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Até o mouse está na mira: Itaú expõe como as empresas rastreiam quem trabalha de casa

Escrito por Caio Aviz
Publicado em 14/09/2025 às 19:58
Funcionário em home office sendo monitorado por múltiplas telas com gráficos e vídeo chamada
Trabalhador remoto diante de telas com gráficos de produtividade e vigilância, em referência às práticas de monitoramento digital reveladas pelo Itaú
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Mais de mil desligamentos revelam ferramentas de vigilância digital e reacendem debate sobre limites legais e privacidade no Brasil

O Itaú Unibanco anunciou em 8 de setembro de 2025 a demissão de cerca de mil funcionários, muitos em home office. A medida reacendeu a discussão sobre privacidade no trabalho remoto e expôs o uso de tecnologias de monitoramento digital.

Segundo o banco, a análise de desempenho durou quatro meses. Nesse período, gestores identificaram funcionários com apenas 20% de atividade digital diária. Além disso, alguns desses profissionais solicitaram horas extras, o que aumentou a polêmica.

Sistemas de monitoramento revelam rotina dos trabalhadores

Empresas de diversos setores já adotam ferramentas globais para controlar o tempo de conexão ao servidor. Essas soluções também mapeiam digitação e movimentos do mouse, além de rastrear aplicativos instalados e registrar a localização de dispositivos corporativos.

Além disso, alguns softwares conseguem capturar telas, áudios e vídeos em tempo real. Eles também detectam participações em chamadas de vídeo e mensagens enviadas e recebidas em canais corporativos.

A advogada Marília Minicucci, especialista em direito digital, explicou que essas práticas só encontram respaldo legal quando cumprem a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Portanto, a empresa precisa informar previamente os trabalhadores sobre a coleta e a finalidade dos dados.

Polêmicas jurídicas sobre câmeras e privacidade

Apesar da previsão legal, o uso de câmeras em residências gera os maiores conflitos. Conforme destacou Marília Minicucci, a prática pode violar o direito à inviolabilidade do domicílio, protegido pela Constituição.

Ela recomenda que gestores utilizem recursos de borragem de fundo para preservar a privacidade. Dessa forma, evitam transformar o ambiente do funcionário em um “big brother corporativo”.

Um caso recente ilustra a polêmica. A Justiça aceitou a exigência de câmera porque a empresa lidava com dados sensíveis de clientes. No entanto, a autorização ocorreu apenas porque o sistema utilizado borrava todo o cenário ao redor do trabalhador.

Conflito entre vida pessoal e profissional

Outro desafio aparece quando funcionários usam equipamentos corporativos de forma mista. Para a advogada, a solução é direta: proibir o uso pessoal de computadores e celulares fornecidos pela empresa.

Essa medida evita a chamada “zona cinzenta”, em que a fronteira entre vida privada e profissional desaparece. Assim, a proibição reduz riscos e previne conflitos de privacidade.

O Itaú afirmou que os critérios de avaliação não se restringiram ao uso de teclado e mouse. Além disso, o banco destacou que respeitou a LGPD e garantiu que não capturou telas, áudios ou vídeos durante o processo.

Sindicato aciona Justiça contra as demissões

Em 11 de setembro de 2025, o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região entrou com ação judicial contra o Itaú. A entidade questionou a transparência do processo de desligamento e criticou as justificativas apresentadas.

De acordo com o sindicato, a decisão afetou ao menos 380 trabalhadores sindicalizados. Entre eles estavam 85 que haviam recebido bonificações recentes por bom desempenho. Além disso, pelo menos cinco funcionários neurodivergentes em tratamento perderam seus cargos.

Durante plenária, os demitidos demonstraram indignação. Eles afirmaram que nunca receberam informações claras sobre os critérios de monitoramento utilizados pelo banco.

Produtividade em números

O Itaú apresentou dados para justificar as rescisões. Em uma área com 316 analistas, a média de atividade digital alcançou 72% ao longo de quatro meses.

Já os colaboradores desligados registraram entre 27% e 37% de atividade. Portanto, segundo a instituição, esses índices demonstraram baixa produtividade e embasaram os cortes.

Mesmo assim, o caso provocou repercussão social e jurídica. Além disso, abriu uma discussão sobre os limites entre gestão de produtividade, privacidade e dignidade do trabalhador.

O que está em jogo para o futuro do trabalho remoto

O episódio mostrou a necessidade de definir limites claros para o monitoramento digital. Especialistas avaliam que a tendência é de crescimento da prática, já que empresas querem manter eficiência em regimes híbridos ou remotos.

No entanto, sem regulamentações adicionais, aumentam os riscos de excessos e disputas judiciais. Por isso, juristas defendem que apenas uma governança transparente, baseada em comunicação clara e respeito à privacidade, evitará novos conflitos semelhantes.

Agora, a Justiça brasileira analisará não apenas a legalidade das demissões, mas também o modelo de monitoramento corporativo que deve prevalecer no país.

E você, acredita que o monitoramento digital é válido para manter a produtividade em home office, ou considera que ele ameaça diretamente a privacidade dos trabalhadores?

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Caio Aviz

Escrevo sobre o mercado offshore, petróleo e gás, vagas de emprego, energias renováveis, mineração, economia, inovação e curiosidades, tecnologia, geopolítica, governo, entre outros temas. Buscando sempre atualizações diárias e assuntos relevantes, exponho um conteúdo rico, considerável e significativo. Para sugestões de pauta e feedbacks, faça contato no e-mail: avizzcaio12@gmail.com.

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