Com 333 m, reatores nucleares e custo acima de US$ 13 bi, o USS Gerald R. Ford é o navio mais caro e poderoso da história, capaz de lançar 75 aeronaves simultaneamente.
O USS Gerald R. Ford (CVN-78) não é apenas o maior porta-aviões nuclear já construído, ele representa a transição definitiva da Marinha dos Estados Unidos para uma nova era de supremacia tecnológica. Com 333 metros de comprimento, 78 metros de largura e mais de 100 mil toneladas de deslocamento, o superporta-aviões é o núcleo de uma frota que deverá dominar os mares até meados de 2075.
Batizado em homenagem ao 38º presidente dos EUA, o navio teve sua construção iniciada em 2009 e entrou oficialmente em operação em 2022, após mais de uma década de testes, atrasos e ajustes orçamentários.
O resultado, porém, é uma obra-prima de engenharia e poder, capaz de operar quase de forma autônoma em qualquer ponto do planeta.
O estaleiro que moldou um colosso
O projeto foi executado pelo estaleiro Newport News Shipbuilding, na Virgínia, o único nos Estados Unidos autorizado a construir porta-aviões nucleares. Mais de 5 mil engenheiros e técnicos participaram do processo, que envolveu mais de 60 mil toneladas de aço naval e a instalação de sistemas inéditos em embarcações de guerra.
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Cada seção do navio foi construída em módulos, posteriormente unidos em uma operação que exigiu o uso de guindastes capazes de levantar blocos de até 1.000 toneladas.
A complexidade era tamanha que o estaleiro precisou redesenhar processos logísticos inteiros para atender aos requisitos de precisão da Marinha.
O custo mais alto da história naval
O USS Gerald R. Ford custou oficialmente US$ 13,3 bilhões apenas na construção. Mas o valor total do programa que inclui pesquisa, desenvolvimento, testes e novos sistemas de lançamento — ultrapassa os US$ 30 bilhões, segundo o Congressional Research Service.
Esse montante faz dele o navio mais caro da história da humanidade. Só o sistema de catapultas eletromagnéticas (EMALS) e o radar multifuncional AN/SPY-3 consumiram bilhões de dólares em desenvolvimento.
Ainda assim, a Marinha defende o investimento, alegando que o novo design reduzirá em até 25% os custos operacionais nas próximas décadas, graças à automação e à eficiência energética.
Reatores nucleares: energia para 25 anos
O Gerald R. Ford é movido por dois reatores nucleares Bechtel A1B, desenvolvidos especificamente para essa classe. Juntos, eles geram energia suficiente para abastecer uma cidade de 100 mil habitantes e podem operar por até 25 anos sem recarga de combustível.
Essa independência energética garante autonomia quase ilimitada em missões de longa duração, permitindo que o navio cruze oceanos sem depender de reabastecimento.
O excedente de energia elétrica também serve para alimentar os novos sistemas de propulsão, radar, sensores e armamentos de energia direcionada — tecnologias que a Marinha planeja introduzir gradualmente até 2035.
Catapultas eletromagnéticas e convés revolucionário
O EMALS (Electromagnetic Aircraft Launch System) é uma das grandes inovações do Gerald R. Ford. Diferente das catapultas a vapor usadas por décadas, ele utiliza energia eletromagnética para lançar aeronaves, reduzindo o desgaste estrutural, o consumo de combustível e o tempo entre decolagens.
Esse sistema permite lançar até 75 aeronaves em ritmo contínuo, com maior precisão e segurança. No convés, o redesenho completo do layout permitiu ampliar a eficiência operacional em 30%, com rotas de taxiamento mais curtas e novas posições de decolagem e pouso.
Quatro elevadores de armas totalmente automatizados transportam mísseis e bombas diretamente aos hangares inferiores, eliminando processos manuais e reduzindo a necessidade de pessoal em áreas críticas.
A bordo de uma cidade flutuante
O Gerald R. Ford abriga cerca de 4.500 pessoas entre marinheiros, pilotos, engenheiros e pessoal de apoio. O interior foi planejado para oferecer conforto e funcionalidade, algo incomum em embarcações militares.
Há dormitórios climatizados, cozinhas industriais automatizadas, academias de musculação, áreas de lazer e centros médicos capazes de realizar cirurgias complexas em alto-mar.
As cozinhas são capazes de preparar mais de 15 mil refeições por dia, e o sistema de ventilação silenciosa garante melhores condições de descanso. Essa preocupação com o bem-estar da tripulação é parte do novo conceito de operação de longo prazo: o navio pode permanecer meses em missão sem retorno à base.
Supremacia tecnológica e poder de dissuasão
O porta-aviões foi projetado para operar os caças F/A-18 Super Hornet, F-35C Lightning II e aeronaves de alerta antecipado E-2D Hawkeye. Seu radar multifuncional AN/SPY-3 permite rastrear múltiplos alvos simultaneamente e coordenar ataques com precisão cirúrgica.
Além disso, o Gerald R. Ford é equipado com sistemas de defesa antimísseis SeaRAM e Phalanx CIWS, capazes de interceptar projéteis supersônicos e drones. O uso extensivo de automação reduziu a necessidade de tripulantes em quase mil pessoas em relação à classe Nimitz, diminuindo custos e riscos humanos.
Para a Marinha dos EUA, ele não é apenas uma embarcação é uma base aérea móvel e autônoma, um ativo estratégico projetado para garantir a supremacia marítima em qualquer conflito do século XXI.
Da classe Nimitz à classe Ford: a transição de gerações
Durante mais de 50 anos, os porta-aviões da classe Nimitz simbolizaram o poder americano. Mas suas limitações como sistemas de catapultas a vapor e capacidade energética restrita — exigiam uma nova geração de embarcações.
A classe Ford surgiu para responder a essas deficiências, incorporando soluções que aumentam a capacidade de voo, reduzem custos operacionais e ampliam a compatibilidade com aeronaves furtivas.
O USS Gerald R. Ford, como primeiro exemplar, é a base de aprendizado para os próximos navios da série, como o USS John F. Kennedy (CVN-79), o USS Enterprise (CVN-80) e o USS Doris Miller (CVN-81). Cada um custará menos que o anterior, à medida que o processo de construção se torna mais eficiente.
O porta-aviões Gerald R. Ford representa muito mais que uma conquista de engenharia: ele é um instrumento de dissuasão global. Capaz de permanecer semanas em operação sem apoio logístico, pode se deslocar rapidamente entre o Atlântico e o Pacífico, projetando força em regiões de tensão.
Em exercícios recentes, o navio liderou grupos de ataque em missões conjuntas com aliados da OTAN, demonstrando a capacidade de lançar dezenas de aeronaves em poucos minutos. Essa projeção de poder serve como mensagem política e militar, reforçando o papel dos Estados Unidos como potência marítima indiscutível.
O futuro da guerra naval
O USS Gerald R. Ford é mais do que uma arma — é uma plataforma de testes para o futuro da guerra naval. Sua infraestrutura elétrica e seus sistemas de controle foram planejados para receber armas de energia dirigida, como lasers e canhões eletromagnéticos, ainda em fase de desenvolvimento.
Além disso, novas tecnologias de inteligência artificial e manutenção preditiva estão sendo integradas para automatizar inspeções e reduzir falhas operacionais. O objetivo da Marinha é que os próximos navios da classe Ford sejam ainda mais autônomos, econômicos e sustentáveis.
A criação do Gerald R. Ford mostra como a engenharia naval se tornou um instrumento de poder geopolítico. Cada detalhe dos reatores aos elevadores automatizados — representa uma aposta em eficiência e dominação tecnológica.
Os Estados Unidos investem pesadamente nesse modelo porque sabem que o controle dos mares é vital para manter sua influência global. O Ford é, portanto, mais que um navio: é uma mensagem de aço, tecnologia e estratégia.
Com 333 metros de extensão, dois reatores nucleares e custo superior a US$ 30 bilhões, o USS Gerald R. Ford é o ápice do poder naval contemporâneo. Ele inaugura uma nova era de porta-aviões movidos pela energia atômica, pela automação e pela inteligência digital.
Sua presença nos oceanos redefine o equilíbrio de forças mundiais, reafirmando a capacidade dos Estados Unidos de projetar poder em qualquer ponto do globo. É o símbolo máximo de uma civilização que transforma ciência, aço e estratégia em instrumentos de domínio.



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