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Cortes de energia eólica e solar afetam as maiores empresas do setor

Escrito por Paulo H. S. Nogueira
Publicado em 03/10/2025 às 08:08
Painel solar refletindo gráficos de energia com turbinas eólicas ao fundo em um campo verde.
Painéis solares e turbinas eólicas trabalhando em conjunto para a produção de energia limpa e sustentável.
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Crescem os cortes de energia eólica e solar, prejudicando a operação e a rentabilidade das maiores empresas do setor de energia renovável no Brasil.

O setor de energia renovável no Brasil enfrenta um momento desafiador. Nos últimos anos, a expansão das usinas solares e eólicas avançou rapidamente, impulsionada por subsídios e incentivos governamentais que buscavam diversificar a matriz energética. Além disso, o objetivo era reduzir a dependência de fontes fósseis.

No entanto, esse crescimento acelerado trouxe à tona um problema estrutural, que afeta diretamente as operações das maiores empresas do setor: os cortes de energia eólica e solar.

Os cortes de energia, conhecidos no setor pelo termo técnico curtailment, consistem na redução forçada da geração de eletricidade em usinas de fontes renováveis. Por isso, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) aplica essa prática para garantir a estabilidade e a segurança do sistema. Essa medida evita sobrecarga ou desequilíbrios na oferta de energia.

Embora necessária em alguns momentos, a recorrência desses cortes impacta diretamente a rentabilidade e a previsibilidade dos negócios das empresas que dependem dessas fontes intermitentes.

O histórico do setor mostra que a preocupação com a sobreoferta de energia não é recente. Desde 2021, o ONS disponibiliza dados detalhados sobre os cortes de geração, revelando um aumento gradual do problema.

Entre 2021 e 2025, os cortes de energia eólica e solar causaram prejuízos acumulados de aproximadamente R$ 6 bilhões. Sendo metade desse valor registrada apenas em 2025.

Além disso, o crescimento da geração distribuída com painéis solares em residências, empresas e indústrias contribuiu para agravar o cenário. Aumentando a oferta de energia em horários específicos do dia, principalmente durante a incidência máxima do sol.

Impactos das empresas e distribuição de cortes

No terceiro trimestre de 2025, os números do curtailment revelaram uma tendência preocupante. No setor solar, a redução de geração alcançou 34,1% do potencial das usinas, representando um salto significativo em relação aos 23,8% do trimestre anterior e aos 16,5% do mesmo período do ano anterior.

Já no setor eólico, o corte atingiu 20,4%, um crescimento expressivo frente aos 11,9% observados no trimestre anterior e aos 11,6% de 2024. Portanto, embora o Brasil conte com uma das matrizes mais limpas do mundo, a gestão da energia renovável ainda enfrenta desafios complexos.

As maiores empresas do setor, incluindo Echoenergia, Auren e Engie Brasil, sentem diretamente os efeitos dos cortes. Por exemplo, a Echoenergia registrou 51,4% de redução em sua capacidade de geração solar, enquanto a Auren enfrentou 40,2% e a Engie Brasil 34,2%.

No segmento eólico, embora o impacto tenha sido menor, CPFL e Copel registraram cortes de 33,7%, enquanto Echoenergia, Auren e Engie Brasil tiveram índices entre 22% e 26%. Esses números mostram que os cortes de energia eólica e solar variam conforme a localização, o tipo de tecnologia e a capacidade instalada das usinas.

O problema vai além do impacto financeiro. De fato, os cortes comprometem a previsibilidade operacional e a performance das unidades de geração. Empresas com portfólio diversificado conseguem mitigar parte dos prejuízos usando outras fontes de energia, como hidrelétricas, que armazenam água durante o dia e geram eletricidade nos horários de maior demanda.

No entanto, para aquelas com forte exposição às fontes intermitentes, os cortes de energia eólica e solar representam um risco significativo, podendo afetar a estabilidade financeira e a capacidade de investimento.

Causas estruturais e desafios do sistema

Especialistas do setor apontam que os cortes ocorrem principalmente devido à falta de demanda em horários específicos, especialmente durante o dia e nos finais de semana. Além disso, a rápida expansão da geração distribuída com subsídios elevados contribui para o problema. Consequentemente, esse excesso de energia sobrecarrega o sistema, tornando necessário reduzir a geração das usinas centralizadas.

Por outro lado, outro desafio histórico do setor envolve a adaptação do sistema elétrico brasileiro às fontes intermitentes. O país construiu sua matriz baseada principalmente em hidrelétricas, capazes de regular a produção conforme a demanda.

Todavia, a entrada em larga escala de solar e eólica trouxe maior volatilidade, exigindo novos modelos de planejamento, regras regulatórias mais flexíveis e integração de tecnologias de armazenamento. Sem essas medidas, os cortes de energia eólica e solar tendem a se tornar mais frequentes.

Soluções em discussão

Para enfrentar o problema, especialistas e reguladores discutem várias soluções. Entre elas, destacam-se mecanismos que estabeleçam um sinal de preço horário, permitindo que o sistema reflita melhor a oferta e a demanda de energia. Assim, essa medida incentiva uma utilização mais eficiente das fontes renováveis e reduz os impactos econômicos do curtailment.

Outra proposta prevê leilões em que os prejuízos acumulados pelos cortes se transformem em ativos, que geradores hidrelétricos poderiam adquirir, promovendo um equilíbrio financeiro entre diferentes tipos de geração.

Além disso, regulamentar sistemas de armazenamento, como bancos de baterias, permite absorver o excesso de energia solar durante o dia. Ele também possibilita despachar eletricidade nos horários de maior demanda. Desse modo, esses sistemas ajudam a reduzir os cortes de energia eólica e solar e aumentam a confiabilidade e a flexibilidade do sistema elétrico, tornando-o mais resistente a variações na oferta.

Outra solução em análise envolve modernizar as linhas de transmissão e adotar tecnologias digitais para melhorar o monitoramento e a coordenação entre diferentes usinas. Logo, a integração de sistemas inteligentes permite gerenciar de forma precisa a geração e o consumo, tornando os cortes de energia eólica e solar menores e mais previsíveis.

Perspectiva histórica e aprendizado do setor

Historicamente, o Brasil sempre contou com uma matriz energética dominada por hidrelétricas, com forte capacidade de regular a produção e armazenar energia. Entretanto, a entrada em larga escala de fontes intermitentes trouxe novos desafios de gestão, exigindo modernização do sistema de controle, adaptação das regras regulatórias e maior integração entre diferentes fontes de geração.

Portanto, os cortes de energia eólica e solar refletem justamente a necessidade de harmonizar essa transição energética, equilibrando crescimento sustentável e segurança do fornecimento.

As grandes empresas do setor reconhecem a importância de medidas estratégicas para lidar com o problema. A Engie Brasil diversifica o portfólio e otimiza contratos para reduzir a exposição aos cortes. Além disso, a Echoenergia defende mudanças estruturais na legislação e na regulamentação, com isonomia entre todos os geradores e eliminação de subsídios que distorcem os sinais econômicos do mercado.

Para ambas, o diálogo constante com o setor regulador é essencial para implementar soluções que modernizem a matriz energética brasileira. O rápido crescimento do mercado solar e eólico também mostra que a conscientização sobre eficiência energética e planejamento estratégico será essencial para o futuro.

Assim, empresas que investirem em inovação, armazenamento e integração tecnológica estarão mais preparadas para enfrentar os cortes de energia eólica e solar, reduzindo riscos e tornando o setor mais sustentável economicamente.

Os cortes de energia eólica e solar são um desafio

Em suma, os cortes de energia eólica e solar representam um desafio crescente, mas também uma oportunidade para o setor repensar estratégias, modernizar sistemas e criar mecanismos que tornem a operação mais eficiente e sustentável. De fato, o aprendizado histórico mostra que, embora o Brasil tenha avançado na geração de energia limpa, é essencial alinhar incentivos, regulamentação e tecnologia para que a expansão das fontes renováveis não comprometa a estabilidade do sistema elétrico nem a rentabilidade das empresas.

O cenário atual evidencia a necessidade de planejamento e inovação contínua. Consequentemente, o sucesso do setor dependerá da capacidade de integrar soluções técnicas, econômicas e regulatórias, garantindo que o crescimento da energia renovável contribua de forma consistente para a matriz energética do país. Assim, os cortes de energia eólica e solar deixam de ser apenas um problema e passam a ser um indicador da maturidade e da eficiência do setor elétrico brasileiro.

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Como evitar o corte de energia renovável: 5 soluções para o curtailment | agência eixos

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Paulo H. S. Nogueira

Sou Paulo Nogueira, formado em Eletrotécnica pelo Instituto Federal Fluminense (IFF), com experiência prática no setor offshore, atuando em plataformas de petróleo, FPSOs e embarcações de apoio. Hoje, dedico-me exclusivamente à divulgação de notícias, análises e tendências do setor energético brasileiro, levando informações confiáveis e atualizadas sobre petróleo, gás, energias renováveis e transição energética.

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