A privatização da Ream transformou Manaus em base logística, derrubou o refino local e fez a gasolina disparar no Amazonas, com alta de 52,6% e litro já acima dos R$ 7,00
O preço da gasolina no Amazonas disparou desde a privatização da Refinaria de Manaus (Ream), transformando a vida dos consumidores em um verdadeiro desafio.
Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgados pela subseção da Federação Única dos Petroleiros (FUP), a alta acumulada chega a 52,6% desde 2022.
O litro, que custava R$ 4,60 em dezembro daquele ano, atingiu R$ 7,02 em agosto de 2025, colocando a região entre as mais caras do país no abastecimento.
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Um boletim do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo e Gás (Ineep), publicado no dia 15 de setembro, confirmou que a Região Norte registrou o maior preço médio nacional: R$ 6,19 por litro.
Estados como Amazonas e Acre puxaram essa média, em contraste com o Sudeste, onde o valor ficou em R$ 6,05.
De refinaria a base logística
Antes da privatização, a Ream processava mais de 900 mil barris de petróleo por mês, com destaque para a produção de Urucu (AM). Em 2025, porém, a atividade caiu a níveis simbólicos: apenas 296 mil barris em março e 114 mil em abril.
Hoje, sob controle do grupo Atem, a unidade funciona basicamente como terminal de armazenamento, deixando de refinar petróleo e ampliando a dependência de derivados vindos de outras regiões.
Para Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP, essa mudança encareceu ainda mais os custos logísticos. “Os consumidores amazonenses já estão entre os que mais pagam pela gasolina e pelo gás de cozinha no país. A perda do refino local só agravou esse cenário”, afirmou.
Documento enviado a Lula
A FUP e o Sindicato dos Petroleiros do Amazonas (Sindipetro-AM) entregaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um relatório detalhando os impactos da privatização. O documento aponta:
- queda abrupta da atividade de refino;
- maior dependência de importações;
- preços considerados abusivos;
- demissões em massa e precarização do trabalho;
- perdas bilionárias para os cofres do estado;
- risco de a unidade virar apenas terminal de estocagem.
Alternativas propostas
Entre as medidas sugeridas, as entidades defendem duas saídas principais: reverter a privatização, reincorporando a refinaria à Petrobrás, ou estabelecer uma parceria com o grupo Atem para retomar o processamento do petróleo de Urucu em Manaus.
Segundo Bacelar, essas ações poderiam reduzir custos logísticos, gerar novamente empregos qualificados e fortalecer a economia regional.
Além disso, o documento cobra a inclusão do Amazonas na estratégia nacional de energia, com a Petrobrás reassumindo papel central no setor de refino e garantindo preços mais acessíveis para a população.