Assinado em 16 de setembro, o acordo Mercosul-EFTA cria uma zona de livre comércio. Especialistas veem chance de diversificar mercados e reduzir custos, mas a vigência depende de ratificação.
O Mercosul assinou na terça-feira, 16 de setembro de 2025, um acordo de livre comércio com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), formada por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça, durante cerimônia no Rio de Janeiro. O tratado estabelece uma zona de livre comércio que cobre quase 300 milhões de pessoas e um PIB combinado superior a US$ 4,3 trilhões, segundo comunicado conjunto oficial.
O texto é amplo e inclui regras para bens, serviços, investimentos, compras governamentais, propriedade intelectual, medidas sanitárias e fitossanitárias, solução de controvérsias e um capítulo de comércio e desenvolvimento sustentável. A expectativa é de melhor acesso a mercados para mais de 97% das exportações dos dois lados.
Para entrar em vigor, o acordo ainda precisa ser ratificado por todos os signatários. A Suíça, por exemplo, informou que submeterá o texto ao Parlamento; o governo estimou economia tarifária anual de mais de 155 milhões de francos suíços para suas empresas ao negociar com o Mercosul.
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O movimento ocorre em meio à tensão comercial com os Estados Unidos, após a elevação de tarifas por Washington sobre uma série de bens brasileiros, medida que já afetou fluxos como petróleo e carne bovina rumo ao mercado norte-americano.
O que muda para o Brasil, redução de tarifas, custos e possíveis efeitos nos preços
No curto prazo, empresas brasileiras tendem a se beneficiar da eliminação ou redução gradual de tarifas na EFTA, com foco em bens industriais, agropecuária, pesca e serviços. Ao baratear insumos industriais e simplificar procedimentos aduaneiros, o acordo pode reduzir custos de produção no Brasil — um efeito que, se repassado, ajuda a conter preços ao consumidor em segmentos específicos.
Para o agronegócio, o texto abre novas cotas e preferências que ampliam o acesso a mercados de alto poder aquisitivo como Suíça e Noruega. A previsibilidade e a segurança jurídica prometidas tendem a favorecer contratos de longo prazo e investimentos em rastreamento e sustentabilidade exigidos pelos compradores europeus.
Setores de serviços e compras públicas também ganham espaço. A abertura de licitações e regras claras para serviços digitais podem atrair pequenas e médias empresas brasileiras, tradicionalmente com mais dificuldade de internacionalização. PMEs são mencionadas como beneficiárias diretas no comunicado.
O governo brasileiro enquadra o acordo como parte de uma estratégia para diversificar mercados e expandir a rede de acordos desde 2023, citando o pacto com Singapura e a conclusão das tratativas com a União Europeia. Em nota oficial, Brasília classifica a assinatura como reforço ao multilateralismo e à cooperação internacional.
Diversificação e menor dependência dos EUA
Os Estados Unidos seguem entre os principais parceiros do Brasil, mas sua participação nas exportações brasileiras gira em torno de 12%. Relatório público recente confirma o peso atual dos EUA e aponta perda relativa de participação ao longo de duas décadas, reforçando a importância de diversificar destinos.
Em 2025, a tensão aumentou: tarifas adicionais de 50% anunciadas por Washington provocaram incerteza e suspensão de embarques de petróleo brasileiro; no caso da carne bovina, projeções indicam forte queda dos volumes para o mercado norte-americano após a mudança tarifária. Esses choques aceleram a busca por rotas alternativas.
Os dados mensais da balança do governo mostram que, em agosto de 2025, as exportações para os EUA caíram 18,5% frente ao mesmo mês do ano anterior. Com o acordo Mercosul-EFTA, empresas brasileiras ganham porta de entrada para mercados de alta renda menos sujeitos às oscilações políticas de Washington.
Na prática, a redução de risco de concentração geográfica pode suavizar impactos de barreiras repentinas e ampliar o poder de barganha do exportador brasileiro, inclusive em negociações de preço e prazos. Isso vale para cadeias como mineração, alimentos, proteínas, químicos, papel e celulose e manufaturas.
Regras, sustentabilidade e padrões técnicos
O acordo exige conformidade técnica em áreas sanitárias, ambientais e de rastreabilidade. Ajustes em qualidade, governança e compliance serão necessários para acessar compras governamentais e conquistar nichos de maior valor agregado nos países da EFTA.
A presença de um capítulo de desenvolvimento sustentável e dispositivos sobre barreiras técnicas ao comércio tende a aproximar práticas brasileiras de exigências europeias, o que pode facilitar, no futuro, o diálogo com a União Europeia e outros parceiros.
Para PMEs, a previsibilidade de regras e alfândega mais ágil é diferencial. Acordos que reduzem custos fixos e incertezas regulatórias costumam elevar a taxa de entrada de pequenas empresas no comércio exterior, ampliando competição e inovação.
E você, acredita que o acordo vai mesmo baratear produtos no Brasil ou o efeito ficará “travado” em quotas e exigências técnicas? Comente com sua opinião!