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Como é o plano perigoso da Islândia para obter “energia ilimitada” de um vulcão

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 09/07/2024 às 09:19
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Como é o plano perigoso da Islândia para obter “energia ilimitada” de um vulcão

Apesar dos benefícios econômicos e ambientais, o uso de energia geotérmica apresenta desafios como infiltrações tóxicas na água e preocupações com o impacto visual.

A Islândia emergiu como um modelo global na produção de energia renovável. Aproximadamente 85% da energia consumida neste país deriva de fontes renováveis, o percentual mais alto do mundo. Esta nação insular, com cerca de 400.000 habitantes, gera sua eletricidade principalmente através de energia geotérmica e hidrelétrica. Um total de 73% da eletricidade provém de usinas hidrelétricas, enquanto 26,8% vem da energia geotérmica. Esses dados refletem um modelo quase autossuficiente em termos energéticos, em contraste com outros países que ainda dependem em grande medida dos combustíveis fósseis.

A chave do sucesso islandês não está apenas na disponibilidade de recursos naturais, mas também na eficiente exploração de sua peculiar geologia vulcânica. A Islândia conta com cerca de 130 vulcões, muitos dos quais estão ativos, proporcionando assim uma fonte inesgotável de energia geotérmica. Este recurso tem ajudado a transformar a economia do país, passando de uma sociedade pobre e dependente do carvão para uma nação com um alto nível de vida. Hoje em dia, 90% dos lares são aquecidos com água geotérmica, eliminando a necessidade de usar combustíveis fósseis para este fim.

Quais são as vantagens da energia geotérmica em relação à convencional

A energia geotérmica não só é sustentável, como também economicamente viável e tem baixo impacto ambiental. As últimas perfurações na Islândia atingiram profundidades de até 4.500 metros, o que poderia reduzir a superfície necessária para a extração e minimizar o impacto visual na paisagem. Além disso, os resíduos gerados são mínimos em comparação com outras fontes de energia, como o petróleo e o carvão.

73% da eletricidade islandesa provém de hidrelétricas, 26,8% de geotérmica (AP foto/Bjorn Steinbekk)

O enfoque islandês também atraiu investidores interessados em reduzir a pegada de carbono de plantas de grande consumo energético, como fornos de fundição de alumínio e centros de dados. Essa tendência é reforçada por um ambiente comercial favorável e políticas governamentais voltadas para reduzir a dependência de combustíveis fósseis. A infraestrutura para veículos elétricos está se expandindo rapidamente, com estações de carregamento disponíveis em toda a rodovia de circunvalação.

Landsvirkjun, a companhia elétrica estatal islandesa, é uma das maiores produtoras de energia renovável do mundo e tem um papel crucial na geração de energia hidrelétrica, que representa 20% do mix energético do país. Esse enfoque diversificado permitiu que a Islândia não só fosse líder em energia geotérmica, mas também em hidrelétrica, criando um modelo replicável para outros países com recursos naturais adequados.

As centrais geotérmicas da Islândia são também um atrativo turístico. Os centros de visitantes nessas instalações permitem conhecer de perto o processo de transformação da energia hidrotérmica e geotérmica em eletricidade. Essas exposições interativas são tanto educativas quanto entretenidas, mostrando a aplicação de tecnologias modernas na geração de energia.

Quais são os perigos deste plano energético

A energia geotérmica tem se destacado como uma alternativa promissora no âmbito das energias renováveis. No entanto, seus impactos ambientais e limitações técnicas apresentam desafios significativos. Uma das principais preocupações ambientais é a emissão de ácido sulfídrico e CO2. Embora essas emissões sejam relativamente pequenas em comparação com o fornecimento energético que proporciona, não deixam de representar um desafio em termos de sustentabilidade.

Outro dos perigos importantes é a possível contaminação de águas subterrâneas próximas. Durante o processo de extração de calor do subsolo, existe o risco de que substâncias tóxicas como o arsênio ou o amoníaco se infiltrem nas fontes de água. Este problema tem sido documentado em múltiplos estudos de viabilidade geotérmica.

Com 130 vulcões ativos, a Islândia transforma recursos naturais em energia sustentável

Além disso, a infraestrutura necessária para a exploração de recursos geotérmicos tem um grande impacto visual na paisagem. Torres de perfuração, tubulações e instalações industriais alteram significativamente o ambiente natural.

O desafio para a Islândia reside no setor de transporte, onde ainda se utilizam combustíveis fósseis apesar dos avanços na infraestrutura de carregamento para veículos elétricos. Os barcos pesqueiros conseguiram uma redução de 43% na poluição desde 1990, graças à melhoria na eficiência e à eletrificação da produção de alimentos pesqueiros.

A experiência islandesa proporciona lições valiosas para países que buscam reduzir sua dependência de combustíveis fósseis e aumentar seu uso de energias renováveis. Seguindo este modelo, cada nação deve avaliar seus recursos naturais disponíveis e otimizar o uso de tecnologias renováveis que melhor se adaptem às suas condições geográficas e climáticas.

A Islândia se mantém como um referente na produção sustentável de energia, aproveitando ao máximo seus recursos geotérmicos e hidrelétricos para satisfazer 99% do seu consumo elétrico. As políticas governamentais e a vontade da população converteram esta pequena nação nórdica em um líder mundial em energia limpa, mostrando o caminho para um futuro energético mais sustentável.

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Noel Budeguer

De nacionalidade argentina, sou redator de notícias e especialista na área. Abordo temas como ciência, petróleo, gás, tecnologia, indústria automotiva, energias renováveis e todas as tendências no mercado de trabalho.

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