Durante evento paralelo da COP30 em Belém, especialistas e líderes indígenas criticaram a decisão do governo de autorizar a exploração de petróleo na foz do Amazonas. Ambientalistas alertam para riscos climáticos e sociais e pedem alternativas sustentáveis à matriz fóssil.
Durante um evento paralelo à COP30, realizado na TED House, em Belém (PA), a recente autorização do governo federal para a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas foi alvo de duras críticas. Especialistas e representantes da sociedade civil destacaram os riscos ambientais e sociais da medida, ressaltando que o país deveria buscar soluções energéticas mais sustentáveis.
Entre os críticos, o diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), André Guimarães, foi enfático ao questionar o sentido da decisão em meio à conferência climática. “Se essa é a COP da verdade, como diz o presidente Lula, não faz sentido explorar petróleo na foz da Amazônia”, afirmou.
“Mais carbono na atmosfera significa mais risco”, alerta pesquisador
Guimarães lembrou que o aumento das emissões de carbono intensifica os impactos das mudanças climáticas, afetando a agricultura, os ecossistemas e a população brasileira. Segundo ele, o debate sobre o petróleo precisa ir além da economia e considerar alternativas reais.
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“Essa mesma ciência que há 30 anos começou a colocar o Brasil como um dos maiores produtores do mundo de alimentos devia estar trabalhando para produzir caminhos alternativos. Será que, em áreas degradadas, não temos como compatibilizar a produção de alimentos com a produção de combustíveis alternativos? Nós precisamos ter essa resposta”, questionou.
Uma pesquisa citada durante o evento mostra que 61% dos brasileiros acreditam que o presidente Lula deveria proibir a abertura de novos poços de petróleo, o que reflete um sentimento crescente de preocupação ambiental na sociedade.
Licenciamento de bloco petrolífero é visto como “abertura de porteira”
A coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo, também participou do debate e destacou o simbolismo da liberação do chamado bloco 59, o primeiro a receber licença para exploração de petróleo na região amazônica.
Segundo ela, a decisão pode abrir caminho para uma série de novos projetos na bacia sedimentar da Amazônia. “Essa licença funcionou como uma abertura de porteira, um marco da decisão governamental de tornar a bacia sedimentar da Amazônia uma área de exploração de petróleo”, explicou.
Atualmente, mais de 700 pedidos de licenças para exploração de petróleo e gás aguardam aprovação no país. Diante disso, organizações da sociedade civil entraram com uma ação judicial no Pará para tentar suspender o processo, alegando falhas na consulta pública e descumprimento de normas técnicas.
Povos indígenas alertam para impactos sociais e territoriais
O debate também contou com a participação de Luene Anica, líder do povo Karipuna, que relatou os impactos já sentidos pelas comunidades locais. Segundo ela, a simples perspectiva de exploração tem provocado grilagem de terras, especulação imobiliária e conflitos internos entre povos tradicionais.
“Estão falando que o Estado será a Dubai do futuro. Essa lógica de dividir para conquistar. Esse impacto é o mais grave porque atinge organizações históricas e começa a colocar um contra o outro com o discurso do progresso”, afirmou. Ela questionou ainda se compensações financeiras seriam capazes de reparar danos à relação ancestral das comunidades com o território.
O evento foi moderado por Tzeporah Berman, fundadora do Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis, que defendeu uma postura mais ambiciosa do Brasil frente à crise climática.
Para ela, o país tem potencial para liderar uma transição energética justa, abandonando gradualmente o petróleo, assim como fez a Colômbia, que decidiu reduzir a exploração e investir em fontes renováveis.
O debate, realizado durante a COP30, reforça que o petróleo segue no centro da tensão entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental — uma questão que deve pautar as decisões climáticas do Brasil nos próximos anos.


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