Tecnologia nacional incorpora resíduos plásticos ao asfalto para aumentar a durabilidade das estradas brasileiras, reduzir custos de manutenção e estimular a economia circular, destacando o papel da inovação sustentável no setor de infraestrutura.
O Brasil está testando uma tecnologia inovadora na pavimentação de rodovias ao incorporar plástico reciclado ao asfalto, visando triplicar a vida útil das estradas e ampliar o uso de resíduos sólidos de forma sustentável.
Essa solução surge em meio à crescente preocupação global com o descarte inadequado de plástico, que atinge níveis alarmantes e gera impactos ambientais severos.
Em 2022, segundo a Universidade de Tsinghua, na China, mais de 268 milhões de toneladas de plástico foram descartadas em todo o planeta, sendo que apenas 9,5% desse total retornou ao mercado como material reciclado.
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Enquanto a taxa de reciclagem global permanece estagnada e a dependência de combustíveis fósseis segue elevada, as iniciativas que buscam reaproveitar resíduos plásticos ganham força, especialmente diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas.
No Brasil, dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostram que, somente em 2022, os centros urbanos geraram cerca de 13,7 milhões de toneladas de resíduos plásticos.
Isso equivale a uma média de 64 quilos por pessoa, com mais de 3 milhões de toneladas descartadas em rios e mares.
Como funciona o asfalto com plástico reciclado
Inspirados em experiências internacionais, como a ciclovia feita inteiramente de plástico reciclado inaugurada em Zwolle, na Holanda, engenheiros brasileiros vêm aprimorando a técnica para adequá-la ao tráfego intenso das rodovias nacionais.
De acordo com uma publicação do jornal Correio Braziliense feita neste domingo (03), o diferencial do projeto desenvolvido no Brasil está na mistura do asfalto convencional com uma porcentagem de plástico reciclado, resultando em um pavimento capaz de suportar cargas pesadas e condições climáticas adversas.
O primeiro teste foi realizado em 2022 no km 171 da Rodovia Washington Luiz (SP-310), em Rio Claro, interior de São Paulo.
Na ocasião, foram utilizados 450 kg de plástico reciclado, equivalentes a cerca de 200 mil embalagens pós-consumo, misturados ao asfalto.
O material escolhido para esse processo foi o polipropileno (PP), muito presente em sacolas plásticas, embalagens de alimentos e outros itens de uso cotidiano.
O engenheiro Robinson Ávila, um dos responsáveis pelo experimento, explica que “o plástico reciclado precisa ser cuidadosamente selecionado, moído e lavado para garantir a pureza necessária ao processo.”
O método, conhecido como “via-úmida”, consiste em misturar o plástico triturado ao asfalto sob altas temperaturas, promovendo uma união estável dos materiais.
Resultados e expansão dos testes com plástico reciclado nas rodovias
Dois anos depois, em julho de 2024, uma nova etapa foi implementada no km 563 da Rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-294), em Parapuã, também no estado de São Paulo.
Desta vez, a quantidade de plástico reciclado quadruplicou, chegando a 1.800 kg incorporados à mistura asfáltica.
Além disso, foi aplicado 25% de asfalto reaproveitado (RAP, na sigla em inglês), reforçando o compromisso com a economia circular.
Os responsáveis pelo projeto destacam benefícios relevantes, como a redução do consumo de petróleo – cerca de 450 litros poupados apenas no trecho experimental – economia de energia e menor uso de água.
A expectativa é de que a durabilidade da pista seja pelo menos três vezes maior em relação ao asfalto tradicional.
“Sabemos que o asfalto com polímero tem uma durabilidade muito maior do que o asfalto sem polímero. Então, o que estamos vendo agora é que esse asfalto com polímero reciclado vai dar o desempenho de um bom asfalto com polímero”, afirma Robinson Ávila.
Segundo o engenheiro químico Emerson Rodrigues Maciel, da Stratura Asfaltos, o objetivo principal é alinhar inovação e sustentabilidade: “Uma vez produzido esse plástico ou sendo utilizado, qual o destino que ele poderia ter ao final, que não fosse o lixão, ou no próprio meio ambiente? Então, essa foi a ideia e, principalmente, a questão de apelo social, de um produto que ainda dá para usar dentro da cadeia produtiva e trazer inúmeros benefícios, como um todo”, destaca.
Aposta do Brasil: asfalto com plástico reciclado como solução sustentável
O país apresenta desafios logísticos e ambientais singulares, com uma malha rodoviária de mais de 1,7 milhão de km, segundo levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT), mas apenas 12,4% desse total é pavimentado.
Dos 213,5 mil km de estradas pavimentadas, mais de 24 mil km encontram-se em condições consideradas ruins ou péssimas.
A adoção de soluções inovadoras, como o asfalto modificado com plástico reciclado, busca aumentar a durabilidade e a segurança das rodovias, reduzindo custos com manutenção e prolongando a vida útil das pistas.
Além disso, a incorporação de resíduos plásticos contribui para a destinação correta de materiais que, de outra forma, seriam descartados de forma irregular, agravando a poluição em rios, mares e áreas urbanas.
Essa estratégia se apoia em experiências anteriores bem-sucedidas, como a aplicação de borracha triturada de pneus no asfalto, já presente em mais de 1,3 mil km de rodovias no estado de São Paulo.
A expectativa é que o uso do plástico reciclado avance nos próximos anos, beneficiando tanto o meio ambiente quanto o setor de transporte.
Futuro do plástico reciclado nas rodovias brasileiras
A incorporação de plástico reciclado ao asfalto representa um passo significativo rumo à sustentabilidade e à economia circular no país.
Embora os resultados iniciais sejam promissores, especialistas recomendam cautela e acompanhamento constante dos trechos pavimentados, para garantir desempenho e segurança em larga escala.
O desafio agora é ampliar a produção, garantir a qualidade do material reciclado e incentivar políticas públicas que estimulem novas parcerias entre governo, setor privado e cooperativas de reciclagem.
A tendência internacional demonstra que, mesmo com obstáculos, o caminho para um futuro mais sustentável nas rodovias brasileiras está aberto.
Com a promessa de rodovias mais duráveis e ambientalmente responsáveis, será que a tecnologia de asfalto com plástico reciclado poderá se tornar padrão no Brasil nos próximos anos?
O tema desperta dúvidas e curiosidade entre engenheiros, gestores públicos e a sociedade, especialmente diante da urgência de soluções inovadoras para o destino do plástico no planeta.