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Como a maior fabricante brasileira de eletrônicos sumiu: ascensão da CCE, escândalos, crises, compra pela Lenovo, devolução, fábricas fechadas e fim sem suporte ao consumidor

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 15/10/2025 às 14:22
A trajetória da CCE, maior fabricante brasileira de eletrônicos, da compra pela Lenovo ao fechamento das fábricas e o fim sem suporte ao consumidor.
A trajetória da CCE, maior fabricante brasileira de eletrônicos, da compra pela Lenovo ao fechamento das fábricas e o fim sem suporte ao consumidor.
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Da liderança como maior fabricante brasileira de eletrônicos à devolução para os antigos donos após a compra pela Lenovo, a trajetória da CCE passa por escândalos, crises, fábricas fechadas e um fim sem suporte ao consumidor

A história da CCE ajuda a explicar por que a maior fabricante brasileira de eletrônicos dos anos de ouro desapareceu das prateleiras. Fundada em 1964 por Isaac Sverner, a companhia surfou a reserva de mercado, consolidou fábricas em Manaus e em São Paulo e ocupou lares com som, TV, videogames e, mais tarde, computadores e celulares de baixo custo. Preço agressivo, capilaridade e parcerias estratégicas formaram o tripé do crescimento.

O mesmo roteiro, porém, acumulou fragilidades. Crises reputacionais, investigações, decisões industriais contestadas e pressão competitiva corroeram margens e confiança. A venda para a Lenovo em 2012 parecia um salto definitivo, mas virou prelúdio do desfecho: devolução da empresa, fábricas fechadas e consumidores sem assistência.

Da importadora à vitrine nacional: como a CCE cresceu

Nos anos 1970, a CCE deixou de ser apenas importadora de componentes para fabricar em escala na Zona Franca de Manaus, aproveitando incentivos e a política de substituição de importações.

A estratégia era clara: produtos acessíveis e presença em todo o país, com destaque para aparelhos de som, TVs e os famosos “três em um”.

Parcerias e remonte de equipamentos, como a cooperação com a Kenwood, ajudaram a popularizar sistemas de áudio que marcaram época.

Mesmo sob críticas recorrentes de durabilidade, o volume vendido garantiu liderança e transformou a marca em sinônimo de eletrônica doméstica para milhões de consumidores.

Reserva de mercado, clones e diversificação de risco

Enquanto a importação era restrita, a CCE preencheu lacunas com linhas de videogames compatíveis com Atari e Nintendo e computadores de entrada como o MC1000 e clones do Apple II.

O foco era preço e disponibilidade, em um cenário de renda limitada e acesso escasso a originais importados.

Nos anos 1990 e 2000, a empresa expandiu para TVs LCD/LED, micro-ondas, geladeiras e ar-condicionado, criando submarcas e licenças.

A virada do milênio trouxe também a aposta em PCs e notebooks, com linhas como a Win e presença em feiras de inovação.

Por alguns meses em 2014, a CCE chegou ao topo do mercado de computadores, antes de ser ultrapassada por concorrentes.

O ponto de inflexão: escândalos, investigação e reestruturações

A companhia atravessou investigações sobre importação e benefícios fiscais, o que atingiu a imagem e exigiu vendas de ativos e ajustes de portfólio.

Mesmo operando, a marca carregou passivos reputacionais que encareceram crédito e reduziram a tolerância do consumidor a novos defeitos.

Essa erosão silenciosa abriu espaço para rivais com proposta de valor semelhante.

Para recompor fôlego, a CCE reorganizou negócios e demitiu, mas já enfrentava perda de tração em celulares e competição mais dura em TVs e informática.

A engrenagem de baixo custo com grande volume começou a ranger diante de exigências crescentes de qualidade e pós-venda.

A compra pela Lenovo e o início do fim

Em 2012, a Lenovo buscou entrada rápida no Brasil.

Após uma oferta bilionária recusada por outra fabricante nacional, fechou com a CCE por cerca de R$ 300 milhões, pagos em parcelas, condicionando a transferência definitiva à quitação total.

Houve modernização fabril e novos lançamentos, mas o retorno não veio no ritmo esperado.

Em 2014, com a aquisição da Motorola, a Lenovo encolheu o braço de smartphones herdado da CCE e priorizou linhas premium da própria marca.

Reclamações e multas se acumularam, a reputação piorou e a compradora não pagou a parcela final. Pelo contrato, a CCE foi devolvida aos antigos donos em 2015, já com a operação fragilizada.

Fechamento, vácuo de assistência e desgaste final

Sem liquidez, a CCE encerrou atividades em 2016, fechou a fábrica de Manaus e saiu do radar do consumidor.

O site saiu do ar, o suporte sumiu e estoques remanescentes foram escoados.

Denúncias ligando fornecedores a fraudes em incentivos adicionaram mais um capítulo ao desgaste, embora os fundadores tenham sido afastados de parte dessas ações.

O legado ficou mais na memória afetiva do que no varejo.

Por que a maior fabricante brasileira de eletrônicos desapareceu

Três vetores se combinaram. Modelo de negócios baseado em preço perdeu vantagem com a abertura e a ascensão de asiáticas de alta escala. Choques reputacionais minaram confiança e elevaram custos.

A tentativa de salto com a Lenovo não consolidou sinergias nem recuperou a relação com o consumidor. Sem caixa e sem marca forte, a queda foi rápida.

Para o mercado, fica a lição: volume sem lastro de qualidade e pós-venda cobra juros no futuro.

Para a política industrial, incentivo sem governança e medição de resultado gera campeões frágeis. E para o consumidor, o preço mais baixo pode custar caro quando a assistência desaparece.

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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