Autoridades chinesas reforçam limites ao uso de iPhones e outros celulares estrangeiros em órgãos públicos e empresas estatais, ampliando o alcance de políticas de segurança nacional e pressionando a Apple em um de seus maiores mercados.
Nos últimos anos, autoridades chinesas intensificaram orientações para que servidores públicos e funcionários de estatais deixem de usar iPhones e outros smartphones estrangeiros no ambiente de trabalho.
As medidas, justificadas em nome da segurança nacional e da proteção de dados, consolidaram-se em diferentes níveis da administração e em conglomerados estratégicos, ampliando a pressão sobre a Apple e somando novo capítulo à disputa tecnológica entre Pequim e Washington.
Embora não exista um decreto público que proíba o uso de celulares estrangeiros, circulares internas e normas de conformidade levaram órgãos centrais, reguladores e estatais a restringirem o acesso de iPhones a redes internas e a estimular a adoção de modelos de fabricantes nacionais.
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Em alguns prédios públicos, há relatos de checagens de aparelhos na entrada, enquanto departamentos de TI bloqueiam dispositivos não homologados.
Regras de segurança em expansão
O quadro se apoia em uma base regulatória cada vez mais rigorosa. A China combina a Lei de Segurança Cibernética, a Lei de Segurança de Dados e normas para “infraestruturas de informação crítica” com auditorias obrigatórias em hardware e software.
Desde maio de 2024, a versão revisada da Lei de Segredos de Estado ampliou competências de inspeção e endureceu sanções, criando ambiente de maior vigilância sobre dispositivos usados em setores como energia, telecomunicações e finanças.
Para autoridades locais, o uso de celulares estrangeiros pode representar risco de vazamento em áreas estratégicas.
A narrativa oficial sustenta que a prioridade por produtos domésticos garante rastreabilidade, conformidade regulatória e maior autonomia tecnológica.
A posição oficial de Pequim
Apesar do endurecimento administrativo, o Ministério das Relações Exteriores reiterou recentemente que não há proibição legal ampla contra iPhones. Segundo a pasta, não existe lei ou regulamento que impeça sua compra ou uso pelo consumidor final.
Na prática, isso significa que as restrições atingem ambientes institucionais e administrativos, sem afetar diretamente o varejo.
Essa diferença ajuda a explicar a presença ainda robusta da Apple entre consumidores urbanos, ao mesmo tempo em que a marca perde espaço em ambientes corporativos e governamentais.
Reflexos no mercado e na Apple
A Apple, que mantém grande parte de sua cadeia de fornecimento dentro da China, enfrenta cenário desafiador.
Ao mesmo tempo em que precisa adaptar seus produtos às exigências locais, busca preservar vendas no varejo de alto valor.
Em 2024, a empresa sofreu recuo nas vendas e perdeu posição de destaque para concorrentes como a Huawei.
Em 2025, os números oscilaram: em alguns meses, o iPhone voltou à liderança em vendas, mas consultorias registraram estimativas divergentes no segundo trimestre, refletindo uma disputa acirrada e marcada por promoções agressivas de marcas chinesas.
Mesmo sob pressão, os lançamentos da Apple continuam a atrair atenção.
Neste mês de setembro, filas em Pequim marcaram a chegada da nova geração do iPhone, mostrando que a marca mantém prestígio entre consumidores premium, ainda que sob forte concorrência doméstica.
Inteligência artificial sob regulação
Outro eixo de tensão é a incorporação de recursos de inteligência artificial nos smartphones.
Para liberar funcionalidades avançadas no país, a Apple buscou parcerias locais, como a colaboração com o Alibaba.
O objetivo é adaptar softwares às regras chinesas, que exigem homologação prévia e, em muitos casos, a associação com modelos de IA já aprovados por autoridades de ciberespaço.
Essa exigência reforça que, além do hardware, a conformidade tecnológica tornou-se peça-chave para manter competitividade no mercado chinês.
Diplomacia e soberania tecnológica
Do ponto de vista diplomático, Washington vê as restrições a iPhones como barreiras disfarçadas de medidas de segurança, acrescentando tensão a um histórico recente de controles cruzados em tecnologia.
A Casa Branca também restringe o acesso da China a semicondutores de ponta, o que Pequim interpreta como uma ação simétrica à sua política de substituição tecnológica.
Para empresas estrangeiras, o sinal é claro: a soberania tecnológica ganhou força na agenda chinesa.
Conselhos de administração passaram a priorizar discussões sobre risco regulatório, localização de dados e resiliência das cadeias produtivas, buscando reduzir dependência de um ambiente regulatório cada vez mais exigente.