Análise revela como a cidade gaúcha se tornou a capital da longevidade e por que seu sucesso vai além da expectativa de vida.
Veranópolis, na serra gaúcha, é amplamente reconhecida como a capital da longevidade no Brasil. Uma análise técnica dos dados revela o porquê deste fenômeno: a cidade implementa um modelo de envelhecimento bem-sucedido que é único no cenário nacional, focado não apenas em quanto se vive, mas em como se vive.
O reconhecimento da cidade começou em 1981, não exatamente pela expectativa de vida ao nascer (EVN), mas por sua estrutura demográfica. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) da época mostraram que mais de 17% da população era idosa, um índice radicalmente oposto à média nacional de 3%. Décadas depois, um projeto científico robusto continua a decifrar por que se vive tanto e tão bem na região, focando na qualidade de vida.
O projeto Veranópolis: a ciência por trás da qualidade de vida
O verdadeiro diferencial da capital da longevidade está no “Projeto Veranópolis de Envelhecimento e Longevidade”. Iniciado em 1994 pelo geriatra Dr. Emilio Moriguchi, este é um estudo longitudinal (de coorte populacional) com mais de 20 anos de pesquisa ininterrupta, focado em entender cientificamente os determinantes do envelhecimento bem-sucedido.
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Este projeto é a fonte científica primária sobre o tema na cidade e foi pioneiro no Brasil, antecedendo a popularização global do conceito de “Zonas Azuis”. As pesquisas, que já renderam dezenas de dissertações de mestrado e teses de doutorado, foram cruciais para identificar os pilares que sustentam a saúde dos idosos locais. O foco do estudo não é apenas quanto tempo se vive, mas como se vive, analisando a Expectativa de Vida Saudável (HALE) e a manutenção da autonomia.
Os 8 pilares do “viver bem” em Veranópolis
As descobertas do Projeto Veranópolis delinearam um modelo de comportamento que explica a vitalidade da população idosa, resumido em oito pilares fundamentais. Os primeiros incluem baixos níveis de estresse e uma redução drástica do tabagismo, criando um ambiente social tranquilo. Além disso, a manutenção de rotinas de atividade física intensas, muitas vezes ligadas ao trabalho na terra (hortas) ou caminhadas diárias, é vital para a preservação da massa muscular e prevenção de incapacidades.
Outros fatores cruciais são a dieta e o capital social. A alimentação é caracterizada por refeições regulares e equilibradas, com ênfase no consumo de vegetais cultivados na própria horta, garantindo segurança alimentar e alta qualidade nutricional. O consumo moderado de vinho tinto caseiro também é um hábito cultural citado. Acima de tudo, o projeto destaca a forte convivência familiar e comunitária e a participação ativa em atividades sociais e religiosas, fatores que combatem o isolamento e a depressão.
Por que Veranópolis não é acaso: saúde e desenvolvimento
A longevidade de Veranópolis não é um fenômeno cultural isolado; ela é sustentada por uma infraestrutura robusta e políticas públicas eficazes. O sucesso da cidade é o resultado final de um alto Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Este índice reflete estabilidade econômica, alta escolaridade e, principalmente, serviços de saúde eficientes que funcionam como alicerce para a longa vida.
O papel da Atenção Primária à Saúde (APS) é determinante. O sistema local é altamente eficaz na detecção precoce e no manejo de doenças crônicas (como diabetes e hipertensão), permitindo que os cidadãos envelheçam com menor carga de doença e mais funcionalidade. Este cenário contrasta diretamente com municípios de baixo IDHM, como Melgaço (PA), onde falhas estruturais em saúde básica, educação e emprego impedem que a população alcance uma expectativa de vida elevada, provando que a longevidade é um produto do desenvolvimento social completo.
Veranópolis se consolida, portanto, como a capital da longevidade brasileira por um feito fundamental: provar cientificamente que é possível envelhecer com alta qualidade de vida, autonomia e funcionalidade dentro da realidade nacional. O modelo da cidade, baseado em coesão social, hábitos saudáveis e um sistema de saúde primária eficaz, oferece um roteiro valioso para um Brasil que envelhece rapidamente.
O modelo de Veranópolis, com forte foco na comunidade, dieta local e vida ativa, seria aplicável na sua cidade? Quais desses “pilares” você acha que mais faltam onde você mora? Deixe sua opinião nos comentários, queremos saber sua perspectiva.



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