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De R$ 27 mil para R$ 73 mil: como o carro mais barato do Brasil evoluiu de um Palio sem ar-condicionado para um C3 com central multimídia em 10 anos

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 10/10/2025 às 17:29
Em 10 anos, o carro mais barato do Brasil saltou de R$ 27 mil para R$ 73 mil. Veja como o “popular” sumiu e o que mudou no mercado.
Em 10 anos, o carro mais barato do Brasil saltou de R$ 27 mil para R$ 73 mil. Veja como o “popular” sumiu e o que mudou no mercado.
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Em dez anos, o preço de entrada do carro zero no Brasil saltou de R$ 27.590 para R$ 73.490.

Em 2015, o posto era do Fiat Palio Fire 1.0 de duas portas; em 2025, pertence ao Citroën C3 Live 1.0.

A elevação se explica por uma combinação de itens de segurança que viraram obrigatórios, novos padrões de equipamentos e reposicionamento das marcas — mudanças que deslocaram o conceito de “popular” para uma faixa de valor mais alta.

O Palio de R$ 27 mil: o que vinha — e o que ficava de fora

Lançado nos anos 2000, o Palio Fire atravessou gerações como porta de entrada da Fiat.

Em junho de 2015, a linha 2016 chegou às concessionárias por R$ 27.590 na configuração 1.0 duas portas, ou R$ 29.920 com quatro portas.

O atrativo principal era o preço.

O pacote básico trazia acabamento simples e equipamentos essenciais, mas sem confortos como ar-condicionado e direção hidráulica na versão mais barata.

Essas conveniências apareciam em séries e pacotes superiores, que elevavam o valor final acima dos R$ 30 mil.

Na virada para 2016, a Fiat manteve o foco em custo baixo no Fire e separou melhor os papéis: o “Novo Palio”, de projeto mais recente, oferecia ar-condicionado e direção hidráulica de série, enquanto o Fire segurava o preço com uma lista enxuta no modelo de entrada.

O posicionamento ajudou a manter o título de carro mais barato do país no período.

Em 10 anos, o carro mais barato do Brasil saltou de R$ 27 mil para R$ 73 mil. Veja como o “popular” sumiu e o que mudou no mercado. (Imagem: memoriamotor)
Em 10 anos, o carro mais barato do Brasil saltou de R$ 27 mil para R$ 73 mil. Veja como o “popular” sumiu e o que mudou no mercado. (Imagem: memoriamotor)

O C3 de R$ 73 mil e o novo patamar de equipamentos

O cenário atual é outro.

Em março de 2025, o Citroën C3 Live 1.0 assumiu a liderança entre os mais baratos com preço sugerido de R$ 73.490.

Ainda que ocupe a base da linha, ele já entrega ar-condicionado, direção elétrica, controle de estabilidade (ESC), assistente de partida em rampa, monitoramento de pressão dos pneus, vidros e travas elétricas.

A central multimídia com tela de 10 polegadas — destaque do título desta reportagem — é item de série nas versões superiores (Live Pack em diante); a versão Live não traz a tela de fábrica.

No retrovisor do ranking aparecem Renault Kwid Zen 1.0 e Fiat Mobi Like 1.0, ambos também reposicionados para patamares acima de R$ 77 mil na tabela de 2025.

A lista reforça que não há mais carro zero-quilômetro abaixo de R$ 70 mil no país.

Segurança obrigatória mudou a régua do “básico”

Duas viradas regulatórias ajudam a entender por que o carro mais barato hoje entrega mais — e custa mais.

A primeira foi a obrigatoriedade de airbags frontais e freios ABS, válida desde janeiro de 2014.

A segunda, mais recente, foi a exigência de controle eletrônico de estabilidade e outros recursos de segurança em todos os automóveis novos produzidos ou importados a partir de 1º de janeiro de 2024.

Essas medidas elevaram o padrão mínimo de segurança, algo impensável nos populares de dez anos atrás.

Além do pacote de segurança, modelos de entrada passaram a incorporar conectividade e conveniências valorizadas pelo consumidor, como direção elétrica, assistentes eletrônicos e, nas versões imediatamente acima das básicas, centrais multimídia com espelhamento sem fio.

O C3 é um exemplo: a tela de 10” aparece a partir do Live Pack, não na versão que fixa o menor preço de tabela.

Em 10 anos, o carro mais barato do Brasil saltou de R$ 27 mil para R$ 73 mil. Veja como o “popular” sumiu e o que mudou no mercado. (Imagem: memoriamotor)
Em 10 anos, o carro mais barato do Brasil saltou de R$ 27 mil para R$ 73 mil. Veja como o “popular” sumiu e o que mudou no mercado. (Imagem: memoriamotor)

Inflação x preço real: quanto encareceu o carro de entrada

Corrigir R$ 27.590 de 2015 pela inflação mostra parte do salto.

Considerando o IPCA acumulado entre meados de 2015 e setembro de 2025 — cerca de 75% —, aquele valor equivaleria hoje a algo em torno de R$ 48,4 mil.

Mesmo assim, o carro de entrada efetivamente mais barato do mercado está mais de R$ 25 mil acima desse montante, o que indica aumento real para além da inflação.

A conta usa o IPCA do IBGE como índice de referência e a metodologia da Calculadora do Cidadão do Banco Central.

Vários fatores empurraram os preços.

Além das normas de segurança, a indústria absorveu custos de emissões e de eletrônica embarcada, especialmente após a pandemia, quando cadeias de suprimentos ficaram pressionadas.

Montadoras também revisaram suas estratégias de portfólio, priorizando margens e itens de maior valor percebido.

O resultado foi o encolhimento do nicho que, nos anos 1990 e 2000, sustentava o conceito de “carro popular”.

Enquanto isso, o consumidor passou a encontrar na base versões com menos adereços, mas já munidas de segurança ativa e assistentes eletrônicos antes restritos a segmentos superiores.

Em paralelo, as telas e sistemas de entretenimento migraram para pacotes e versões um degrau acima, como no caso do C3 Live Pack, repetindo o que a Fiat fazia com os kits do Palio Fire na época.

Quem acompanha na base de preços

A fotografia de 2025 confirma a mudança de patamar.

O Kwid Zen aparece logo atrás do C3 com preço de tabela acima de R$ 77 mil, trazendo quatro airbags e rádio com conectividade.

O Mobi Like ronda a mesma faixa, com ar-condicionado, direção e ESC de série, mas sem central multimídia nas versões de entrada.

O “pacote mínimo” de hoje é, portanto, muito mais recheado do que o de 2015, e isso custa. O contraste entre o Palio Fire de R$ 27 mil e o C3 de R$ 73 mil expõe uma década de avanços técnicos e exigências legais que elevaram a régua do que se entende por “básico”.

Diante desse novo normal, o que você considera indispensável num carro de entrada: segurança completa de série ou uma central multimídia grande?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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