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Como funciona a nova rota Brasil-China que promete baratear fretes, acelerar exportações e abrir as portas do mercado chinês ao agro amazônico

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 02/09/2025 às 11:30
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Nova rota marítima conecta o Amapá ao sul da China, reduz custos logísticos, encurta tempo de transporte e amplia as possibilidades de exportação para produtores do agronegócio e da bioeconomia da Amazônia e do Centro-Oeste.

Brasil e China inauguraram, no sábado (30), como havia adiantado o portal CPG, uma rota direta entre o porto de Santana (AP) e Zhuhai, no sul do país asiático.

A ligação, segundo o governo federal, reduz custos logísticos e tempo de viagem de cargas brasileiras, com impacto imediato sobre as exportações do agronegócio e da bioeconomia da Amazônia e do Centro-Oeste.

A conexão integra o Porto Santana das Docas à região da Grande Baía (Guangdong–Hong Kong–Macau), onde fica o terminal de Gaolan, em Zhuhai, um dos principais da área.

A expectativa oficial é que o novo corredor ajude a diversificar saídas pelo Arco Norte e a aproximar produtores amazônidas de um mercado de 1,4 bilhão de consumidores.

“Essa inauguração é resultado das articulações do governo brasileiro na agenda de cooperação com a China. Esta rota promove benefícios mútuos para os países”, afirmou o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, ao destacar que a iniciativa facilita a entrada de produtos chineses no Amapá e, ao mesmo tempo, amplia o consumo na China de itens do agro e da bioeconomia brasileiros.

O que muda na logística da exportação

Porto marítimo com contêineres e navios simboliza nova rota Brasil-China ampliando exportações do agro e bioeconomia regional. (Imagem: Divulgação oficial do governo)
Porto marítimo com contêineres e navios simboliza nova rota Brasil-China ampliando exportações do agro e bioeconomia regional. (Imagem: Divulgação oficial do governo)

Na prática, a nova rota cria um atalho logístico para cargas que antes costumavam sair por portos do Sudeste, como Santos.

Com o embarque em Santana, produtores do Norte e do Centro-Oeste ganham um ponto de escoamento mais próximo de áreas produtoras e integrado a hidrovias e rodovias do Arco Norte.

O encaixe com um porto de grande porte no sul da China também encurta trechos marítimos até polos industriais e centros de distribuição chineses.

A operação em Gaolan (Zhuhai) insere os embarques brasileiros na malha portuária da Grande Baía, hub que concentra serviços, armazenagem e conexões com outras cidades de Guangdong, Hong Kong e Macau.

Essa capilaridade tende a reduzir transbordos, otimizar cronogramas e diminuir o tempo total entre a origem da carga e o destino final.

Economia no frete e no tempo

Pelos cálculos apresentados pelo governo, há queda de custo por tonelada quando a carga sai pelo Arco Norte.

Na comparação com Santos, o frete da soja para a Europa ficaria US$ 14 por tonelada mais barato. Para a China, a economia seria de US$ 7,8 por tonelada.

Além do preço, o encurtamento de rotas e a redução de etapas logísticas tendem a agilizar o trânsito internacional, encadeando ganhos em prazos de entrega.

Segundo Waldez Góes, a rota “agregará muito no trabalho, no lucro e na recompensa do produtor”, ao melhorar a organização da logística nacional.

O argumento é que, com mais opções de saída, produtores e tradings podem negociar melhor fretes, distribuir fluxos e evitar gargalos em períodos de safra.

Quem ganha com a nova rota

O desenho favorece, sobretudo, cadeias do agro amazônico e do Centro-Oeste, que passam a dispor de uma alternativa competitiva para chegar ao mercado chinês.

A lista de potenciais beneficiados inclui grãos como soja, além de produtos da bioeconomia — entre eles açaí, cacau, castanha, café e pescado — que ganham escala quando conseguem embarcar com custo menor e prazos previsíveis.

Cerimônia oficial da nova rota direta entre Santana e Zhuhai reforça cooperação e escoamento do agro brasileiro." (Imagem: Abrafrutas / Comexdobrasil)
Cerimônia oficial da nova rota direta entre Santana e Zhuhai reforça cooperação e escoamento do agro brasileiro.” (Imagem: Abrafrutas / Comexdobrasil)

De acordo com o ministro, os dois governos identificaram nessa ligação um canal para escoamento de bioprodutos com valor agregado e rastreabilidade, atributos cada vez mais exigidos por compradores na Ásia.

A consolidação de cargas da Amazônia em Santana pode também estimular investimentos em armazenagem, processamento e serviços logísticos no entorno do porto.

Bioeconomia e industrialização na Amazônia

Waldez Góes defende que o impacto mais consistente virá do processamento local. “Vai demorar, mas a melhor estratégia para Amazônia é se industrializar. É agregar valor, beneficiar os produtos da região para agregar valor, gerar emprego e renda”, disse, citando açaí, cacau, café, castanha, madeira e pescado, além de oportunidades em fármacos.

Na avaliação do ministro, a região hoje fornece majoritariamente matéria-prima, mas tem espaço para avançar na etapa industrial.

Ao aproximar produtores de compradores e reduzir custos logísticos, a rota cria um ambiente mais favorável para plantas de beneficiamento, seja para transformar polpa de açaí em concentrados prontos para exportação, seja para operar moagens de cacau e torrefação de café.

Esse salto, avalia o governo, tende a reter renda e empregos na Amazônia, ampliando a competitividade regional.

China: demanda e oportunidades para o agro do Norte

Com um mercado de 1,4 bilhão de pessoas, a China é um dos principais destinos das exportações brasileiras.

Há espaço, segundo Góes, para ampliar o consumo de itens já presentes no país asiático.

“Para você ter uma ideia, o café, que já entra muito forte na China, tem um consumo per capita de um café por mês. Imagina se dobrarmos isso”, afirmou.

O raciocínio vale para soja e para produtos com apelo de biodiversidade, caso de mel, açaí, chocolate e cacau.

A rota direta para Zhuhai pode facilitar a entrada desses produtos em canais de varejo e food service chineses, encurtando negociações e garantindo regularidade de oferta.

Foto da inauguração da rota Brasil-China no Porto de Santana, destacando exportações do agro e bioeconomia com menor frete." (Imagem: Embaixada da China no Brasil / Divulgação)
Foto da inauguração da rota Brasil-China no Porto de Santana, destacando exportações do agro e bioeconomia com menor frete.” (Imagem: Embaixada da China no Brasil / Divulgação)

A logística mais enxuta tende a favorecer contratos de médio prazo e nichos que exigem frescor e qualidade, como bebidas prontas, superalimentos e ingredientes premium.

Integração bilateral e próximos passos

A cooperação Brasil–China, na leitura do governo, vem se intensificando e sustenta a decisão de abrir o novo corredor marítimo.

Além de reduzir custos para o exportador brasileiro, o fluxo de retorno pode baratear e acelerar a chegada de insumos e equipamentos chineses ao Amapá, movimentando cadeias industriais locais.

“Daí para frente, vai da nossa capacidade. Da capacidade da Região Amazônica de articular produtos de interesse da China”, resumiu o ministro, ao indicar que o ganho logístico precisa ser acompanhado de articulação comercial e organização produtiva.

Caberá a empresas, cooperativas e governos estaduais consolidar portfólios, padronizar qualidade e garantir escala para transformar a rota em vantagem competitiva permanente.

Enquanto isso, produtores e tradings observam como o novo corredor se comporta ao longo do ano, especialmente nos picos de safra, quando o custo de oportunidade de atrasos é maior.

A performance em regularidade de navios, tempo de atracação, capacidade de armazenagem e agilidade aduaneira será determinante para consolidar a confiança do mercado e ampliar o volume de contratos vinculados a Santana.

A nova ligação abre uma janela para diversificar pontos de saída, reduzir a dependência de portos do Sudeste e aproximar o agro amazônico e do Centro-Oeste do principal comprador global de alimentos.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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