Com investimento de US$ 100 bilhões e quatro ilhas artificiais sobre o mar, Forest City, o megaprojeto futurista prometia abrigar 700 mil pessoas, mas se tornou uma cidade-fantasma moderna.
Erguida sobre o mar do estreito de Johor, entre a Malásia e Cingapura, a chamada Forest City nasceu para ser um símbolo da modernidade asiática. O projeto, avaliado em mais de US$ 100 bilhões, foi idealizado pela gigante chinesa Country Garden Holdings, em parceria com o governo da Malásia. O objetivo era criar uma cidade inteligente, 100% sustentável, voltada para a elite global, com arranha-céus futuristas, shoppings de luxo, escolas internacionais e condomínios flutuantes. Mas, anos após o início das obras, o sonho se transformou em um silêncio quase absoluto — um labirinto de prédios vazios que abriga apenas uma fração dos moradores esperados.
Uma cidade sobre o mar e a promessa de um futuro verde
Anunciado oficialmente em 2016, o projeto ocupou uma área de 14 km², construída inteiramente sobre quatro ilhas artificiais criadas com areia dragada do fundo do mar. A promessa era ousada: erguer uma metrópole autossuficiente com 700 mil habitantes, infraestrutura de ponta e conectividade total com Cingapura, que fica a poucos quilômetros de distância.
As obras foram aceleradas por empresas chinesas que usaram tecnologias de construção modular e engenharia costeira avançada, um feito comparável às ilhas artificiais de Dubai, mas com foco residencial e urbano.
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Além dos edifícios inteligentes, Forest City incluía planos para um sistema de transporte elétrico autônomo, áreas verdes suspensas e uma política de emissão zero de carbono.
O marketing vendia o projeto como “a cidade do futuro”, uma espécie de metrópole verde do século XXI, que serviria de modelo para o mundo. O governo malaio chegou a classificar o empreendimento como “zona econômica especial”, com incentivos fiscais e facilidades para investidores estrangeiros.
De cidade modelo a cidade fantasma
No entanto, o que parecia um sonho de sustentabilidade se tornou um símbolo do excesso e da especulação imobiliária.
As tensões políticas entre Malásia e China, somadas às restrições de investimento impostas por Pequim, travaram o fluxo de compradores chineses, principais alvos da incorporadora. Segundo dados da Bloomberg, até 2024 apenas 8 mil pessoas viviam no local, o que representa 1% da população prevista originalmente.
O cenário é de uma cidade quase deserta: torres de luxo erguidas à beira-mar, avenidas largas e limpas, mas sem movimento, lojas fechadas e ruas silenciosas.
Reportagens da BBC e do South China Morning Post descrevem o local como um “paraíso vazio”, onde a infraestrutura é completa, mas a vida urbana nunca começou. Os próprios funcionários da incorporadora vivem nos prédios para evitar que a cidade pareça abandonada.
Impactos ambientais e econômicos bilionários de Forest City
A construção das ilhas artificiais exigiu o deslocamento de comunidades de pescadores e causou impactos severos no ecossistema marinho local. Foram usados mais de 160 milhões de toneladas de areia dragadas da costa da Malásia, alterando o equilíbrio natural da região.
Além disso, o custo ambiental se somou ao colapso financeiro: os imóveis luxuosos, que antes custavam o equivalente a US$ 1 milhão, hoje estão sendo vendidos por valores até 70% mais baixos.
O The Guardian apontou que o projeto se tornou um alerta para megainvestimentos imobiliários baseados em capital estrangeiro dependentes de ciclos de crédito e de estabilidade política.
Forest City ainda é mantida em operação pela Country Garden, mas enfrenta um futuro incerto: os prédios estão prontos, porém sem moradores, e a promessa de uma cidade inteligente flutuante ficou restrita ao papel e aos vídeos promocionais de uma década atrás.
Um retrato das ambições e limites da engenharia moderna
Forest City é, hoje, o retrato de uma era em que a engenharia parecia capaz de dobrar as leis da natureza e do mercado. Com sua arquitetura de vidro e aço refletindo o mar, ela simboliza a ambição humana de criar o impossível e os riscos de fazê-lo sem equilíbrio.
As ruas largas, os jardins verticais e os canais artificiais ainda impressionam, mas a ausência de vida revela o contraste entre a utopia e a realidade.
Mesmo assim, o projeto não foi oficialmente encerrado. Autoridades malaias afirmam que há planos de retomada com novos incentivos, tentando transformar o local em um polo de turismo ecológico e inovação.
Seja qual for o desfecho, Forest City permanecerá como um marco da engenharia contemporânea — uma cidade que nasceu sobre o mar, sonhou com o futuro, mas naufragou em seu próprio gigantismo.


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