Conheça a história da UFPR, fundada em 1912, que desafia o senso comum sobre qual foi a primeira universidade do Brasil e revela a surpreendente motivação de seus fundadores.
Quando se fala sobre a primeira universidade do Brasil, o pensamento comum voa diretamente para Rio de Janeiro ou São Paulo, berços de instituições icônicas como a UFRJ e a USP. No entanto, o registro histórico mais antigo de uma universidade concebida e fundada como tal aponta para o Sul: a Universidade do Paraná, hoje Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi oficialmente fundada em 19 de dezembro de 1912.
Antes mesmo da Universidade do Rio de Janeiro ser formalizada pelo governo federal em 1920, ou da USP ser estruturada em 1934, um movimento da sociedade civil paranaense, liderado por Victor Ferreira do Amaral e Silva, materializou a instituição. O mais surpreendente, contudo, não é apenas a data, mas a motivação. Conforme os registros oficiais da UFPR, o projeto nasceu de um desejo profundo de “emancipação intelectual” do estado, uma declaração de autonomia cultural e estratégica muito além das capitais do Sudeste.
Um estado em busca de emancipação intelectual

No início do século XX, o Paraná vivia um ciclo econômico robusto, impulsionado principalmente pela erva-mate e pela extração de madeira. Conforme registros de um discurso na Câmara dos Deputados em celebração aos 90 anos da instituição, essa economia criava uma demanda urgente por profissionais qualificados que o estado simplesmente não possuía. Eram necessários engenheiros para a infraestrutura, especialistas em comércio para gerir a exportação e advogados para mediar as complexas relações comerciais, que já se estendiam fortemente à Argentina.
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A elite local via-se obrigada a enviar seus filhos para estudar nas faculdades do Rio de Janeiro, São Paulo ou mesmo na Europa, um modelo caro e que drenava os talentos da região. A criação de uma universidade local não era um luxo, mas uma necessidade estratégica para a modernização. No entanto, a motivação ia além do pragmatismo econômico. O projeto foi articulado como o capítulo final da autonomia paranaense. A citação mais famosa de seu fundador, Victor Ferreira do Amaral, preservada pelo site oficial da UFPR, resume a visão: “O dia 19 de dezembro representou a emancipação política do Estado e deve também representar sua emancipação intelectual”.
A inspiração argentina e o lema “Ciência e Trabalho”
A ideia de uma universidade no Paraná não surgiu em 1912. Uma primeira tentativa, liderada pelo historiador Rocha Pombo, ocorreu em 1892, mas foi frustrada pela instabilidade política da Revolução Federalista. Vinte anos depois, o cenário era mais estável, e os idealizadores tinham uma inspiração tangível. Segundo os mesmos registros da Câmara dos Deputados, a intensa relação comercial com os países vizinhos fez com que a elite paranaense olhasse para a prestigiada Universidade de Córdoba, na Argentina, como um modelo. A existência de um centro de excelência fora da capital nacional provava que Curitiba também poderia ter o seu.
Sob o lema Scientia et Labor (Ciência e Trabalho), a universidade iniciou suas atividades em março de 1913. Os cursos pioneiros, listados pela UFPR, refletiam essa dupla missão: Ciências Jurídicas e Sociais, Engenharia, Odontologia, Farmácia e Comércio. A instituição nasceu como uma entidade privada, fruto da sociedade civil, mas recebeu apoio crucial do poder público, como a doação do terreno para seu icônico palácio na Praça Santos Andrade, um símbolo da “Luz” que o conhecimento traria ao estado.
A rixa histórica: quem é realmente a primeira?
A reivindicação da UFPR ao título de a primeira universidade do Brasil não é um consenso e alimenta uma complexa “rixa histórica”, como detalhado pelo blog Ciências e Adjacências. A disputa se baseia, fundamentalmente, em qual critério é usado para definir “universidade”. Se o critério for a data de uma escola precursora, a “Escola Universitária Livre de Manaus” foi criada em 1909. Contudo, ela só adotou o nome de “Universidade de Manaus” em julho de 1913, meses após a paranaense já estar em funcionamento, e acabou sendo extinta em 1926.
Por outro lado, se a definição exigir uma universidade criada e mantida pelo Governo Federal, a honra cabe à Universidade do Rio de Janeiro (hoje UFRJ), de 1920, que uniu escolas superiores já existentes. Alguns historiadores da educação, citados pelo blog, argumentam ainda que a primeira universidade “moderna”, com um projeto integrado de pesquisa, seria a USP de 1934.
O argumento mais forte da UFPR reside no critério da fundação original com continuidade institucional. Ela foi a primeira a ser concebida, nomeada e fundada como universidade em 19 de dezembro de 1912. E, embora uma mudança na lei federal (Reforma Carlos Maximiliano) a tenha forçado a se desmembrar administrativamente em 1918, suas faculdades constituintes nunca deixaram de funcionar. Esse espírito resiliente garantiu sua reunificação em 1946 e a federalização definitiva em 1950, consolidando o legado pioneiro.
O legado de 1912
A história da fundação da UFPR é mais do que uma disputa por datas; é um capítulo fundamental sobre a descentralização do conhecimento no Brasil. Ela demonstra como uma iniciativa regional, impulsionada pelo desejo de autonomia intelectual e necessidades econômicas, desafiou a hegemonia do Sudeste e se estabeleceu como um pilar do ensino superior, muito antes das instituições que hoje dominam o imaginário popular.
Você conhecia essa história? Na sua opinião, o que realmente define a primeira universidade do Brasil: a data de fundação, a criação pelo governo federal ou a continuidade ininterrupta das atividades? Participe do debate e deixe sua opinião nos comentários!



Muito importante essa matéria revelando o início do Ensino Superior do Brasil. Parabéns