Vendidos pela Petrobras, os campos de Polvo e Tubarão Martelo foram integrados com tie-back e dobraram a produção sob gestão da PRIO, virando case de sucesso.
Em um mercado onde ativos maduros costumam ser vistos como “fim de linha”, dois campos offshore vendidos pela Petrobras provaram que, com estratégia e tecnologia, ainda há muito valor a ser extraído. Os campos de Polvo e Tubarão Martelo, localizados na Bacia de Campos, foram adquiridos pela PRIO (ex-PetroRio) e integrados em uma operação ousada com uso da tecnologia tie-back — resultando em queda de custos e quase duplicação da produção em poucos anos.
Hoje, esse cluster se tornou referência nacional em revitalização de campos offshore, e mostra como ativos considerados marginais podem ser transformados em negócios altamente rentáveis sob uma nova gestão.
A trajetória: da desvalorização ao reposicionamento estratégico
O campo de Polvo foi adquirido pela PRIO ainda em 2013 (com participação majoritária), e o controle total veio em 2015. Já o campo de Tubarão Martelo, vizinho ao norte, foi adquirido em 2020, após a Petrobras e a Dommo Energia desmobilizarem o ativo.
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Ambos os campos estavam em declínio de produção e eram considerados ativos maduros, com alto custo por barril produzido. Mas a PRIO via neles uma oportunidade: a proximidade geográfica permitiria uma operação integrada, reduzindo custos e prolongando a vida útil dos reservatórios.
A virada tecnológica: o tie-back que mudou tudo
A aposta mais ousada da PRIO foi a instalação do tie-back, um sistema que interliga a produção de um campo a uma plataforma já existente em outro. Em julho de 2021, o cluster foi finalmente conectado: o óleo de Tubarão Martelo passou a ser escoado pela infraestrutura de Polvo, eliminando a necessidade de manter duas plataformas FPSO (navios de produção e armazenamento).
Com isso, os custos de operação despencaram e a eficiência disparou. Em apenas um ano após a integração, a produção do cluster cresceu aproximadamente 80% em relação à média anterior, com menor consumo de recursos e maior controle logístico.
Além disso, a PRIO investiu em novas perfurações, incluindo poços horizontais e tecnologias de recuperação avançada, ampliando o fator de recuperação dos dois campos.
Resultados operacionais que chamaram a atenção do mercado
Desde a união dos campos, a PRIO vem divulgando números cada vez mais expressivos. Em 2022, a produção combinada chegou a cerca de 20 mil barris por dia, sendo uma das maiores operações privadas em águas rasas do país.
O modelo implementado pela PRIO também foi replicado em outros ativos da empresa, como Frade e Albacora Leste, o que posicionou a companhia como uma das operadoras independentes mais relevantes do offshore brasileiro.
A integração logística e o foco em campos desvalorizados colocaram a PRIO como case de sucesso em reestruturação e revitalização de ativos de petróleo.
Mais eficiência, menos emissões e menor risco
O modelo tie-back também teve impactos ambientais positivos. Ao desativar uma plataforma FPSO, a empresa reduziu emissões de gases do efeito estufa, diminuiu a movimentação de embarcações de apoio e otimizou o uso de recursos.
Com menos estruturas no mar, o risco operacional e o custo de manutenção também caíram. Isso reforça uma tendência importante no setor: extrair mais de campos existentes, com menos infraestrutura e impacto ambiental.
Valorização financeira e reconhecimento do mercado
Os bons resultados operacionais do cluster Polvo + Tubarão Martelo contribuíram diretamente para a valorização das ações da PRIO (PRIO3) na Bolsa. A empresa saiu de uma atuação modesta em 2015 para uma posição de liderança entre as petroleiras privadas em menos de uma década.
Hoje, a PRIO opera com margens superiores à média do setor, graças ao controle de custos e ao foco em ativos com alto potencial de recuperação — mesmo quando vistos como “fim de linha” por grandes players.
O sucesso do cluster também atraiu interesse de investidores internacionais, que passaram a ver o Brasil como uma nova fronteira para operações privadas eficientes no offshore.
O futuro do cluster: novos poços e produção sustentável
A PRIO já anunciou que o cluster Polvo + Tubarão Martelo seguirá recebendo investimentos. Em 2023 e 2024, novas campanhas de perfuração foram realizadas, com foco em regiões de óleo não drenado (bypassed oil) e expansão da capacidade dos reservatórios.
O objetivo é manter a produção em alta até o final da década, com o menor custo possível por barril, aproveitando a infraestrutura instalada e o conhecimento geológico acumulado.
Além disso, a empresa vem estudando novas tecnologias de recuperação secundária (como injeção de água e gás) para aumentar ainda mais o fator de recuperação — prática comum em campos maduros bem gerenciados.
A história do cluster Polvo + Tubarão Martelo é uma prova clara de que ativos tidos como obsoletos podem ganhar nova vida com gestão inteligente, inovação e coragem para investir onde poucos acreditam.
Ao conectar os dois campos com tecnologia de tie-back, reduzir custos, dobrar a produção e transformar um passivo em um case de sucesso, a PRIO não apenas gerou valor para seus acionistas — mas também redesenhou o mapa do offshore privado no Brasil.
Em tempos de transição energética e pressão por eficiência, o que esse cluster representa vai além do petróleo: é a capacidade de reinventar o que já parecia esgotado.