Com dessalinização em massa, reuso de água e fazendas verticais, um dos países mais áridos do mundo está reescrevendo as regras da agricultura. Entenda a engenharia por trás do milagre.
Se alguém dissesse, há 50 anos, que a Arábia Saudita se tornaria uma exportadora de produtos agrícolas, a ideia seria considerada um delírio. Um país onde o calor supera os 50°C, a chuva é um evento raro e não existem rios permanentes parecia condenado a depender eternamente da importação de alimentos.
Hoje, a realidade é outra. O país não apenas produz para seu consumo, mas vende tâmaras, laticínios e outros produtos para o mundo. A transformação de um dos territórios mais inóspitos do planeta em um polo agrícola é uma das mais impressionantes sagas de engenharia e tecnologia da nossa era. Mas como a agricultura na Arábia Saudita se tornou possível? A resposta é uma série de soluções ousadas e de altíssimo investimento.
Solução 1: A era (temporária) da água fóssil
A primeira grande virada começou nos anos 70 e 80, literalmente debaixo da terra. Geólogos descobriram que o subsolo do deserto guardava imensos reservatórios de água fóssil – aquíferos formados há milhares de anos, quando a região era mais úmida. O governo saudita iniciou um programa agressivo para perfurar poços e bombear essa água para a superfície.
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O resultado foi um boom agrícola sem precedentes. O país se tornou autossuficiente em trigo e um grande produtor de laticínios. O problema, no entanto, era matemático: essa água não era renovável. Ao final dos anos 2000, com os aquíferos se esgotando rapidamente, ficou claro que essa solução tinha prazo de validade. Era preciso uma nova fonte de água.
Solução 2: Transformando o mar em água doce com a dessalinização
Com duas vastas costas no Mar Vermelho e no Golfo Pérsico, a Arábia Saudita voltou seus olhos para o oceano. O país investiu bilhões para se tornar o líder mundial em tecnologia de dessalinização. Hoje, mais de 40 usinas operam no país.
A maior delas, Ras Al-Khair, é um monstro tecnológico que produz mais de 1 milhão de metros cúbicos de água potável por dia. O processo mais moderno utilizado é a osmose reversa, onde a água do mar é forçada sob altíssima pressão através de membranas que funcionam como filtros superfinos, separando o sal. E para diminuir a pegada de carbono de um processo que consome muita energia, o país investe em plantas como a de Al-Khafji, uma das maiores do mundo a operar inteiramente com energia solar.
Solução 3: A engenharia da gota d’água – reuso e precisão
Mesmo com a água do mar, o desperdício não é uma opção. O país desenvolveu um dos mais avançados sistemas de reaproveitamento de água residual do mundo. Quase 150 estações de tratamento reciclam mais de 5 milhões de metros cúbicos de esgoto por dia, transformando-o em água de alta qualidade para irrigar plantações não alimentícias e forragens.
Nos campos, a eficiência é máxima. Se você olhar a Arábia Saudita por imagens de satélite, verá milhares de círculos verdes perfeitos no meio da areia. Cada círculo é uma fazenda irrigada por pivô central, um braço mecânico que gira e distribui água e nutrientes com precisão cirúrgica diretamente na raiz das plantas, minimizando a perda por evaporação.
Solução 4: A revolução futurista da agricultura sem solo
A mais impressionante das soluções talvez seja a hidroponia em estufas climatizadas. Dentro dessas bolhas de tecnologia, o deserto fica do lado de fora.
- Cultivo sem terra: As raízes das plantas (como alface, tomate, morango) ficam suspensas em canaletas, recebendo uma solução nutritiva líquida, com controle exato de cada nutriente.
- Economia de água: O sistema reduz o consumo de água em até 90% em comparação com a agricultura tradicional.
- Ambiente controlado: Temperatura, umidade e CO2 são controlados por computador, protegendo as plantas de pragas e do clima extremo. O resultado são colheitas mais rápidas, de maior qualidade e durante o ano todo.
Ao combinar a dessalinização para obter a água, o reuso para multiplicá-la, a irrigação de precisão para otimizá-la e a hidroponia para economizá-la ao máximo, a Arábia Saudita criou um ecossistema agrícola que parecia impossível. A jornada, que começou com a exploração de um recurso finito, evoluiu para uma vitrine de tecnologia e sustentabilidade, mostrando que com planejamento e engenharia, é possível encontrar soluções para os desafios mais extremos.
O que achou dessa revolução agrícola? Você acredita que esse modelo de tecnologia intensiva pode ser adaptado para resolver problemas de seca em outras partes do mundo, como no Nordeste brasileiro?