Província de Hunan propõe uso do e-CNY em dívidas em cadeia, buscando transparência e pagamentos diretos entre empresas do setor produtivo.
A China estuda aplicar o yuan digital, também chamado de e-CNY, para enfrentar casos persistentes de inadimplência. O movimento ampliaria o alcance da moeda digital, lançada em 2019, além dos usos já testados por Pequim desde então.
Planos em Hunan
As autoridades da província de Hunan trataram do tema ao divulgar um documento sobre a expansão do uso do e-CNY.
O texto aponta que a região pretende “explorar o uso do yuan digital para liquidar dívidas em cadeia”, permitindo que os recursos cheguem diretamente ao fim da linha de pagamento.
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Essa proposta, segundo o documento, tem o objetivo de tornar o processo mais eficiente porque elimina intermediários. Portanto, o dinheiro poderia circular de forma mais rápida e controlada entre empresas e fornecedores.
O que são dívidas em cadeia?
Funciona assim: uma empresa ou pessoa deixa de pagar o que deve. Quem não recebe esse pagamento, por sua vez, também fica sem recursos para quitar suas próprias obrigações. Isso provoca um ciclo de inadimplência que vai se espalhando — como uma corrente.
Um exemplo simples:
- Um fornecedor vende a prazo para um lojista.
- O lojista atrasa o pagamento porque os clientes também não pagaram.
- O fornecedor, sem receber, não consegue pagar seus próprios credores.
- Esses credores, então, também podem deixar de cumprir compromissos com outros.
Por enquanto, não há menção de que o yuan digital seria usado para eliminar dívidas de cidadãos comuns.
Transparência nas transações
Analistas destacaram que ainda faltam detalhes sobre como a medida seria implementada. Mesmo assim, acreditam que o e-CNY pode garantir mais rastreabilidade e transparência nas relações entre pagadores e recebedores.
Tan Junyu, economista da Coface, afirmou que a moeda digital tem potencial para melhorar a visibilidade em tempo real das operações dentro da economia. Além disso, o controle das transações poderia ser reforçado, reduzindo riscos de atrasos.
Impacto em setores estratégicos
O problema das dívidas em cadeia, também conhecidas como dívidas triangulares, preocupa setores interdependentes da economia chinesa. Nessas situações, a inadimplência de uma empresa gera efeito cascata e pressiona outras companhias.
Na indústria automotiva, o impacto é ainda mais evidente. De acordo com Tan, as montadoras exercem forte poder de barganha sobre seus fornecedores, o que amplia a vulnerabilidade das cadeias de pagamento.
A adoção do yuan digital nesse contexto surge como uma possível ferramenta de reorganização financeira, embora os próximos passos do projeto ainda não estejam claros.
O documento e as falas de analistas indicam que o uso do yuan digital mira dívidas em cadeia entre empresas, principalmente em setores como o automotivo. Nesse caso, o objetivo seria tornar os fluxos de pagamento mais rastreáveis, transparentes e diretos, evitando que fornecedores fiquem sem receber por causa de atrasos em cascata.
Portanto, a proposta mostra sim uma interferência do governo na vida econômica das empresas, porque o Estado passaria a controlar parte do processo de pagamentos, garantindo que o dinheiro chegue ao destino final.