A China voltou a identificar resíduos acima do limite permitido de Fluazuron em lotes de carne bovina exportados pelo Brasil, reacendendo o alerta para possíveis restrições comerciais e suspensão de frigoríficos, com bilhões de dólares em exportações em risco.
A China voltou a identificar resíduos de Fluazuron acima do limite permitido em lotes de carne bovina exportados pelo Brasil.
O episódio reacendeu o alerta para possíveis restrições comerciais e até a suspensão temporária de frigoríficos.
O caso foi relatado pela Minerva Foods, por meio do programa Laço de Confiança, e vem mobilizando o setor pecuário em torno do uso correto de medicamentos veterinários.
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O país asiático é o principal destino da carne bovina brasileira e responde por uma parcela significativa das exportações anuais do setor.
China reforça fiscalização e indústria alerta fornecedores
Segundo comunicado da Minerva Foods, a alfândega chinesa comunicou ao governo brasileiro que intensificará o controle sanitário sobre as importações de carne bovina.
A empresa reforçou aos produtores que o uso adequado de antiparasitários e o respeito ao período de carência são fundamentais para manter a credibilidade junto aos compradores internacionais.
O alerta segue a mesma linha de outros avisos enviados por frigoríficos e associações do setor.
Representantes da indústria afirmam que, embora os casos recentes envolvam lotes específicos, qualquer ocorrência pode gerar repercussões em toda a cadeia exportadora, levando à revisão de habilitações e atrasos nos embarques.
Fluazuron: o princípio ativo em foco
O Fluazuron é um inibidor de crescimento de parasitas, utilizado amplamente no controle de carrapatos em bovinos.
O produto age impedindo a formação de quitina, substância essencial para o desenvolvimento desses parasitas.
O ponto central da discussão é o período de carência, intervalo entre a aplicação do medicamento e o abate do animal.
Especialistas explicam que esse tempo é necessário para que o organismo elimine resíduos a níveis seguros, conforme padrões internacionais de segurança alimentar.
Quando o período de carência não é respeitado, há maior probabilidade de detecção de resíduos em análises laboratoriais realizadas por países importadores.
Segundo médicos-veterinários, fatores como dose, via de administração e categoria do animal podem alterar o tempo necessário para eliminação total do princípio ativo, exigindo atenção redobrada por parte dos produtores.
Impacto econômico e dependência do mercado chinês
Dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) indicam que a China responde por cerca de metade do volume e da receita das exportações brasileiras de carne bovina.
Por isso, qualquer notificação sanitária relacionada ao país tende a impactar a confiança comercial e os fluxos logísticos do setor.
De acordo com analistas de mercado, suspensões pontuais de plantas exportadoras costumam afetar a programação de abates, o escoamento de carcaças e a formação de preços da arroba.
Além disso, auditorias adicionais impostas por importadores podem elevar custos operacionais e prolongar o tempo de liberação de cargas, reduzindo a competitividade do produto brasileiro.
Episódios anteriores e situação atual
Em março de 2025, autoridades chinesas suspenderam temporariamente importações de algumas plantas frigoríficas de países fornecedores, entre eles o Brasil.
À época, o Ministério da Agricultura não confirmou oficialmente se as suspensões estavam relacionadas a resíduos de Fluazuron.
Especialistas do setor afirmam que os episódios reforçaram a necessidade de melhor controle de medicamentos e rastreabilidade no campo.
Situação semelhante ocorreu no Uruguai, onde cargas de carne bovina foram rejeitadas ou destruídas após a detecção da mesma substância.
Segundo o jornal El Observador, o governo uruguaio, por meio do Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca (MGAP), notificou os produtores e avaliou sanções mais rígidas para casos de descumprimento da carência.
Para o diretor do MGAP, Marcelo Rodríguez, a atenção ao manejo é essencial para evitar problemas semelhantes.
“Não podemos enviar para abate animais que ainda estejam sob efeito dessas substâncias”, afirmou.
Consequências para o setor brasileiro
Economistas e técnicos ligados ao agronegócio afirmam que a repetição de notificações internacionais pode levar à imposição de novas barreiras sanitárias.
Em casos extremos, o resultado pode ser a suspensão de habilitações e a redução temporária do volume exportado.
O risco de prejuízo financeiro é significativo, já que as vendas de carne bovina ao exterior movimentam mais de US$ 10 bilhões por ano e sustentam uma ampla cadeia de empregos diretos e indiretos.
Empresas exportadoras têm reforçado os protocolos de controle interno, incluindo análises laboratoriais adicionais antes do embarque e exigência de registros detalhados de tratamentos veterinários.
Associações de produtores vêm promovendo campanhas educativas para disseminar boas práticas e orientar quanto ao uso seguro de produtos veterinários.
O que dizem especialistas e autoridades
Profissionais ligados à área sanitária afirmam que o problema é técnico e controlável, desde que haja planejamento e registro adequado das aplicações.
Segundo eles, manter rastreabilidade completa dos animais e obedecer aos prazos de carência são medidas suficientes para garantir a conformidade com os padrões internacionais.
Fontes do setor apontam que a coordenação entre frigoríficos, produtores e órgãos oficiais é fundamental para preservar a imagem da carne brasileira.
Em nota anterior, a Minerva Foods destacou que “o uso responsável e o respeito à carência são fundamentais para manter a confiança internacional e proteger o mercado nacional.”
Até o momento, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) não se pronunciou oficialmente sobre novas notificações da China.
Técnicos ligados à pasta afirmam, de forma reservada, que o tema está sendo acompanhado e que ações preventivas vêm sendo adotadas para evitar possíveis embargos.
Lições e próximos passos para o Brasil
O caso uruguaio e os alertas recentes reforçam, segundo consultores da área, a necessidade de reforçar mecanismos de autocontrole nas fazendas e nos frigoríficos.
A criação de rotinas documentais, registros digitais e certificações complementares pode ajudar o país a demonstrar conformidade sanitária e reduzir riscos de bloqueios comerciais.
Com o aumento da vigilância chinesa, o setor agropecuário brasileiro deve intensificar as boas práticas de manejo e controle sanitário, especialmente nos rebanhos destinados à exportação.
A grande questão agora é: o Brasil conseguirá garantir a rastreabilidade e o cumprimento das normas exigidas pelos importadores para evitar novos embargos?



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