Pequim pediu que o governo de Claudia Sheinbaum reconsidere antes de aprovar alta de tarifas sobre países sem acordo com o México. A proposta atinge cerca de US$ 52 bilhões em importações e inclui automóveis, aço, têxteis, brinquedos e eletrodomésticos.
A China elevou o tom e alertou o México a reconsiderar o plano de aumentar tarifas de importação sobre países sem acordo comercial, com impacto direto sobre carros fabricados na China. O Ministério do Comércio chinês afirmou que medidas unilaterais serão vistas como concessão a pressões externas e poderão ser respondidas com retaliação. O recado veio após a Cidade do México incluir no Orçamento de 2026 um pacote que eleva alíquotas de até 50% para automóveis, dentro de uma reconfiguração ampla da política tarifária.
A presidente Claudia Sheinbaum e o ministro da Economia Marcelo Ebrard defendem que o ajuste protege a indústria, é compatível com regras da OMC e não tem como alvo um único país. Sheinbaum afirmou que o México não busca conflito e abriu canais de diálogo com governos afetados, inclusive Pequim.
A proposta atinge aproximadamente US$ 52 bilhões em compras externas e abrange 1.400 a 1.463 classificações tarifárias em setores sensíveis, segundo o governo e análises independentes. A leitura do mercado é que a medida também responde ao ambiente criado por novas tarifas norte-americanas e antecipa debates da revisão do USMCA em 2026.
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Para Pequim, o momento exige coordenação multilateral e não “sacrifício de terceiros por coerção”. O tom oficial chinês sugere que contramedidas estão na mesa se a elevação for adiante no formato atual.
O que mudou no plano de tarifas do México
O pacote tarifário foi enviado ao Congresso como parte do Paquete Económico 2026 e amplia iniciativas já adotadas desde 2023 e 2024 para recompor a proteção a cadeias industriais locais. A novidade é a profundidade e a abrangência da lista, que inclui automóveis completos, autopeças, têxteis, calçados, aço, eletrodomésticos e brinquedos.
No caso específico de carros de origem chinesa, a alíquota pode ir ao teto de 50%, ante percentuais anteriores bem mais baixos. A Economia estima que a medida defende centenas de milhares de empregos industriais e ajuda a reduzir importações com preços considerados predatórios.
Embora críticos vejam uma tentativa de “apaziguar os EUA”, o governo mexicano sustenta que a estratégia é doméstica, parte do Plano México de reindustrialização e está sendo comunicada a todos os parceiros para evitar escaladas.
Como Pequim enxerga a medida e onde pode retaliar
O Ministério do Comércio da China disse que países devem “fortalecer a comunicação e a coordenação para salvaguardar o livre comércio e o multilateralismo”, e que aumentos unilaterais serão interpretados como cedência a pressões. O comunicado, com linguagem dura, insinua retaliação caso os carros chineses sejam os mais penalizados.
Retaliações possíveis incluem revisão de licenças e inspeções sobre exportações mexicanas à China, atrasos alfandegários e investigação antidumping em setores onde o México é competitivo, como agroalimentos e insumos industriais. Essa leitura é compartilhada por analistas de comércio que veem a briga como parte de um reposicionamento global das cadeias.
Para mitigar riscos, a diplomacia mexicana sinalizou disposição ao diálogo com Pequim e outras capitais asiáticas. O objetivo é calibrar prazos e escopos, mantendo o sinal de proteção doméstica sem deflagrar uma guerra tarifária.
EUA, USMCA 2026 e a leitura geopolítica do gesto
O pano de fundo é o endurecimento tarifário dos EUA e o temor de triangulação de produtos chineses via México rumo ao mercado norte-americano. Ao elevar tarifas próprias, a Cidade do México tenta mostrar que combate desvio de comércio e que não busca se tornar um atalho para contornar barreiras dos EUA.
A movimentação também ocorre às vésperas da revisão de 2026 do USMCA, quando Washington e Ottawa pressionarão por compromissos sobre regras de origem e conteúdo regional no setor automotivo. Um México mais restritivo a importados de países sem acordo pode facilitar a negociação com os parceiros.
Autoridades mexicanas frisam que a mudança respeita a OMC e dialoga com práticas de outros países. Ainda assim, a administração Sheinbaum tenta despolitizar o tema para não contaminar relações com a China, hoje um fornecedor central da indústria mexicana.
Impacto para o setor automotivo e para consumidores
A pressão recai sobre marcas chinesas que ganharam espaço rápido no México e hoje respondem por cerca de um quinto das vendas de carros novos, com destaque para modelos mais acessíveis e elétricos de entrada. Com tarifas a 50%, parte desse portfólio pode perder competitividade ou migrar para produção local no médio prazo.
A BYD, por exemplo, tornou-se um dos símbolos da expansão chinesa e poderia ser uma das mais afetadas, segundo analistas e reportagens setoriais. Fabricantes locais e tradicionais tendem a ganhar fôlego no curto prazo, mas importadores alertam para pressões de preço ao consumidor.
Para a indústria mexicana, que exporta a maior parte da produção, a medida pode reordenar cadeias de fornecimento e estimular conteúdo regional. Já para o varejo, o desafio será manter opções de preço sem perder qualidade, especialmente em hatches e SUVs de entrada onde as marcas chinesas avançaram.
O México está protegendo a própria indústria ou cedendo à pressão dos EUA ao mirar os carros chineses? A China deve retaliar de imediato ou apostar no diálogo para preservar cadeias produtivas e preços ao consumidor? Deixe seu comentário e diga de que lado você está nessa disputa.