Com dois novos projetos — uma planta de energia solar e outra de biometano — a Cocal reforça sua estratégia de diversificação para além da cana-de-açúcar e se posiciona como referência na produção de gás renovável no Brasil.
A Cocal, uma das sócias da Copersucar e referência no setor sucroenergético, está intensificando sua aposta nas energias renováveis com investimentos robustos e novas iniciativas voltadas à sustentabilidade. A companhia destinou R$ 241 milhões à construção de duas plantas: uma solar, já em operação desde abril, e uma de biometano, que será inaugurada em julho em Paraguaçu Paulista (SP). A movimentação marca um reposicionamento estratégico que visa ampliar sua presença em mercados além da tradicional produção a partir da cana-de-açúcar.
Biometano é a nova aposta estratégica para o futuro energético
O maior destaque entre os novos projetos é a planta de biometano, que vai operar a partir da purificação do biogás gerado por resíduos industriais da própria usina de cana, como vinhaça e torta de filtro.
A nova unidade será uma extensão da planta de biogás já existente e terá capacidade de produzir até 60 mil metros cúbicos de biometano por dia, substituindo combustíveis fósseis em diversas aplicações industriais e logísticas.
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O investimento de R$ 216 milhões foi viabilizado integralmente com recursos do Fundo Clima, do BNDES, e a tecnologia de purificação utilizada é fornecida pela Geo bio gas&carbono, que detém uma participação minoritária de 5% no projeto.
Nova regulamentação estimula o mercado
A produção da Cocal chega em um momento crucial, com o setor se preparando para a implementação do novo marco regulatório do biometano, previsto para 2026, que obriga produtores e importadores de gás natural a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 1%.
A Cocal participou da chamada pública organizada pela Petrobras no início do ano, apresentando propostas para fornecimento de biometano entre 2026 e 2029, de forma antecipada ao marco legal.
“Fomos um dos poucos players que fizeram oferta para 2026”, afirmou André Gustavo Alves da Silva, diretor comercial de novos produtos da empresa.
Embora os detalhes da oferta não tenham sido divulgados, a empresa também apresentou propostas com o atributo verde do biometano — uma característica que permite negociar o valor ambiental do combustível de forma separada da molécula, tornando-o ainda mais atrativo para o mercado regulado.
Frota da Cocal já utiliza o biometano na operação
A experiência com biometano não é inédita para a empresa. Em sua primeira planta, localizada em Narandiba (SP), o gás renovável já é usado no abastecimento de 35 equipamentos agrícolas, contribuindo diretamente para a substituição do diesel fóssil.
A mudança representa uma economia anual de cerca de 2 milhões de litros de diesel, de um consumo total de 30 milhões por ano.
Apesar do sucesso, o uso ainda enfrenta limitações, principalmente devido aos desafios logísticos para abastecimento em campo e às exigências de segurança operacional.
Para superar essas barreiras, a Cocal mantém uma parceria com a fabricante MWM para adaptar motores diesel para o uso de etanol, ampliando as alternativas sustentáveis dentro de sua frota.
Mercado em expansão e múltiplos destinos para o biometano
Mesmo sem depender exclusivamente do marco legal para garantir vendas, a Cocal acredita que a demanda por biometano já é maior do que a oferta atual no mercado brasileiro.
“O mercado está muito mais demandante do que ofertante”, reforça Silva.
Além do uso na frota própria, o biometano poderá ser direcionado à indústria ou fornecido a consumidores locais como gás natural convencional, especialmente quando comercializado sem seu atributo ambiental, que pode ser negociado separadamente.
SAF a partir do biometano: inovação para o setor aéreo
Outro projeto em estudo que envolve a Cocal é a possibilidade de integrar sua produção de biometano a uma futura planta de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), tecnologia que representa um dos caminhos mais promissores para descarbonizar o setor aéreo global.
A proposta, ainda em fase inicial, é desenvolvida por meio de uma joint venture entre a Copersucar e a Geo bio gas&carbono, com planos de utilizar o processo Fischer–Tropsch, que converte gases em líquidos. A Cocal, como a única usina associada da Copersucar com produção ativa de biometano, surge como candidata natural para viabilizar essa iniciativa.
“A dificuldade é converter a tecnologia europeia em tecnologia nacional”, afirmou o executivo, destacando os desafios técnicos para adaptar o processo às condições brasileiras.
Diversificação além da cana-de-açúcar
A nova fase da Cocal representa um movimento claro de diversificação energética. Entre 2017 e 2022, a empresa concentrou esforços em extrair o máximo da cana-de-açúcar, incluindo o desenvolvimento de leveduras, biogás e CO₂ industrial.
Agora, o foco se amplia para integrar esse ecossistema a outras fontes limpas, como o sol e o gás renovável.
Com essas ações, a empresa demonstra que seu olhar está voltado ao futuro da energia, ancorado em práticas sustentáveis, tecnologias nacionais e soluções que atendem às exigências ambientais e do mercado.