País investiu pesado em usinas para gerar energia com lixo, mas crescimento desacelerado deixou parte da estrutura ociosa
A China expandiu rapidamente sua rede de usinas para gerar energia a partir do lixo, mas agora enfrenta um problema incomum: há mais incineradores do que resíduos sólidos disponíveis. Com mais de mil usinas em operação, parte significativa delas funciona abaixo da capacidade.
Segundo relatório da Cinda Securities, as usinas chinesas operam, em média, com apenas 60% de utilização. A oferta de lixo cresceu nos últimos anos, mas em ritmo inferior ao da construção acelerada dessas estruturas reflexo de um otimismo que desconsiderou recessão, queda da urbanização e mudanças pós-pandemia.
Capacidade demais, lixo de menos
Desde os anos 1980, a China era conhecida como o “lixão do mundo”, importando resíduos de diversos países. Mas essa realidade mudou. Em vez de excesso de lixo, hoje o país tem um excedente de usinas de incineração para gerar energia e não há material suficiente para alimentá-las.
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Entre 2015 e 2023, a capacidade de incineração chinesa mais do que quadruplicou, saltando de 223 para mais de 1.000 unidades, segundo o South China Morning Post. No mesmo período, o volume de resíduos cresceu apenas cerca de 10%. O resultado é uma indústria que enfrenta subutilização estrutural, custos operacionais elevados e risco de prejuízo.
O incentivo virou armadilha
O crescimento acelerado foi impulsionado por subsídios do governo chinês, que incluía as usinas de lixo como parte do plano nacional de energias renováveis. Queimar resíduos para gerar energia elétrica parecia uma solução sustentável e lucrativa. Empresas apostaram alto no setor.
Porém, segundo especialistas como o ativista Chen Liwen, os sinais de alerta surgiram ainda em 2020. O declínio demográfico, a migração urbana e a pandemia impactaram diretamente a geração de resíduos urbanos. O cenário previsto não se confirmou, e o excesso de capacidade agora compromete a viabilidade econômica de diversas plantas.
Impacto ambiental e críticas crescentes
Além da ociosidade, o modelo enfrenta críticas de organizações ambientais. Estima-se que, em 2022, as usinas tenham emitido mais de 100 milhões de toneladas de CO₂, agravando problemas de poluição. Apesar disso, novos projetos continuam sendo aprovados em algumas províncias.
Para analistas, o desafio agora é ajustar a política energética, reduzir incentivos desnecessários e considerar soluções mais eficientes e sustentáveis para a gestão de resíduos como reciclagem, compostagem e redução de geração na origem.
O esforço chinês para gerar energia a partir do lixo criou uma rede robusta de incineradores, mas a realidade atual mostra mais infraestrutura do que resíduos disponíveis. A crise do excesso revela os riscos de previsões otimistas sem base sólida e levanta discussões sobre o futuro da gestão de lixo e energia no país.
Você acredita que o modelo de incineração ainda é sustentável para gerar energia ou chegou a hora de buscar alternativas mais verdes?