Decisão inesperada sobre tarifas fez preços dispararem e expôs fragilidade nas engrenagens do comércio global de ouro
Uma simples carta enviada por autoridades americanas a uma refinaria suíça no fim de julho foi suficiente para gerar um terremoto no mercado do ouro. Em poucas horas, os contratos futuros do metal em Nova York atingiram níveis recordes, para depois recuarem bruscamente, em meio à incerteza sobre possíveis tarifas de importação nos Estados Unidos.
Por trás desse movimento abrupto está uma rede complexa e bilionária que conecta bancos, refinarias e centros comerciais ao redor do mundo. Qualquer mudança nas regras do jogo pode provocar impactos globais do preço pago por joalheiros em Mumbai à solidez de estoques em cofres de Londres e Nova York.
O estopim: a carta que virou o mercado
A comunicação, enviada pela agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP) em 31 de julho e divulgada publicamente na sexta-feira (8), indicava que barras de ouro poderiam ser alvo de tarifas de importação. O anúncio surpreendeu o mercado por tratar o ouro como mercadoria física comum, sem considerar seu papel central como ativo financeiro.
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O efeito foi imediato: operadores correram para ajustar posições, impulsionando os preços na Comex, em Nova York, para mais de US$ 3.530 por onça, um recorde histórico. Pouco depois, a sinalização da Casa Branca de que as tarifas não se aplicariam às barras derrubou as cotações, num típico caso de volatilidade provocada por decisões políticas repentinas.
Como funciona o mercado global de ouro
O mercado do ouro é sustentado por um sistema que envolve bolsas de futuros, como as de Nova York e Xangai, e um amplo mercado de balcão em Londres. Essas praças abastecem centros consumidores estratégicos como Dubai, Mumbai e Hong Kong.
Somente em Nova York e Londres, o valor armazenado ultrapassa US$ 1,1 trilhão, guardado principalmente por gigantes como JPMorgan e HSBC. As refinarias suíças, por sua vez, atuam como ponte logística entre Londres e Nova York, fundindo barras grandes em unidades de 1 quilo — o formato aceito na Comex.
O impacto das tarifas e a ameaça às engrenagens
Caso a tarifa de 39% sobre o ouro suíço fosse confirmada, o preço em Nova York teria que subir para cerca de US$ 4.700 por onça para justificar o envio de barras ao mercado americano. Essa perspectiva levou refinarias asiáticas a suspenderem temporariamente vendas para os EUA, enquanto a associação suíça alertou que o bloqueio a um mercado tão relevante poderia desestabilizar o comércio global do metal.
A diferença entre o preço em Nova York e o de referência em Londres que chegou a US$ 100 por onça na sexta-feira revelou a disfunção do sistema. Esse “spread” de cerca de 3% ainda seria insuficiente para cobrir o custo das tarifas propostas pelo governo americano.
Alternativas e riscos para o abastecimento
Com a Suíça sob ameaça tarifária, alternativas seriam importar ouro de países como Canadá e México. No entanto, o próprio governo americano já cogitou impor tarifas pesadas também a esses parceiros, deixando o abastecimento ainda mais vulnerável.
Refinarias independentes operam com margens estreitas e dependem de previsibilidade para manter contratos e logística. Qualquer mudança repentina de regras, como essa carta, ameaça não apenas o fluxo de ouro, mas também a confiança nas bolsas que sustentam o preço global do metal.
O recuo da Casa Branca e as lições para o mercado
Segundo um funcionário do governo, a administração pretende publicar uma ordem executiva esclarecendo o que chamou de “informações incorretas” sobre as tarifas do ouro.
Para analistas, o episódio reforça como o mercado do ouro é sensível a decisões políticas e como a volatilidade pode gerar ganhos e perdas de bilhões de dólares em poucas horas.
O veterano Ross Norman, fundador do site Metals Daily, resumiu o risco: “O problema é que não estamos em uma boa posição quando algo desorganiza o mercado. Quando a coisa explode, muita gente sai ferida.”
Você acredita que decisões políticas devem ter tanto poder sobre o mercado do ouro? Ou o setor deveria ter regras mais blindadas contra oscilações repentinas? Deixe sua opinião nos comentários e participe do debate.