Índia está entre maiores exportadores de ‘carne bovina’ do mundo. O segredo: a carne exportada é de búfalo, animal não sagrado no país, permitindo conciliar tradição e agronegócio.
Na Índia, a vaca é um animal sagrado. Ela caminha livremente pelas ruas e é reverenciada. Mesmo assim, o país figura entre os três maiores exportadores de carne bovina do planeta. Parece uma contradição? A explicação está em um detalhe crucial: a maior parte dessa carne não vem da vaca sagrada, mas sim do búfalo asiático.
A vaca sagrada na Índia: tradição, religião e leis
Para milhões de indianos, principalmente os hindus, a vaca é mais que um animal. Ela representa pureza, fertilidade e a generosidade da vida. Fornece leite, esterco e força de trabalho. Textos sagrados milenares a associam a deusas como Lakshmi e Bhumi.
Por isso, em muitos estados da Índia, o abate de vacas é estritamente proibido por lei. O respeito por ela é profundo e parte essencial da cultura nacional, mesmo com a diversidade religiosa do país.
-
Weg aposta R$ 160 milhões no ES. O que está por trás desse investimento milionário?
-
Entrou em vigor nesse mês: Estado aprova salário mínimo regional até R$ 2.267, um dos maiores do Brasil
-
Férias antecipadas podem virar dor de cabeça se você ignorar essa regra da CLT
-
Governo do ES lança licitação para mega obra de R$ 228 milhões na Serra
A carne exportada é de búfalo, não de vaca
Se a vaca é intocável, de onde vem a carne exportada? A resposta está no búfalo asiático (Bubalus bubalis). Este animal, comum na Índia, não possui o mesmo status sagrado da vaca dentro do hinduísmo. Portanto, seu abate e consumo são permitidos.
O ponto chave é que, nos mercados internacionais e nas estatísticas, a carne de búfalo é frequentemente classificada genericamente como “carne bovina”. Esse detalhe técnico permite à Índia ser uma potência exportadora sem violar suas crenças majoritárias.
Como funciona a bilionária indústria de carne de búfalo na Índia
A Índia possui a maior população mundial de búfalos, estimada em mais de 110 milhões. A criação é feita majoritariamente por pequenos produtores rurais. Os búfalos são valorizados pela produção de leite. Quando sua vida produtiva (leite, reprodução) termina, eles podem ser direcionados ao abate. Existem dezenas de frigoríficos modernos e certificados no país.
Muitos seguem o abate Halal, atendendo às exigências de países muçulmanos. É importante notar que grande parte dessa produção é voltada exclusivamente para exportação. O consumo interno de carne de búfalo é limitado em muitas regiões da Índia.
Para onde vai a carne?
A carne de búfalo da Índia tem destinos estratégicos. Os principais compradores são países do Sudeste Asiático (Vietnã, Malásia, Indonésia), Oriente Médio (Egito, Arábia Saudita) e partes da África. Esses mercados preferem o produto indiano por dois motivos principais: o preço (até 30% mais baixo que o boi) e o certificado Halal.
O Vietnã funciona também como porta de entrada informal para o mercado chinês. Anualmente, a Índia exporta cerca de 2 milhões de toneladas, gerando de 3 a 4 bilhões de dólares. Isso representa aproximadamente 20% do comércio global de carne bovina (incluindo búfalo).
Conflitos internos entre tradição e lucro
Apesar do sucesso econômico, a indústria de carne de búfalo não é isenta de tensões internas na Índia. Grupos religiosos mais conservadores protestam contra o abate. Conflitos e até violência podem ocorrer, às vezes por confundirem o transporte de búfalos com o de vacas. Por outro lado, o setor agroindustrial defende a atividade pela geração de renda e pelo aproveitamento de animais.
A legislação sobre o abate varia entre os estados, criando um cenário fragmentado. O governo federal geralmente apoia a exportação, enquanto governos estaduais podem impor restrições. A Índia segue administrando esse complexo equilíbrio entre fé, tradição e os bilhões gerados pela exportação de carne de búfalo.