Estratégia chinesa utiliza o Brasil como base para multinacionais expandirem negócios na América Latina, intensificando disputas comerciais globais e ampliando investimentos em setores estratégicos nacionais.
O governo chinês confirmou um movimento estratégico que deve impactar diretamente o cenário econômico e comercial brasileiro nos próximos anos.
O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, declarou oficialmente durante a cúpula dos Brics no Rio de Janeiro, realizada nesta terça-feira (08), que o país pretende transformar o Brasil em uma plataforma para a expansão das empresas chinesas por toda a América Latina.
O anúncio reforça a presença de multinacionais da China em solo brasileiro e demonstra a intenção de ampliar negócios para mercados vizinhos, utilizando o Brasil como principal base de operações.
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Expansão chinesa no Brasil e América Latina
Conforme informações publicadas pelo site Poder 360, no encontro com representantes de algumas das principais companhias chinesas instaladas no Brasil, Li Qiang ressaltou que o ambiente econômico internacional se tornou mais complexo diante do crescimento do protecionismo global.
O premiê destacou que “o cenário é desafiador”, mas defendeu que, mesmo nesse contexto, a China está pronta para articular estratégias que fortaleçam ainda mais suas multinacionais, não só em território brasileiro, mas em toda a América Latina.
Segundo Li Qiang, o avanço de medidas protecionistas em várias partes do mundo exige novas abordagens para garantir o crescimento das empresas chinesas no exterior.
O líder chinês não mencionou diretamente os Estados Unidos, mas o contexto do discurso remete a barreiras comerciais recentemente impostas pelo governo norte-americano, principalmente contra produtos e empresas oriundos da China.
Li Qiang enfatizou que as empresas devem “cultivar profundamente o mercado local, oferecer aos consumidores produtos e serviços mais populares e usar o Brasil como plataforma para expandir o mercado latino-americano em geral, buscando um maior desenvolvimento”.
Disputas comerciais e impacto econômico
O plano chinês é impulsionado pela busca de novos mercados diante de disputas comerciais e restrições enfrentadas em outros continentes.
Nos últimos meses, a União Europeia (UE) e a China travam uma batalha comercial especialmente no setor de saúde, com a imposição de restrições mútuas para participação de empresas em licitações públicas.
Em junho de 2025, a UE restringiu a atuação de companhias chinesas em contratos públicos acima de 5 milhões de euros, medida rapidamente respondida pela China, que proibiu empresas europeias de participarem de licitações semelhantes no país asiático.
Apesar dessas tensões, o primeiro-ministro destacou que a economia chinesa tem mantido resiliência.
De acordo com Li Qiang, os resultados do primeiro semestre de 2025 demonstram que o país conseguiu registrar crescimento econômico, mesmo diante das adversidades impostas pelas disputas comerciais internacionais.
Empresas chinesas fortalecem presença no Brasil
No Brasil, o avanço das multinacionais chinesas já é realidade.
No encontro no Rio de Janeiro, estiveram presentes executivos de empresas de setores variados, como energia, finanças, tecnologia, alimentação e indústria automotiva.
Entre as companhias que marcam presença no mercado brasileiro, destacam-se:
- State Grid (energia)
- Banco da China (finanças)
- GWM – Great Wall Motors (automotivo)
- Goldwind (energia renovável)
- Dahua Technology (tecnologia e segurança)
- Cofco (alimentação)
- Gree Electric (eletrodomésticos)
- Zhongtian Technology (tecnologia e cabos especiais)
Essas empresas têm investido em projetos de grande porte no Brasil, ampliando sua participação no mercado nacional e criando uma ponte para a América Latina.
O Banco da China oferece linhas de crédito e soluções financeiras voltadas para grandes projetos de infraestrutura e comércio exterior.
A State Grid é responsável por alguns dos principais empreendimentos de transmissão de energia no país, conectando regiões produtoras a grandes centros consumidores.
No setor automotivo, a GWM vem expandindo sua atuação com novas fábricas e lançamento de veículos elétricos, acompanhando a tendência de sustentabilidade que tem ganhado força no Brasil e em toda a América do Sul.
Investimentos e influência chinesa no desenvolvimento brasileiro
A intensificação dessa presença chinesa também ocorre em meio ao crescimento dos investimentos estrangeiros diretos no Brasil.
Segundo dados do Banco Central divulgados em junho de 2025, a China figura entre os maiores investidores internacionais, especialmente em setores considerados estratégicos, como energia renovável, infraestrutura e tecnologia.
O movimento chinês reflete a busca por mercados alternativos diante de restrições em outros blocos econômicos, além de atender à crescente demanda da América Latina por inovação, tecnologia e financiamento para grandes obras.
No contexto global, a ofensiva comercial chinesa levanta questionamentos sobre a dependência de países latino-americanos em relação a investimentos estrangeiros, especialmente em segmentos críticos como energia, alimentação e tecnologia.
Especialistas em relações internacionais avaliam que o Brasil pode se beneficiar da chegada de capital e tecnologia, mas também precisa adotar políticas para garantir o equilíbrio no relacionamento com grandes potências, preservando interesses nacionais e promovendo o desenvolvimento sustentável.
Estratégia global e futuro da relação Brasil-China
O plano anunciado por Li Qiang não ocorre de forma isolada.
Nos últimos anos, o governo chinês tem incentivado a internacionalização de suas empresas como forma de driblar barreiras comerciais e assegurar novos mercados para seus produtos e serviços.
O uso do Brasil como trampolim para conquistar a América Latina é parte de uma estratégia mais ampla, que inclui acordos bilaterais, investimentos em infraestrutura e parcerias em setores de ponta.
Enquanto o cenário internacional aponta para uma intensificação das disputas comerciais, a presença chinesa no Brasil tende a se consolidar ainda mais.
O avanço de empresas como State Grid, Banco da China e GWM pode transformar o país em uma verdadeira porta de entrada para produtos, serviços e soluções tecnológicas de origem chinesa em todo o continente latino-americano.