Excesso de produção supera o dobro da demanda mundial e gera perdas de US$ 60 bilhões no setor.
A China consolidou sua posição como líder global na energia solar, mas o avanço veio acompanhado de uma crise sem precedentes. Em 2024, o país fabricou 588 gigawatts (GW) de painéis solares, mais do que o dobro da demanda mundial de 451 GW, segundo dados citados pelo Terra. Esse desequilíbrio provocou uma queda abrupta nos preços e prejuízos estimados em US$ 60 bilhões para a indústria.
A situação transformou um setor considerado estratégico em um problema econômico e social.
Com fábricas operando em ritmo acelerado e estoques abarrotados, as empresas passaram a vender abaixo do custo de produção, em uma corrida para reduzir perdas e liberar espaço.
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O impacto foi devastador: cortes de pessoal, desvalorização da matéria-prima e uma pressão crescente sobre Pequim para intervir.
A bolha da energia solar chinesa
Entre 2020 e 2023, o governo chinês redirecionou recursos do setor imobiliário para o que chamou de “três novas indústrias de crescimento”: painéis solares, veículos elétricos e baterias.
A política industrial acelerou investimentos e multiplicou a capacidade produtiva.
O resultado foi uma explosão de fábricas e equipamentos, levando o país a produzir em apenas um ano quase 90% das células solares consumidas no mundo.
Esse domínio esmagador, porém, acabou gerando um excesso de oferta que o mercado global não tem condições de absorver.
Preços no chão e perdas recordes
A consequência imediata da superprodução foi a desvalorização drástica do polissilício de grau solar, principal insumo dos painéis. O preço caiu para cerca de 50 yuans (R$ 37) por quilo, um nível que não cobre os custos de extração e refino.
Segundo o Terra, a pressão para vender abaixo do custo levou as empresas a registrarem perdas acumuladas superiores a US$ 60 bilhões.
Pequim já admite que será necessário um plano de choque para reequilibrar o setor e evitar uma onda de falências em massa.
Impacto social: 87 mil demissões silenciosas
O colapso não afetou apenas os números, mas também milhares de trabalhadores.
As cinco maiores companhias fotovoltaicas do país reduziram seus quadros em 31%, o que representa 87 mil empregos cortados de forma silenciosa.
Essas demissões refletem a dificuldade de sustentar um setor inchado pela política industrial e pela competição interna feroz.
Pequim se vê agora diante do dilema de conter os impactos sociais sem abrir mão de uma indústria considerada vital para sua liderança global em transição energética.
O dilema de Pequim: reiniciar ou desacelerar?
O governo chinês estuda mecanismos de regulação e fusões forçadas para reduzir o número de players no mercado e estabilizar os preços. Ao mesmo tempo, tenta preservar a imagem do país como principal motor da energia limpa no mundo.
Esse “reinício” da indústria, segundo analistas, pode redefinir a geopolítica da energia solar.
Enquanto concorrentes ocidentais lutam para sobreviver, a China mantém vantagem tecnológica e produtiva, mas corre o risco de pagar um preço alto por ter ido rápido demais.
Você acredita que a China vai conseguir reorganizar esse setor sem perder liderança global? Ou o excesso de produção pode abrir espaço para concorrentes ocidentais?
Deixe sua opinião nos comentários queremos ouvir quem acompanha de perto esse mercado.