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China inova com um combustível que faz funcionar motores a combustão sem liberar CO₂ ou hidrocarbonetos, substituindo o hidrogênio como opção limpa e sustentável

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 30/07/2024 às 10:20
Motor - combustíveis - combustível - GAC - Toyota - amônia
China encontra o combustível do futuro, e não é o hidrogênio: este é o primeiro motor que o usará

O futuro dos motores está aqui: China desenvolve tecnologia de motor a amônia, um combustível inovador e limpo que promete substituir o hidrogênio e diminuir drasticamente as emissões de carbono

A busca por combustíveis alternativos e sustentáveis é uma prioridade global na luta contra as mudanças climáticas. Nesse contexto, a China deu um passo significativo ao desenvolver um motor que utiliza amônia como combustível, uma inovação que pode revolucionar a indústria automotiva e reduzir drasticamente as emissões de carbono. Este artigo explora os detalhes técnicos e as implicações dessa nova tecnologia.

O motor a amônia: uma alternativa viável

O Grupo Automotivo de Guangzhou (GAC), em colaboração com a Toyota, desenvolveu um motor de combustão interna de 2,0 litros que utiliza amônia líquida de maneira segura e eficiente. Este motor promete uma potência de 120 kW (161 hp) e uma redução de 90% nas emissões de carbono em comparação com os combustíveis convencionais.

A amônia (NH₃), composta por um átomo de nitrogênio e três de hidrogênio, é conhecida principalmente como fertilizante. Seu potencial como combustível reside em suas propriedades combustíveis e no fato de que, ao queimar, não emite carbono, hidrocarbonetos nem CO₂. No entanto, sua densidade energética é aproximadamente metade da gasolina, situando-se em 3,6 kWh por litro. Além disso, a amônia pode ser produzida de maneira limpa, utilizando processos que capturam carbono e empregam fontes de energia renováveis, embora a maior parte da produção atual ainda utilize o processo Haber-Bosch, que emite grandes quantidades de CO₂.

Desafios técnicos do motor a amônia

Apesar de suas vantagens, o uso da amônia como combustível apresenta vários desafios técnicos. Um dos problemas mais significativos é a alta toxicidade e corrosividade da amônia, o que apresenta riscos substanciais em seu manuseio e armazenamento. Além disso, a combustão de amônia produz óxidos de nitrogênio (NOx) e amônia não queimada, ambos poluentes prejudiciais. A GAC afirma ter resolvido esses problemas, desenvolvendo tecnologias que permitem uma combustão mais eficiente e segura da amônia.

Outro desafio é a baixa velocidade de propagação da chama da amônia, o que dificulta o funcionamento do motor em altas RPM ou em condições de baixa carga. Isso significa que o motor pode ter dificuldades para fornecer potência suficiente em determinadas situações. Para contornar isso, os engenheiros da GAC estão explorando o uso de combustíveis auxiliares ou aditivos que possam melhorar as características de combustão da amônia.

Além disso, a infraestrutura necessária para a produção e distribuição de amônia ainda representa um desafio significativo. A maioria da produção atual de amônia não é limpa, utilizando o processo Haber-Bosch, que emite grandes quantidades de CO₂. Para que a amônia seja uma opção verdadeiramente sustentável, é crucial desenvolver métodos de produção “verde” que utilizem fontes de energia renováveis.

A fabricante chinesa GAC apresentou um protótipo de motor movido a amônia líquida, que seria um combustível alternativo à eletricidade e ao hidrogênio. Desenvolvido em parceria com a Toyota, o conjunto foi inspirado nas indústrias marítima e de transportes

Motor a amônia no contexto global

O desenvolvimento do motor a amônia pela GAC e Toyota está inserido em um contexto global onde a demanda por soluções sustentáveis está em alta. O hidrogênio foi considerado por muito tempo como a principal alternativa aos combustíveis fósseis, com o mercado mundial do hidrogênio projetado para superar os 200 bilhões de dólares até o final de 2025. No entanto, a amônia pode se tornar um concorrente sério devido à sua capacidade de reduzir as emissões de carbono e sua viabilidade em diversas aplicações.

A amônia se apresenta como um combustível limpo não apenas para automóveis, mas também para barcos, aviões, caminhões e trens. Seu manuseio é mais simples do que o hidrogênio, pois é líquida à temperatura ambiente e não requer equipamentos caros de compressão ou liquefação criogênica. No âmbito dos veículos de passageiros, GAC e Toyota demonstraram que é possível utilizar amônia em motores de combustão interna, abrindo a porta para futuras aplicações neste setor.

Potencial de uso da amônia como combustível

A utilização da amônia como combustível representa uma alternativa promissora para diversos setores além do automotivo. No setor marítimo, por exemplo, a amônia pode ser utilizada em motores de navios, reduzindo significativamente as emissões de CO₂ e outros poluentes. A International Maritime Organization (IMO) tem estabelecido metas ambiciosas para a redução de emissões no setor, e a amônia pode desempenhar um papel crucial no cumprimento dessas metas.

No setor ferroviário, a amônia também pode ser uma alternativa viável para locomotivas, especialmente em rotas onde a eletrificação não é prática ou economicamente viável. Além disso, a amônia pode ser utilizada em aviões, embora os desafios técnicos e de segurança sejam maiores nesse setor devido à alta toxicidade da substância.

Outra aplicação potencial da amônia é em sistemas de aquecimento e geração de energia. A amônia pode ser utilizada em células de combustível para produzir eletricidade de forma limpa e eficiente. Algumas iniciativas estão explorando a possibilidade de utilizar amônia para armazenar e transportar hidrogênio, uma vez que a amônia é mais fácil de manusear e transportar do que o hidrogênio puro.

Desafios e perspectivas

Apesar do potencial promissor da amônia como combustível, ainda há vários desafios a serem superados. A infraestrutura de produção e distribuição precisa ser ampliada e adaptada para garantir a segurança no manuseio da substância. Além disso, é necessário desenvolver tecnologias que possam minimizar a produção de NOx e amônia não queimada durante a combustão.

A aceitação do público e a regulamentação governamental também desempenharão um papel crucial na adoção da amônia como combustível. Será necessário educar o público sobre os benefícios e riscos associados ao uso de amônia, além de estabelecer regulamentações que garantam a segurança e a eficiência das novas tecnologias.

A introdução do motor a amônia por GAC e Toyota representa um avanço significativo na busca por combustíveis alternativos sustentáveis. Apesar dos desafios técnicos e de infraestrutura, o potencial de reduzir drasticamente as emissões de carbono faz com que essa tecnologia seja promissora. A colaboração entre GAC e Toyota pode pavimentar o caminho para uma adoção mais ampla da amônia como combustível, desde que sejam superadas as barreiras econômicas, técnicas e de segurança.

O desenvolvimento de motores que utilizam amônia em vez de hidrogênio ou combustíveis fósseis convencionais como a gasolina e o diesel pode abrir caminho para um futuro com menores emissões de carbono. A indústria automotiva e outros setores seguirão de perto esta inovação para avaliar suas aplicações práticas e seu impacto na sustentabilidade global.

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Noel Budeguer

De nacionalidade argentina, sou redator de notícias e especialista na área. Abordo temas como ciência, petróleo, gás, tecnologia, indústria automotiva, energias renováveis e todas as tendências no mercado de trabalho.

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