Instituições como Embrapa, Cirad e Agrosavia fortalecem a cultura de impacto e transformam a avaliação científica em benefícios sociais, ambientais e econômicos duradouros para o agronegócio sustentável
A cultura de impacto está reformulando a forma como a pesquisa agropecuária mede e comunica seus resultados, segundo uma matéria publicada.
Essa mudança estratégica tem sido liderada por três instituições de referência: Embrapa (Brasil), Cirad (França) e Agrosavia (Colômbia), que uniram forças para criar um modelo de gestão científica voltado à transformação social e à transparência.
O estudo internacional publicado na Research Policy e na série Perspective do Cirad demonstra como o alinhamento entre metas de pesquisa e resultados concretos pode gerar benefícios sociais reais e fortalecer o vínculo entre ciência, economia e sustentabilidade.
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O movimento surgiu com o apoio da Agropolis Fondation (Montpellier, França), dentro do projeto “Co-aprendizagem inovadora para soluções baseadas na agricultura”.
O trabalho avaliou práticas e metodologias das três instituições, consolidando diretrizes para medir o retorno social e ambiental da ciência pública.
Esse novo modelo valoriza o aprendizado organizacional e a mensuração contínua dos impactos gerados pelas tecnologias agrícolas.
Avaliação de impacto em pesquisa agropecuária orienta decisões estratégicas
A adoção da cultura de impacto como prática de gestão transformou o modo como instituições agrícolas planejam suas ações.
A Embrapa, por exemplo, incorporou o conceito em seu macroprocesso de inovação, tornando a avaliação de impacto uma ferramenta essencial para orientar políticas de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico.
Segundo o pesquisador Geraldo Stachetti Rodrigues, da Embrapa Meio Ambiente, o modelo permite mensurar a contribuição das soluções tecnológicas para mudanças socioambientais e econômicas.
Desde 1997, a Embrapa publica o Balanço Social, que reúne resultados de suas pesquisas e benefícios gerados à sociedade.
Anualmente, equipes de Pesquisa, Desenvolvimento e Transferência de Tecnologia realizam análises detalhadas de uma amostra de inovações.
O processo alimenta o sistema de mensuração de desempenho institucional e garante transparência na utilização de recursos públicos.
Ferramentas como o método do Excedente Econômico e o sistema Ambitec-Agro, que utiliza mais de 140 indicadores, ajudam a identificar ganhos econômicos, ambientais e sociais, fortalecendo o compromisso com o desenvolvimento rural sustentável.
Mensuração de resultados da ciência agrícola promove aprendizado contínuo
Um dos pilares da cultura de impacto é a mensuração de resultados da ciência agrícola como instrumento de gestão.
De acordo com Graciela Vedovoto, da Gerência-Adjunta de Gestão Estratégica da Embrapa, a consolidação desse modelo requer ambientes que favoreçam o diálogo interno, o pensamento sistêmico e a reflexão coletiva.
Elementos como a Teoria da Mudança e os espaços de interação entre equipes garantem que o aprendizado seja constante e incorporado ao planejamento institucional.
O Cirad, da França, também contribui com metodologias avançadas nesse campo. A instituição desenvolveu os sistemas ImpresS ex post e ImpresS ex ante, capazes de avaliar impactos passados e projetar efeitos futuros das inovações agrícolas.
Já a Agrosavia, da Colômbia, inspirou-se nas práticas da Embrapa para integrar métodos de avaliação em seus processos de planejamento desde 2016.
A meta colombiana é consolidar uma cultura institucional de impacto até 2030, com ênfase em inovação social e sustentabilidade.
Essa colaboração entre países reforça a importância de um modelo científico que aprende com a experiência e transforma conhecimento em benefícios públicos tangíveis.
Modelos organizacionais de inovação no agronegócio ampliam benefícios sociais da pesquisa agropecuária pública
O fortalecimento dos modelos organizacionais de inovação no agronegócio tem ampliado os benefícios sociais da pesquisa agropecuária pública e consolidado a cultura de impacto como um instrumento de governança.
Na Embrapa, a integração entre setores de pesquisa e transferência de tecnologia é vista como essencial para que o impacto não seja apenas uma etapa final de avaliação, mas parte permanente da gestão.
De acordo com Álvaro Spínola, supervisor do Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias da Embrapa Meio Ambiente, o uso de evidências de campo e indicadores consolidados transforma dados em conhecimento e fortalece a transparência institucional.
Essa abordagem faz com que os resultados cheguem de forma mais direta às comunidades rurais, estimulando práticas agrícolas sustentáveis e aumentando o retorno social dos investimentos públicos.
O estudo internacional indica que o avanço da cultura de impacto depende de apoio gerencial, recursos específicos e capacitação contínua.
Esses fatores permitem que a avaliação de impacto se torne um processo de aperfeiçoamento constante, e não uma atividade pontual.
Além disso, o modelo reforça a credibilidade da pesquisa agrícola latino-americana, ao demonstrar de forma mensurável o valor social das inovações científicas.
A consolidação da cultura de impacto entre Cirad, Embrapa e Agrosavia simboliza um novo paradigma na ciência agrícola: um sistema em que resultados são medidos não apenas em produtividade, mas em aprendizado, sustentabilidade e retorno social.
Essa abordagem reafirma o compromisso das instituições com a sociedade e abre caminho para um futuro em que a pesquisa agropecuária atua como agente de transformação coletiva e desenvolvimento humano.



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