Durante décadas, Marte foi alvo de especulações sobre a possibilidade de abrigar vida. Agora, novas análises do rover Perseverance apontam marcas minerais associadas a atividade biológica, oferecendo os indícios mais consistentes já registrados pela NASA e reacendendo o debate sobre a presença de organismos no passado do planeta.
Nesta semana, a NASA anunciou a descoberta considerada por seus cientistas como a evidência mais clara até agora de vida em Marte.
Os achados foram feitos pelo rover Perseverance ao investigar regiões ao norte do equador marciano, onde foram identificadas marcas circulares enferrujadas conhecidas como “manchas de leopardo“.
Após um ano de análises e revisões, pesquisadores afirmam que essas formações podem representar bioassinaturas de organismos microbianos que viveram bilhões de anos atrás.
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Marcas incomuns no local conhecido como Bright Angel
As evidências de vida em Marte foram encontradas em uma área chamada Bright Angel, localizada no leito de um antigo rio seco na Cratera de Jezero.
O Perseverance identificou padrões circulares distintos que os cientistas denominam “frentes de reação“.
Esses pontos são zonas onde reações químicas e físicas ocorreram no passado, deixando registros minerais preservados na superfície marciana.
Análises realizadas pelo laboratório de bordo do rover detectaram dois minerais ricos em ferro associados a matéria orgânica na Terra: vivianita e greigita.
A vivianita costuma ser encontrada em material orgânico em decomposição, enquanto a greigita é produzida por microrganismos em ambientes terrestres.
Para os pesquisadores, essa combinação é incomum e altamente sugestiva de atividade biológica pretérita.
Associações orgânico-minerais semelhantes às da Terra
O cientista da Terra Keyron Hickman-Lewis, da Universidade de Londres e coautor do relatório da NASA, afirmou que as associações orgânico-minerais observadas em Bright Angel são conhecidas na Terra por serem geradas por atividade microbiana.
Segundo ele, encontrar estruturas tão semelhantes em Marte representa uma observação promissora para a astrobiologia.
Hickman-Lewis enfatizou que a equipe da missão Mars 2020 não usa o termo “potencial bioassinatura” de forma leviana.
Apesar de ainda não ser uma prova irrefutável de vida em Marte, os cientistas descartaram diversas explicações alternativas de origem puramente química para as formações.
Após extensas revisões, consideram que os dados obtidos constituem o indício mais convincente já encontrado pela agência espacial.
Condições ambientais durante a presença de água líquida
As possíveis evidências de vida em Marte remontam a um período em que a Cratera de Jezero era um lago de água líquida.
Há bilhões de anos, a região apresentava temperaturas mais amenas e presença abundante de água, fatores que poderiam ter sustentado ecossistemas microbianos simples. Atualmente, o local é um deserto árido exposto a temperaturas extremas e alta radiação solar.
Segundo Hickman-Lewis, o ambiente no qual essas potenciais bioassinaturas foram detectadas parece ter sido um sistema aquático de baixa temperatura, considerado propício para o desenvolvimento de microrganismos.
Os pesquisadores sugerem que esses organismos poderiam ter metabolizado carbono, enxofre e fósforo presentes naturalmente nas rochas, deixando como subproduto os minerais hoje visíveis como manchas de leopardo.
Sinais compatíveis com atividade microbiana
A hipótese central do estudo é que esses vestígios correspondam a antigos microrganismos semelhantes aos extremófilos terrestres, capazes de sobreviver em condições hostis.
O professor Michael Garrett, da Universidade de Manchester, afirmou que bons análogos seriam os tapetes microbianos que crescem em lagos altamente salinos, ou micróbios que vivem quilômetros abaixo da crosta terrestre.
Garrett destacou que a existência de organismos resistentes em ambientes extremos da Terra demonstra que a vida pode persistir de forma minimalista e resiliente mesmo sob condições severas.
Isso tornaria plausível que estruturas semelhantes tenham se formado em Marte durante sua fase mais úmida, quando havia disponibilidade de água líquida na superfície.
Busca por sinais em outras regiões do planeta
Com base nas evidências de vida em Marte encontradas em Bright Angel, a equipe do Perseverance ampliou a investigação para outras áreas antigas fora da Cratera de Jezero.
O objetivo é determinar se as possíveis bioassinaturas estão restritas a um único local ou se representam um fenômeno mais disseminado pelo planeta.
Os cientistas consideram que, se essas estruturas forem realmente de origem biológica, não teriam surgido apenas em um ponto isolado.
A atual estratégia da missão inclui a análise de rochas muito antigas, que poderiam preservar indícios adicionais de atividade microbiana.
Essa abordagem visa mapear a distribuição espacial das potenciais bioassinaturas e reconstruir a extensão da antiga biosfera marciana.
Limites à evolução de formas de vida complexas
Apesar da descoberta, os pesquisadores avaliam ser extremamente improvável que vida complexa tenha evoluído em Marte.
Acredita-se que os microrganismos surgiram no planeta aproximadamente na mesma época em que a vida apareceu na Terra.
Contudo, após cerca de um bilhão de anos, Marte sofreu mudanças climáticas severas provocadas pela perda de sua atmosfera devido aos ventos solares, tornando-se frio e seco.
De acordo com Garrett, essas condições adversas impuseram fortes limitações ao tamanho e à complexidade de qualquer forma de vida marciana.
Na Terra, foram necessários mais três bilhões de anos para que organismos multicelulares complexos se desenvolvessem, o que só foi possível graças à presença de ambientes estáveis e ricos em energia — condições que Marte não manteve após a perda de sua atmosfera primitiva.
Adaptações necessárias à sobrevivência em Marte
Mesmo no cenário hipotético de que organismos mais complexos tenham evoluído, eles teriam enfrentado restrições severas.
Garrett aponta que qualquer forma de vida multicelular deveria ter desenvolvido adaptações extremas, como resistência à radiação ultravioleta, tolerância ao frio intenso e estratégias para lidar com a escassez de água líquida.
Entre as possíveis adaptações estariam camadas protetoras espessas ou o hábito de viver sob o solo para evitar a radiação solar direta.
Essas características se assemelhariam às de criaturas terrestres que habitam ambientes extremos, como alguns lagartos do deserto ou organismos filtradores que sobrevivem próximos a fontes hidrotermais em grande profundidade.
Desafios para determinar a natureza das estruturas
A principal dificuldade enfrentada pelos cientistas é que apenas vestígios indiretos estão disponíveis para análise.
Não existem amostras biológicas preservadas, apenas registros minerais possivelmente associados a atividade microbiana. Isso impede a confirmação definitiva de que os sinais detectados sejam realmente evidências de vida em Marte.
Os pesquisadores ressaltam que, embora os dados atuais sejam os mais promissores já obtidos, ainda são necessários novos estudos laboratoriais e futuras missões de retorno de amostras para estabelecer a origem exata das estruturas.
Até lá, as manchas de leopardo permanecerão como indícios potenciais, mas não conclusivos, de uma antiga biosfera marciana.