Conheça a trajetória impressionante da BR-116, uma estrada que conecta culturas, resolve gargalos logísticos e transformou o Brasil desde os anos 1930
A BR-116 é a principal rodovia longitudinal do Brasil, conectando extremos Norte e Sul do país. Com cerca de 4.600 km de extensão e atravessando 10 estados brasileiros (Ceará, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), liga a capital cearense Fortaleza ao município gaúcho de Jaguarão (na fronteira com o Uruguai).
Ao lado da BR-101, a BR-116 forma um dos principais eixos rodoviários do país, sendo a maior rodovia totalmente pavimentada do Brasil.
Por percorrer biomas diversos (como a Mata Atlântica, Cerrado e áreas semiáridas do Nordeste) e regiões estratégicas, a rodovia cumpre papel vital na integração territorial e no desenvolvimento econômico nacional.
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Planejamento e construção
O projeto da BR-116 surgiu nos anos 1920, como parte de uma política de integração nacional. No governo Washington Luís (1926-1930) foi criada a Comissão de Estradas de Rodagem Federais (CERF) para articular um plano rodoviário federal.
Em 1927 a União tomou a tarefa de planejar grandes estradas, e uma delas visava ligar o Norte ao Sul do país, interligando grandes capitais (Minas Gerais, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro).
Ocorreu, porém, inversão de prioridades: o trecho inicial foi aberto no Nordeste. Em 1933 foi inaugurada a ligação Fortaleza (CE)–Feira de Santana (BA), parte do que viria a ser a BR-116.
No Estado Novo (1937-1945), com a criação do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), acelerou-se a pavimentação: ainda na década de 1940 foi aberto o trecho de Feira de Santana (BA) até o Rio de Janeiro, então chamado “Rodovia Santos Dumont”.
Nos anos 1950 foi inaugurada a ligação entre Rio de Janeiro e São Paulo (Rodovia Presidente Dutra), entregue pelo presidente Dutra, tornando-se até hoje um dos trechos mais movimentados.
Em 1961 foi entregue o trecho entre São Paulo e Curitiba (Régis Bittencourt). A partir de 1967 iniciou-se a duplicação em vários trechos, transformando a BR-116 na principal autoestrada do país.
Nas décadas de 1970 e 1980 a malha foi expandida em direção ao Rio Grande do Sul, incluindo trechos do Planalto Sul (PR-SC) e Via Serrana (PR-RS).
A construção da rodovia envolveu, ao longo dos anos, contornos urbanos e viadutos para evitar as antigas travessias urbanas, além de desbravamento de serra e obras de engenharia pesada em regiões montanhosas.

Motivações para sua criação
A principal motivação da BR-116 foi unificar e desenvolver o território brasileiro. Desde os anos 1920, o governo enxergava as rodovias como meio de integração nacional e motor de desenvolvimento econômico.
A rodovia atendeu a interesses estratégicos: escoar a produção agrícola e mineral do interior para os portos, e aproximar centros industriais do Sul e Sudeste das regiões Norte/Nordeste.
Por exemplo, ligou o rico Triângulo Mineiro (MG) às capitais do Sudeste e ao porto do Rio.
Ao longo da expansão, justificou-se sua construção por incentivar o crescimento de polos emergentes no interior (Cachoeiro do Itapemirim, Santa Maria de Jetibá, etc.), além de consolidar o eixo Rio–São Paulo–Porto Alegre.
Em suma, a BR-116 foi concebida para suprir déficits de infraestrutura e promover desenvolvimento regional equilibrado.

Estados e regiões atravessadas
A BR-116 percorre três grandes regiões do Brasil (Nordeste, Sudeste e Sul) e 10 estados. Em linhas gerais, segue esta sequência de norte a sul:
- Nordeste: inicia-se em Fortaleza (CE) e atravessa o interior do Ceará; passa por um ponto extremo da Paraíba (zona rural de Cachoeira dos Índios); percorre o sertão pernambucano (Salgueiro) e invade a Bahia, ligando cidades como Feira de Santana.
- Sudeste: no norte de Minas Gerais, cruza áreas rurais em direção ao Rio de Janeiro; no Sudeste propriamente dito, segue pela Rodovia Presidente Dutra ligando a cidade do Rio de Janeiro a São Paulo.
- Sul: adentra o Paraná (BR-116/Régis Bittencourt) até Curitiba, segue pelo Planalto Sul (entre PR e SC) e culmina no Rio Grande do Sul, chegando a Jaguarão na fronteira com o Uruguai.
Este trajeto interliga capitais importantes (Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, Rio, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre) e principais polos industriais e agrícolas. Na prática, a rodovia atua como coluna vertebral logística entre as regiões, passando por áreas metropolitanas, regiões agrícolas e zonas de mineração.
A logistica

A BR-116 é considerada a “espinha dorsal” da logística brasileira. Ela integra grandes polos industriais, agrícolas e portuários: abastece centros como São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro e recebe escoamento de commodities de áreas produtoras.
É essencial para o transporte rodoviário de cargas, sendo uma das rotas de maior fluxo de caminhões no Brasil.
Em trechos próximos a grandes cidades e indústrias, o tráfego diário pode chegar a dezenas de milhares de veículos. Estima-se que, apenas na Régis Bittencourt (SP-PR), circulem mais de 35 mil veículos por dia – cerca de 27 mil caminhões.
Mesmo em trechos rurais do Sul, há enorme fluxo de carga: por exemplo, entre Guaíba e Pelotas (RS) transitam ~3,8 mil caminhões por dia.
Socialmente, a BR-116 dinamiza populações locais, conectando comunidades isoladas a centros urbanos. Cidades intermediárias ao longo da via cresceram graças à rodovia, já que receberam serviços (postos, restaurantes, hotéis) voltados a usuários.
No entanto, o alto volume de tráfego também gera poluição sonora e de ar nas regiões metropolitanas, além de ocasional isolamento de pequenas localidades cortadas pela rodovia. Em geral, porém, a circulação pela BR-116 é vital para assegurar mercado consumidor e oferta de empregos em setores como transporte, comércio e turismo.
Obras de duplicação, concessões e modernizações
Desde a segunda metade do século XX houve intensa duplicação de pistas na BR-116. A partir de 1967 começou a implantação sistemática de pista dupla em trechos críticos.
Nas décadas de 1970 e 1980 foram duplicados grandes segmentos nas proximidades de São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Porém, muitos trechos de serra permaneceram bidirecionais até o início do século XXI. O último e mais difícil deles, a Serra do Cafezal (SP), só foi concluído em 2017 após longos investimentos e obras complexas.
Completada essa etapa, a via ficou integralmente duplicada no eixo São Paulo–Curitiba–Rio de Janeiro.
Nos anos 1990 e 2000, diversos trechos de alta demanda passaram a ser concedidos à iniciativa privada. Em 1996 a rodovia Presidente Dutra (trecho RJ–SP da BR-116) foi concessionada à CCR (NovoDutra).
Em 2007/2008 o trecho entre São Paulo e Curitiba (Régis Bittencourt) foi leiloado (concedido à Autopista Régis Bittencourt).
A partir de 2009 outras seções foram assumidas por concessionárias: a ViaBahia em parte da Bahia, a Autopista Planalto Sul (hoje Arteris) no PR/RS, etc. Essas concessões envolveram coberturas de pedágio e compromissos de duplicar ou restaurar segmentos.
Modernizações recentes incluem construção de viadutos urbanos, implantação de faixas adicionais em pontos críticos e tecnologias como sistemas eletrônicos de cobrança de pedágio. Em 2021–2022, por exemplo, o DNIT retomou trechos abandonados (saída da ViaBahia) para dar sequência às obras e garantir a conservação da pista.
Mesmo com as concessões, boa parte da rodovia – especialmente trechos em áreas montanhosas – ainda exige obras de engenharia pesadas (pontes, túneis e taludes reforçados) para atender ao aumento de tráfego.
Impactos ambientais e sociais
A construção e ampliação da BR-116 causaram impactos ambientais significativos, dada sua extensão por biomas frágeis. No trecho da Serra do Cafezal, por exemplo, a rodovia atravessa áreas remanescentes de Mata Atlântica, o que aumentou os custos e os prazos das obras de duplicação.
Essa preocupação ambiental obrigou os órgãos licenciadores a exigir programas rigorosos de mitigação. Na duplicação de 211 km entre Guaíba e Pelotas (RS), por exemplo, o IBAMA só concedeu licença após plano de gestão ambiental completo.
Entre as medidas adotadas estão monitoramento de fauna, proteção de matas ciliares e recuperação de áreas degradadas. Além disso, foram implantados programas sociais durante a obra, como apoio às comunidades indígenas Mbyá-Guarani e quilombolas afetadas pelo traçado.
Também se previu compensação por desapropriações: imóveis e terras foram indenizados, e assentamentos rurais receberam assistência técnica e infraestrutura.
No entorno da rodovia, o tráfego intenso gera poluição do ar e sonora nas regiões metropolitanas. Pequenas comunidades junto à BR-116 também enfrentam riscos sociais com o aumento de acidentes e alterações de dinâmica local.
Por outro lado, a rodovia incentivou crescimento econômico regional, mas exigiu gestão cuidadosa do solo e dos recursos hídricos para evitar erosão.
Em síntese, a BR-116 representa um grande avanço logístico, mas vem acompanhada de desafios socioambientais: a necessidade de equilibrar desenvolvimento com preservação ambiental e justiça social nas áreas impactadas.
A BR-116
A BR-116 teve papel decisivo no desenvolvimento nacional, atuando como um eixo integrador que permitiu a circulação de pessoas e mercadorias entre o Norte e o Sul do Brasil.
Construída em etapas ao longo de quase um século, ela espelhou as mudanças de prioridades de cada governo e acompanhou a evolução do transporte rodoviário no país.
Atualmente, continua sendo fundamental para o escoamento da produção, conferindo competitividade às economias regionais.
Ao mesmo tempo, sua manutenção e modernização são desafios constantes. Novas duplicações, investimentos em conservação e gestão das concessões são necessários para suportar o tráfego crescente e aprimorar a segurança.
No futuro, enfrentar atrasos climáticos (enchentes, deslizamentos), aprofundar a mitigação ambiental e ampliar tecnologias rodoviárias (controles eletrônicos, rodovias inteligentes) serão tarefas prioritárias. Em suma, a BR-116 permanece como um dos grandes vetores de crescimento do Brasil, mas exige planejamento integrado para garantir que continue integrando o país de forma segura e sustentável.
Fontes: Documentos oficiais e reportagens especializadas sobre a BR-116



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