Pequim endurece licenças e pressiona cadeias globais
Em 9 de outubro de 2025, o Ministério do Comércio da China (MOFCOM) anunciou novas regras de exportação. Essas regras exigem licenças especiais para produtos com mais de 0,1% de terras raras de origem chinesa ou fabricados com tecnologia chinesa. A medida, que entra em vigor em 1º de dezembro de 2025, amplia o controle de Pequim sobre elementos críticos usados em eletrônicos, veículos elétricos e defesa.
Além disso, foram adicionados cinco novos elementos à lista de controle — hólmio, érbio, túlio, európio e itérbio — totalizando 12 tipos de terras raras sob regulação direta. O Aviso nº 61 do MOFCOM também estabeleceu uma regra extraterritorial, semelhante à Foreign Direct Product Rule dos Estados Unidos. Essa norma determina que produtos feitos fora da China, mas que utilizem insumos chineses, também precisarão de autorização. Assim, Pequim reforça seu poder estratégico sobre a cadeia global de fornecimento e consolida a influência no setor de materiais de alta tecnologia.
Reações internacionais e escalada comercial
Em resposta imediata, o presidente Donald Trump anunciou tarifas adicionais de 100% sobre produtos chineses. Ele também impôs restrições à exportação de softwares dos EUA, buscando equilibrar a disputa comercial. Entretanto, Pequim manteve uma postura firme e respondeu rapidamente. O ministério do comércio chinês afirmou que a medida não representa uma proibição total, mas sim o exercício de um direito soberano.
Enquanto isso, analistas alertam que, por trás da aparente guerra tarifária, há uma disputa por poder tecnológico e industrial. Dean Ball, ex-conselheiro da Casa Branca, afirmou que a nova política concede à China “a capacidade de excluir qualquer país da economia moderna”. Já Michael Froman, presidente do Council on Foreign Relations, destacou que “os Estados Unidos podem restringir chips hoje, mas a China pode dificultar a fabricação das tecnologias do amanhã”.
Por outro lado, Robin Brooks, economista da Brookings Institution, apontou que o aumento das restrições pode ser uma tentativa de escalar a tensão com os EUA. Segundo ele, isso ocorre após a queda dos lucros das exportações chinesas e reflete uma estratégia de pressão econômica em larga escala.
Impactos globais e vulnerabilidade tecnológica
A China responde por mais de 90% do processamento global de terras raras e domina a produção de ímãs permanentes, essenciais para carros elétricos, turbinas eólicas, smartphones e sistemas de defesa. Assim, o mundo enfrenta riscos sérios de desabastecimento, segundo o Washington Post.
Em setembro de 2025, as exportações chinesas de ímãs caíram 31%, sinalizando que os efeitos das restrições já começaram. Para conter a dependência de Pequim, a União Europeia anunciou, em 14 de outubro de 2025, uma parceria estratégica com os Estados Unidos. O objetivo é diversificar fornecedores, estimular a produção interna e desenvolver novas rotas de abastecimento, conforme relatado pela Reuters.
Além disso, diversos setores — especialmente o automotivo e o tecnológico — já observam alta nos custos de produção. Essa elevação decorre do aumento dos preços das matérias-primas e do risco de interrupções nas cadeias de suprimentos.
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Caminhos alternativos e corrida por independência
Enquanto a China fortalece sua posição, países ocidentais buscam alternativas viáveis. Nos Estados Unidos, a empresa MP Materials iniciou, em 2025, a produção de neodímio e praseodímio, elementos essenciais para ímãs de alto desempenho. O objetivo é reduzir a dependência chinesa e reforçar a segurança tecnológica nacional.
Especialistas afirmam que o desafio não está apenas no acesso às jazidas, mas também no refino e na fabricação avançada desses materiais, etapas ainda dominadas por Pequim. Segundo o Center for Strategic and International Studies (CSIS), os elos intermediários da cadeia de suprimentos são os mais vulneráveis à manipulação geopolítica. Portanto, o cenário atual reforça a necessidade de investimentos urgentes em novas cadeias produtivas, com foco em sustentabilidade, inovação e resiliência econômica.
O futuro da disputa tecnológica
Apesar das tensões, especialistas acreditam que o domínio chinês sobre as terras raras representa tanto um risco estratégico quanto uma oportunidade global. Conforme declarou Dean Ball, agora membro da Foundation for American Innovation, “se nossas economias dependerem dessas matérias-primas, o mundo precisará agir rapidamente”.
Ele acrescentou que será essencial construir alternativas autossuficientes e promover a cooperação internacional. Portanto, à medida que Pequim endurece suas políticas, cresce a pressão sobre as nações ocidentais. Esses países precisam redefinir suas cadeias de valor, garantir autonomia tecnológica e evitar uma dependência estrutural que possa travar o futuro da economia global.