Com 80 andares e apartamentos de alto valor, os arranha-céus de Balneário Camboriú viraram símbolo de luxo — e polêmica por sombrear a praia.
Balneário Camboriú, em Santa Catarina, deixou de ser apenas um balneário turístico para se tornar sinônimo de ostentação. Nos últimos dez anos, a cidade passou a concentrar os maiores edifícios residenciais do Brasil e da América Latina, abrigando uma coleção de arranha-céus que transformaram a paisagem da orla. O One Tower, concluído em 2022, é o mais alto do país: 84 andares e 290 metros de altura, ultrapassando em quase cinco vezes o Cristo Redentor, que tem 38 metros. Ao lado dele, o Yachthouse Residence Club, com 81 andares e 281 metros, ficou famoso por ter como proprietário de uma das unidades o jogador Neymar.
Esse movimento urbanístico não apenas colocou Balneário Camboriú no mapa da engenharia mundial, mas também gerou debates acalorados: até que ponto o luxo desses prédios colabora com a economia local e quando começa a prejudicar a própria cidade?
Apartamentos milionários que impressionam
O luxo dos arranha-céus catarinenses é refletido nos números. De acordo com imobiliárias locais, os apartamentos chegam a custar entre R$ 15 milhões e R$ 30 milhões, dependendo da altura, vista e metragem.
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Cada unidade pode ultrapassar 400 m², com plantas abertas, pé-direito duplo, varandas panorâmicas com hidromassagem, suítes de até 80 m² e ambientes exclusivos para lazer. Os prédios oferecem ainda helipontos, spas, cinemas privados, wine bars, salões de festas e até marinas exclusivas.
É um padrão que rivaliza com imóveis de luxo em Miami ou Dubai, atraindo bilionários, investidores estrangeiros e famosos brasileiros.
A engenharia por trás dos gigantes
Erguer arranha-céus em uma cidade costeira trouxe desafios técnicos de proporções inéditas no Brasil. Para suportar os ventos fortes do litoral, os prédios contam com estruturas de concreto especial, fundações profundas e tecnologia importada.
No caso do One Tower, por exemplo:
- Foram usadas mais de 40 mil toneladas de concreto.
- A obra levou oito anos para ser concluída.
- A torre recebeu sistemas de amortecimento de vento semelhantes aos usados em arranha-céus da Ásia.
Segundo a construtora Pasqualotto, responsável pelo Yachthouse, os elevadores podem chegar a 7 m/s de velocidade, permitindo que moradores subam até o 81º andar em menos de um minuto.
O preço do luxo: sombra na praia
Mas nem tudo é glamour. Desde que os primeiros prédios começaram a se erguer na orla de Balneário Camboriú, moradores e turistas perceberam um efeito colateral: as torres gigantes projetam sombra sobre a praia durante boa parte do dia.
Reportagens da BBC Brasil (2021) e da Folha de S. Paulo (2022) mostraram como a verticalização extrema mudou a relação da cidade com o turismo. Na alta temporada, milhares de visitantes chegam à praia central e encontram a faixa de areia parcialmente escurecida pelas sombras dos prédios.
O fenômeno já rendeu protestos, críticas de ambientalistas e debates sobre planejamento urbano. Para alguns, a cidade se tornou um símbolo de desigualdade, em que o sol, antes democrático, agora parece privilégio de quem pode pagar pelas coberturas com vista panorâmica.
A resposta da cidade: alargamento da faixa de areia
Em 2021, a prefeitura de Balneário Camboriú concluiu uma das obras mais ousadas da história urbanística brasileira: o alargamento da faixa de areia da praia central, que passou de 25 para 70 metros de largura.
O objetivo declarado era devolver espaço aos banhistas e reduzir o impacto das sombras dos prédios. O projeto, que custou cerca de R$ 67 milhões, usou areia dragada do fundo do mar e dobrou a área útil da praia.
A medida, no entanto, não encerrou as críticas. Para urbanistas, o alargamento foi uma solução paliativa, já que a altura das torres continua crescendo. Para os defensores, a obra consolidou a cidade como um exemplo de modernização urbana no Brasil.
Balneário Camboriú: símbolo de ostentação
Balneário Camboriú já foi apelidada de “Dubai brasileira” justamente por abrigar alguns dos imóveis mais caros do país em uma cidade de pouco mais de 150 mil habitantes.
Enquanto milionários investem em apartamentos de luxo, parte da população enfrenta custos de vida elevados, trânsito congestionado e impacto ambiental. O contraste ficou evidente nos últimos censos: enquanto a renda média da orla cresce, bairros afastados sofrem com problemas de mobilidade e infraestrutura.
Ainda assim, os arranha-céus se tornaram cartão-postal da cidade e atraem milhares de turistas curiosos que visitam o litoral não apenas para tomar sol, mas para ver de perto os maiores edifícios residenciais da América Latina.
Comparações internacionais: Balneário entre os gigantes
Embora arranha-céus residenciais de 300 metros sejam comuns em cidades como Dubai e Hong Kong, o fato de estarem em uma cidade litorânea brasileira de médio porte torna Balneário Camboriú um caso singular no mundo.
- One Tower (Brasil): 290 metros, 84 andares.
- Yachthouse (Brasil): 281 metros, 81 andares.
- Princess Tower (Dubai): 413 metros, 101 andares.
- 432 Park Avenue (Nova York): 425 metros, 85 andares.
Na prática, Balneário está hoje no ranking global das cidades com maior concentração de edifícios residenciais acima de 250 metros — um feito que nenhuma outra cidade latino-americana alcançou.
Entre o orgulho e a polêmica
O futuro de Balneário Camboriú segue em debate. Para uns, os prédios são um símbolo de progresso, luxo e inovação.
Para outros, representam um erro de planejamento urbano, que privilegia poucos em detrimento do coletivo.
O que não há como negar é que os arranha-céus mudaram para sempre a identidade da cidade. Hoje, Balneário não é apenas um destino de praia: é um exemplo extremo de verticalização, um palco de contrastes onde milionários assistem ao pôr do sol de suas coberturas enquanto turistas buscam um espaço de areia iluminada pelo sol que ainda resta na orla.