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Da Fortaleza ao Uruguai: A incrível história da BR-116, a maior rodovia do Brasil que integra o país, move a economia e desafia a engenharia há quase um século

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 05/11/2025 às 14:04
Descubra o papel vital da BR-116 no transporte brasileiro, sua evolução histórica, os riscos enfrentados e as obras que buscam garantir segurança e eficiência
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Conheça a trajetória impressionante da BR-116, uma estrada que conecta culturas, resolve gargalos logísticos e transformou o Brasil desde os anos 1930

A BR-116 é a principal rodovia longitudinal do Brasil, conectando extremos Norte e Sul do país. Com cerca de 4.600 km de extensão e atravessando 10 estados brasileiros (Ceará, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), liga a capital cearense Fortaleza ao município gaúcho de Jaguarão (na fronteira com o Uruguai).

Ao lado da BR-101, a BR-116 forma um dos principais eixos rodoviários do país, sendo a maior rodovia totalmente pavimentada do Brasil.

Por percorrer biomas diversos (como a Mata Atlântica, Cerrado e áreas semiáridas do Nordeste) e regiões estratégicas, a rodovia cumpre papel vital na integração territorial e no desenvolvimento econômico nacional.

Entrocamento do primeiro trecho da BR-117, em Feira de Santana – BA

Planejamento e construção

O projeto da BR-116 surgiu nos anos 1920, como parte de uma política de integração nacional. No governo Washington Luís (1926-1930) foi criada a Comissão de Estradas de Rodagem Federais (CERF) para articular um plano rodoviário federal.

Em 1927 a União tomou a tarefa de planejar grandes estradas, e uma delas visava ligar o Norte ao Sul do país, interligando grandes capitais (Minas Gerais, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro).

Ocorreu, porém, inversão de prioridades: o trecho inicial foi aberto no Nordeste. Em 1933 foi inaugurada a ligação Fortaleza (CE)–Feira de Santana (BA), parte do que viria a ser a BR-116.

No Estado Novo (1937-1945), com a criação do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), acelerou-se a pavimentação: ainda na década de 1940 foi aberto o trecho de Feira de Santana (BA) até o Rio de Janeiro, então chamado “Rodovia Santos Dumont”.

Nos anos 1950 foi inaugurada a ligação entre Rio de Janeiro e São Paulo (Rodovia Presidente Dutra), entregue pelo presidente Dutra, tornando-se até hoje um dos trechos mais movimentados.

Em 1961 foi entregue o trecho entre São Paulo e Curitiba (Régis Bittencourt). A partir de 1967 iniciou-se a duplicação em vários trechos, transformando a BR-116 na principal autoestrada do país.

Nas décadas de 1970 e 1980 a malha foi expandida em direção ao Rio Grande do Sul, incluindo trechos do Planalto Sul (PR-SC) e Via Serrana (PR-RS).

A construção da rodovia envolveu, ao longo dos anos, contornos urbanos e viadutos para evitar as antigas travessias urbanas, além de desbravamento de serra e obras de engenharia pesada em regiões montanhosas.

Juscelino Kubitschek na inauguração do trecho da Régis Bittencourt 

Motivações para sua criação

A principal motivação da BR-116 foi unificar e desenvolver o território brasileiro. Desde os anos 1920, o governo enxergava as rodovias como meio de integração nacional e motor de desenvolvimento econômico.

A rodovia atendeu a interesses estratégicos: escoar a produção agrícola e mineral do interior para os portos, e aproximar centros industriais do Sul e Sudeste das regiões Norte/Nordeste.

Por exemplo, ligou o rico Triângulo Mineiro (MG) às capitais do Sudeste e ao porto do Rio.

Ao longo da expansão, justificou-se sua construção por incentivar o crescimento de polos emergentes no interior (Cachoeiro do Itapemirim, Santa Maria de Jetibá, etc.), além de consolidar o eixo Rio–São Paulo–Porto Alegre.

Em suma, a BR-116 foi concebida para suprir déficits de infraestrutura e promover desenvolvimento regional equilibrado.

Trecho de serra da BR-116 em 1976 

Estados e regiões atravessadas

A BR-116 percorre três grandes regiões do Brasil (Nordeste, Sudeste e Sul) e 10 estados. Em linhas gerais, segue esta sequência de norte a sul:

  • Nordeste: inicia-se em Fortaleza (CE) e atravessa o interior do Ceará; passa por um ponto extremo da Paraíba (zona rural de Cachoeira dos Índios); percorre o sertão pernambucano (Salgueiro) e invade a Bahia, ligando cidades como Feira de Santana.
  • Sudeste: no norte de Minas Gerais, cruza áreas rurais em direção ao Rio de Janeiro; no Sudeste propriamente dito, segue pela Rodovia Presidente Dutra ligando a cidade do Rio de Janeiro a São Paulo.
  • Sul: adentra o Paraná (BR-116/Régis Bittencourt) até Curitiba, segue pelo Planalto Sul (entre PR e SC) e culmina no Rio Grande do Sul, chegando a Jaguarão na fronteira com o Uruguai.

Este trajeto interliga capitais importantes (Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, Rio, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre) e principais polos industriais e agrícolas. Na prática, a rodovia atua como coluna vertebral logística entre as regiões, passando por áreas metropolitanas, regiões agrícolas e zonas de mineração.

A logistica

A BR-116 é considerada a “espinha dorsal” da logística brasileira. Ela integra grandes polos industriais, agrícolas e portuários: abastece centros como São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Rio de Janeiro e recebe escoamento de commodities de áreas produtoras.

É essencial para o transporte rodoviário de cargas, sendo uma das rotas de maior fluxo de caminhões no Brasil.

Em trechos próximos a grandes cidades e indústrias, o tráfego diário pode chegar a dezenas de milhares de veículos. Estima-se que, apenas na Régis Bittencourt (SP-PR), circulem mais de 35 mil veículos por dia – cerca de 27 mil caminhões.

Mesmo em trechos rurais do Sul, há enorme fluxo de carga: por exemplo, entre Guaíba e Pelotas (RS) transitam ~3,8 mil caminhões por dia.

Socialmente, a BR-116 dinamiza populações locais, conectando comunidades isoladas a centros urbanos. Cidades intermediárias ao longo da via cresceram graças à rodovia, já que receberam serviços (postos, restaurantes, hotéis) voltados a usuários.

No entanto, o alto volume de tráfego também gera poluição sonora e de ar nas regiões metropolitanas, além de ocasional isolamento de pequenas localidades cortadas pela rodovia. Em geral, porém, a circulação pela BR-116 é vital para assegurar mercado consumidor e oferta de empregos em setores como transporte, comércio e turismo.

Obras de duplicação, concessões e modernizações

Desde a segunda metade do século XX houve intensa duplicação de pistas na BR-116. A partir de 1967 começou a implantação sistemática de pista dupla em trechos críticos.

Nas décadas de 1970 e 1980 foram duplicados grandes segmentos nas proximidades de São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Porém, muitos trechos de serra permaneceram bidirecionais até o início do século XXI. O último e mais difícil deles, a Serra do Cafezal (SP), só foi concluído em 2017 após longos investimentos e obras complexas.

Completada essa etapa, a via ficou integralmente duplicada no eixo São Paulo–Curitiba–Rio de Janeiro.

Nos anos 1990 e 2000, diversos trechos de alta demanda passaram a ser concedidos à iniciativa privada. Em 1996 a rodovia Presidente Dutra (trecho RJ–SP da BR-116) foi concessionada à CCR (NovoDutra).

Em 2007/2008 o trecho entre São Paulo e Curitiba (Régis Bittencourt) foi leiloado (concedido à Autopista Régis Bittencourt).

A partir de 2009 outras seções foram assumidas por concessionárias: a ViaBahia em parte da Bahia, a Autopista Planalto Sul (hoje Arteris) no PR/RS, etc. Essas concessões envolveram coberturas de pedágio e compromissos de duplicar ou restaurar segmentos.

Modernizações recentes incluem construção de viadutos urbanos, implantação de faixas adicionais em pontos críticos e tecnologias como sistemas eletrônicos de cobrança de pedágio. Em 2021–2022, por exemplo, o DNIT retomou trechos abandonados (saída da ViaBahia) para dar sequência às obras e garantir a conservação da pista.

Mesmo com as concessões, boa parte da rodovia – especialmente trechos em áreas montanhosas – ainda exige obras de engenharia pesadas (pontes, túneis e taludes reforçados) para atender ao aumento de tráfego.

Impactos ambientais e sociais

A construção e ampliação da BR-116 causaram impactos ambientais significativos, dada sua extensão por biomas frágeis. No trecho da Serra do Cafezal, por exemplo, a rodovia atravessa áreas remanescentes de Mata Atlântica, o que aumentou os custos e os prazos das obras de duplicação.

Essa preocupação ambiental obrigou os órgãos licenciadores a exigir programas rigorosos de mitigação. Na duplicação de 211 km entre Guaíba e Pelotas (RS), por exemplo, o IBAMA só concedeu licença após plano de gestão ambiental completo.

Entre as medidas adotadas estão monitoramento de fauna, proteção de matas ciliares e recuperação de áreas degradadas. Além disso, foram implantados programas sociais durante a obra, como apoio às comunidades indígenas Mbyá-Guarani e quilombolas afetadas pelo traçado.

Também se previu compensação por desapropriações: imóveis e terras foram indenizados, e assentamentos rurais receberam assistência técnica e infraestrutura.

No entorno da rodovia, o tráfego intenso gera poluição do ar e sonora nas regiões metropolitanas. Pequenas comunidades junto à BR-116 também enfrentam riscos sociais com o aumento de acidentes e alterações de dinâmica local.

Por outro lado, a rodovia incentivou crescimento econômico regional, mas exigiu gestão cuidadosa do solo e dos recursos hídricos para evitar erosão.

Em síntese, a BR-116 representa um grande avanço logístico, mas vem acompanhada de desafios socioambientais: a necessidade de equilibrar desenvolvimento com preservação ambiental e justiça social nas áreas impactadas.

A BR-116

A BR-116 teve papel decisivo no desenvolvimento nacional, atuando como um eixo integrador que permitiu a circulação de pessoas e mercadorias entre o Norte e o Sul do Brasil.

Construída em etapas ao longo de quase um século, ela espelhou as mudanças de prioridades de cada governo e acompanhou a evolução do transporte rodoviário no país.

Atualmente, continua sendo fundamental para o escoamento da produção, conferindo competitividade às economias regionais.

Ao mesmo tempo, sua manutenção e modernização são desafios constantes. Novas duplicações, investimentos em conservação e gestão das concessões são necessários para suportar o tráfego crescente e aprimorar a segurança.

No futuro, enfrentar atrasos climáticos (enchentes, deslizamentos), aprofundar a mitigação ambiental e ampliar tecnologias rodoviárias (controles eletrônicos, rodovias inteligentes) serão tarefas prioritárias. Em suma, a BR-116 permanece como um dos grandes vetores de crescimento do Brasil, mas exige planejamento integrado para garantir que continue integrando o país de forma segura e sustentável.

Fontes: Documentos oficiais e reportagens especializadas sobre a BR-116

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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