Você acredita que o Brasil deve aproveitar a desova chinesa para modernizar sua economia ou criar barreiras para proteger a indústria nacional? Qual o caminho mais inteligente? Deixe sua opinião nos comentários.

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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