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Cientistas revelam solução simples e barata que reduz em 51% as emissões de metano e acelera a compostagem — o segredo está no biochar, um pó preto feito de palha

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 24/10/2025 às 17:56
Pesquisa revela que o biochar reduz 51% do metano na compostagem, acelera a decomposição e torna o solo mais fértil
Pesquisa revela que o biochar reduz 51% do metano na compostagem, acelera a decomposição e torna o solo mais fértil
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Um novo estudo internacional mostra que o biochar — um pó preto obtido da palha vegetal — acelera a decomposição, reduz em até 51% as emissões de metano e ainda melhora a qualidade do solo

Um novo estudo internacional liderado pela Universidade Agrícola de Sichuan revelou que adicionar biochar — um tipo de carvão vegetal produzido a partir de resíduos agrícolas — à compostagem reduz as emissões de metano em até 51% e acelera o processo de maturação do composto.

A descoberta, resultado de uma análise envolvendo 125 projetos em diversos países, demonstra que uma simples mudança pode tornar o manejo de resíduos orgânicos mais limpo, eficiente e sustentável, sem necessidade de tecnologias complexas ou produtos químicos.

Biochar: o acelerador natural que faltava

O biochar se assemelha a um pó preto e é obtido pela pirólise — processo que aquece resíduos vegetais como palha ou cascas, na ausência de oxigênio. O resultado é um material poroso, rico em carbono, com capacidade de transformar a compostagem tradicional em um sistema muito mais controlado e menos poluente.

Embora comunidades indígenas da Amazônia já utilizassem formas semelhantes desse material há séculos para melhorar a fertilidade do solo, o estudo chinês fornece agora evidências científicas robustas do papel do biochar como potencializador da compostagem e redutor de emissões nocivas.

Compostagem mais rápida, mais limpa e mais nutritiva

A pesquisa mostrou resultados consistentes: a taxa de germinação do composto aumentou em 25%, o nitrato de nitrogênio cresceu 32% e o amônio caiu 35%. A

relação carbono-nitrogênio, por sua vez, diminuiu em 5%. Em termos práticos, o composto torna-se mais estável, nutritivo e menos tóxico, amadurecendo de forma mais rápida e com melhor qualidade.

Essas melhorias ocorrem porque o biochar atua como uma estrutura que otimiza a oxigenação e retém nutrientes essenciais. Assim, evita-se o desperdício de nitrogênio, ao mesmo tempo em que se reduz a geração de gases prejudiciais, como metano, amônia e óxidos de nitrogênio — todos reconhecidamente agravantes do aquecimento global.

Menos emissões, mais eficiência ambiental

A adição de biochar ao processo de compostagem levou a reduções significativas nas emissões: metano (-51%), óxidos de nitrogênio (-43%) e amônia (-48%).

Segundo os pesquisadores, a estrutura porosa do biochar funciona como uma esponja e um canal de ventilação, permitindo a circulação de ar e dificultando o surgimento de bactérias anaeróbicas — principais responsáveis pela formação de metano.

Além disso, o material retém o nitrogênio que, de outra forma, escaparia como gás tóxico.

O resultado é uma compostagem mais eficiente e menos poluente, viável tanto em instalações de médio porte quanto em espaços urbanos, onde a gestão de resíduos orgânicos enfrenta limitações estruturais.

A mistura ideal: equilíbrio é essencial

Os resultados do estudo também mostraram que nem todo biochar apresenta o mesmo desempenho. O tipo de matéria-prima, a temperatura de pirólise e até o tamanho dos poros influenciam diretamente a eficiência do processo.

O biochar mais eficaz é o produzido a partir de palha vegetal, submetido a temperaturas acima de 400 °C, com poros pequenos e área de superfície moderada.

No composto, a proporção ideal é de 12% de biochar e 55 a 60% de umidade, com relação carbono-nitrogênio inicial entre 24 e 28. Esse equilíbrio garante fermentação controlada, textura homogênea e ausência de odores desagradáveis.

Microrganismos: os aliados invisíveis da decomposição

Além de atuar fisicamente, o biochar altera o ecossistema microbiano da compostagem. Suas microcavidades servem de abrigo para bactérias benéficas que aceleram a decomposição e aumentam a eficiência do processo.

O estudo demonstrou que o biochar com poros pequenos — especialmente o derivado da palha — promove comunidades microbianas mais ativas e diversificadas, enquanto o biochar de madeira, com poros grandes, reduz a circulação de oxigênio e retarda a decomposição.

Essa reorganização microbiana transforma o composto em um ambiente aeróbico mais equilibrado, que favorece a decomposição completa e reduz drasticamente a formação de gases perigosos.

Compostagem previsível e escalável

Os cientistas definiram quatro fatores determinantes para o sucesso da compostagem com biochar: volume dos poros, tipo de biochar, proporção utilizada e teor de umidade. Essa hierarquia permite desenvolver sistemas mais previsíveis e replicáveis em diferentes escalas, sem depender de longos períodos de teste e erro.

A pesquisa mostra que a adição de mais de 12% de biochar de palha, bem distribuído, é suficiente para garantir compostos mais estáveis e seguros.

Quando combinado com lodo orgânico tratado — como o proveniente de estações de tratamento de esgoto —, o biochar fecha ciclos de reaproveitamento em áreas rurais e urbanas, transformando resíduos em recursos valiosos.

Do resíduo agrícola ao recurso estratégico

O biochar representa uma tecnologia de dupla função: converte resíduos agrícolas em um material útil e reduz significativamente as emissões de gases de efeito estufa. É uma abordagem simples, de baixo custo e com potencial para revolucionar a gestão de resíduos e a recuperação de solos degradados.

Exemplos concretos já estão surgindo em diferentes regiões do mundo. Na Índia, cooperativas rurais utilizam o biochar para compostar restos de cana-de-açúcar.

Na Espanha, governos locais começaram a integrar o material em programas comunitários de compostagem. No Chile, pesquisadores estudam sua aplicação simultânea em resíduos urbanos e agrícolas.

Além de tornar a compostagem mais eficiente, o biochar melhora propriedades mais profundas do solo, como a formação de ácidos húmicos e a capacidade de retenção de carbono a longo prazo — fatores decisivos para combater a degradação ambiental.

Em síntese, o estudo liderado pela Universidade Agrícola de Sichuan aponta que a simples inclusão de biochar na compostagem pode transformar uma prática tradicional em uma solução poderosa contra as mudanças climáticas.

Com menos gases nocivos, decomposição mais rápida e solos mais férteis, o biocarvão se consolida como uma ferramenta essencial para um futuro agrícola e urbano mais sustentável.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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