Pesquisadores criam um cubo mágico quântico com infinitas soluções e movimentos impossíveis no mundo clássico.
Resolver um cubo mágico já é um desafio para muitos. O quebra-cabeça colorido exige lógica, paciência e habilidade.
No entanto, um grupo de cientistas levou o jogo para um nível completamente novo. Eles criaram um cubo mágico quântico, com regras diferentes, infinitos estados possíveis e movimentos que não existem no mundo real.
A pesquisa foi conduzida por uma equipe da Universidade do Colorado em Boulder e publicada na revista Physical Review A. Mais do que uma brincadeira, o estudo representa um avanço sério em física teórica e computação quântica.
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Segundo os autores, “com superposições, o número de estados únicos permitidos do quebra-cabeça é infinito, ao contrário dos quebra-cabeças de permutação comuns”.
Isso porque, ao incorporar conceitos como superposição e emaranhamento, o cubo deixa de ser um simples conjunto de peças móveis para se tornar um sistema muito mais complexo, regido pelas leis da mecânica quântica.
Como o quebra-cabeça quântico funciona
Para entender a inovação, é preciso começar pelos fundamentos. O cubo mágico tradicional é um quebra-cabeça de permutação.
Isso significa que ele possui peças que podem ser trocadas segundo regras específicas, até que se alcance uma configuração desejada.
O grupo de cientistas, porém, substituiu essas peças por partículas quânticas indistinguíveis, como bósons ou férmions. Essa mudança altera radicalmente a dinâmica do jogo.
No modelo básico desenvolvido, os pesquisadores utilizaram um tabuleiro 2×2 com duas partículas “verdes” e duas “azuis“.
Em um cenário clássico, isso geraria apenas seis configurações possíveis. Com partículas quânticas, a história muda completamente.
O movimento de uma peça passa a ser uma superposição de movimentos — ela pode ser considerada movida e não movida ao mesmo tempo.
O papel da operação √SWAP
Essa nova possibilidade é implementada por meio de uma operação chamada √SWAP, ou raiz quadrada do operador de troca. Essa operação cria um movimento que não existe no quebra-cabeça clássico. Como explicam os cientistas, o √SWAP “pode ser interpretado como a superposição igual de trocar e não trocar dois elementos”.
Esse tipo de operação permite a criação de estados intermediários. São configurações que não possuem equivalência no mundo clássico. Isso transforma o jogo em um sistema com infinitas possibilidades.
De um número finito a um universo infinito
O cubo mágico tradicional oferece um número grande, mas finito, de possibilidades: mais de 43 quintilhões de combinações. Já no cubo quântico, o uso de operações como o √SWAP elimina essa limitação.
A razão para isso está na matemática envolvida. As operações quânticas formam um grupo algébrico que não se fecha em um número finito de estados. Isso permite que o sistema explore uma região infinita do chamado espaço de Hilbert, onde são representados os estados quânticos.
Os pesquisadores utilizaram critérios matemáticos de Sawicki e Karnas para confirmar a infinitude desses estados. Como os √SWAPs não comutam entre si, ou seja, a ordem das operações altera o resultado, isso garante que o conjunto de estados não pode ser contado com números finitos.
Assim, o cubo quântico não é apenas uma curiosidade exótica. Ele serve como um modelo teórico para explorar os limites entre o mundo clássico e o quântico, entre o determinismo e a probabilidade.
Como resolver o cubo quântico
Diante de um sistema com infinitos estados, surge a pergunta: como resolver o quebra-cabeça? A resposta envolve redefinir o conceito de solução. Em vez de uma sequência fixa de movimentos, a solução passa a ser probabilística e depende de medições.
O estudo define três tipos de solucionadores. O clássico usa apenas movimentos tradicionais de troca. O quântico utiliza somente o operador √SWAP. Já o combinado pode aplicar os dois tipos de movimentos.
Após uma sequência de operações, o estado do quebra-cabeça é medido. Se ele colapsar para o estado “resolvido”, o problema é considerado solucionado. Caso contrário, o processo recomeça do mesmo ponto.
Eficiência dos solucionadores
Os resultados mostram diferenças claras de eficiência. Em testes com 2.000 embaralhamentos aleatórios, o solucionador clássico precisou de 5,88 movimentos, em média. O quântico utilizou 5,32 movimentos. O combinado foi o mais eficiente, com 4,77 movimentos em média.
O solucionador clássico sofre por não lidar bem com os estados mais complexos, já que depende de uma estrutura limitada de movimentos. Já o combinado aproveita o melhor dos dois mundos, o clássico e o quântico.
Como afirmam os autores, “o solucionador clássico pode resolver alguns estados mais rapidamente, mas sua falta de versatilidade faz com que ele falhe com os mais complexos”.
Um passo adiante: versão tridimensional
Além da versão bidimensional, o estudo também propõe um modelo tridimensional. Esse novo quebra-cabeça tem um formato 2x2x1, aproximando-se um pouco mais da complexidade do cubo mágico tradicional.
Apesar de não replicar integralmente o cubo clássico, essa estrutura tridimensional permite aplicar as mesmas operações quânticas e explora uma complexidade espacial maior.
É possível construir o cubo quântico real?
A construção física desse cubo ainda é um desafio. No entanto, os cientistas sugerem uma possibilidade experimental: redes ópticas com átomos ultrafrios. Nesse tipo de sistema, partículas idênticas podem ser manipuladas com extrema precisão, criando uma espécie de “tabuleiro de xadrez quântico” para realizar movimentos do tipo √SWAP.
Tais plataformas já são usadas em estudos de física quântica fundamental. Assim, elas podem futuramente servir para simular esse tipo de quebra-cabeça quântico em laboratório.
Porém, os próprios autores reconhecem que, no momento, o trabalho ainda é teórico. A proposta serve, principalmente, para refletir sobre como jogos e algoritmos funcionariam sob as regras da mecânica quântica.
Um novo jeito de pensar jogos de lógica
Mais do que um exercício acadêmico, o estudo sugere uma nova forma de encarar jogos de lógica. Ao empregar partículas indistinguíveis, operações unitárias e estruturas algébricas, os autores introduzem uma categoria inédita: os quebra-cabeças quânticos.
Esses novos modelos podem ter aplicações pedagógicas, computacionais e até artísticas. Eles também levantam questões sobre a resolução de sistemas infinitos e a universalidade de certas operações quânticas.
Uma das hipóteses levantadas pelos cientistas é que a vantagem do solucionador quântico aumentaria com o crescimento do tabuleiro. Isso abriria novas possibilidades tanto na física teórica quanto na inteligência artificial aplicada a jogos.
No fim, o que começou como uma brincadeira intelectual tornou-se uma contribuição concreta para o estudo da computação quântica e da lógica em realidades que vão além do nosso mundo clássico.