A China desenvolveu um sistema financeiro secreto para continuar comprando petróleo do Irã, contornando sanções dos Estados Unidos e fortalecendo sua parceria estratégica com Teerã.
Em uma movimentação que reforça sua influência no mercado global de energia, a China montou um sistema paralelo de pagamentos para continuar adquirindo petróleo iraniano, mesmo diante das sanções impostas pelos Estados Unidos. O esquema opera fora do sistema bancário tradicional e foi estruturado de forma a evitar rastreamento internacional, conforme noticiado nesta segunda, 06.
De acordo com reportagens internacionais, empresas estatais chinesas continuam importando petróleo do Irã, mas o pagamento não é feito diretamente a Teerã. Em vez disso, os valores são canalizados para uma instituição intermediária chamada “Chuxin”, pouco conhecida e que atua fora do radar financeiro global. Essa empresa é responsável por redistribuir os recursos dentro do território chinês, sem a necessidade de utilizar dólares ou bancos ocidentais.
Pagamentos são convertidos em obras e serviços no Irã
A operação vai além de simples transferências financeiras. O dinheiro acumulado pela Chuxin é usado para financiar projetos de infraestrutura conduzidos por companhias chinesas no Irã, incluindo refinarias, aeroportos e obras de transporte. Dessa forma, o país persa é compensado com serviços e investimentos, e não com repasses diretos de recursos.
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O sistema conta com o respaldo da Sinosure, seguradora estatal chinesa especializada em crédito à exportação. Ela garante o pagamento às empresas chinesas envolvidas, reduzindo riscos e assegurando que as transações ocorram com respaldo institucional. Assim, o fluxo financeiro permanece dentro da China, protegido das sanções e mantendo o Irã economicamente ativo.
Além da parte financeira, o esquema também inclui um sistema logístico complexo destinado a mascarar a origem do petróleo iraniano. São realizadas transferências entre navios em alto-mar e falsificação de documentos de carga, o que dificulta o rastreamento das operações pelas autoridades internacionais.
Essas manobras tornam praticamente impossível identificar a origem exata do petróleo que chega aos portos chineses. Com isso, Pequim mantém suas importações de energia em níveis estáveis, sem se submeter completamente às restrições impostas por Washington.
Parceria estratégica reforça laços entre China e Irã
Especialistas em geopolítica apontam que a estratégia evidencia a aproximação crescente entre China e Irã. Desde que os Estados Unidos retomaram as sanções contra Teerã em 2018, o país persa tem enfrentado dificuldades para acessar o sistema financeiro global. Nesse contexto, o apoio chinês tem sido crucial para sustentar parte da economia iraniana e manter sua produção de petróleo ativa.
A parceria, além de econômica, tem caráter político. Ao apoiar o Irã, Pequim sinaliza ao mundo que pretende atuar de forma independente das regras financeiras ocidentais e fortalecer uma rede de cooperação alternativa. Isso se alinha à política chinesa de diversificação energética e à busca por autonomia estratégica no setor de petróleo.
O governo norte-americano continua monitorando as movimentações chinesas e iranianas, mas especialistas afirmam que a capacidade dos Estados Unidos de impor novas restrições é limitada. Isso porque o sistema criado pela China não depende de bancos internacionais nem de transações em dólar — fatores que historicamente dão força às sanções.
Enquanto isso, o petróleo iraniano continua fluindo para o mercado asiático, e a China se consolida como o principal destino das exportações do Irã. A iniciativa revela um novo capítulo na disputa global por influência energética, em que Pequim busca ampliar sua presença em regiões estratégicas, garantindo suprimentos e exercendo poder econômico em escala internacional.