Dependência do mercado americano chega a 98% em alguns produtos; tarifas impostas pelos EUA elevam riscos e pressionam cadeias produtivas brasileiras neste ano
Dados do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), do FGV Ibre, revelam um quadro de forte concentração das exportações brasileiras no mercado americano. Dez dos principais produtos enviados para os Estados Unidos registram mais de 80% de dependência desse destino. O levantamento reforça a importância do parceiro comercial, mas também expõe riscos em tempos de tarifaço.
Produtos mais dependentes do mercado americano
O produto com maior concentração é a madeira de coníferas perfilada. Quase toda a produção destinada ao exterior tem como destino os Estados Unidos, alcançando 98% do total.
Só neste ano, o país já comprou US$ 189 milhões desse item brasileiro. Logo atrás aparecem o sebo de bovinos e os produtos semimanufaturados de ligas de aço.
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Vale lembrar que, entre os produtos mais relevantes, os aviões aparecem como exceção importante. Eles ficaram de fora do tarifaço e registraram o maior valor exportado para os EUA entre janeiro e julho de 2025, com US$ 654 milhões.
Além disso, outros itens da lista apresentam percentuais próximos. Portas e soleiras de madeira, transformadores de dielétrico líquido e pedras de cantaria também têm mais de 80% de suas vendas externas concentradas nos Estados Unidos.
Balança comercial e variações recentes
O mês de julho registrou o maior avanço em volume das exportações na comparação entre 2024 e 2025. O crescimento foi de 6,9%, enquanto as importações subiram 6,5%. Portanto, o volume exportado superou o importado.
O problema é que os preços médios das exportações caíram 1,9% no período, enquanto os das importações subiram no mesmo percentual. O resultado é que, em valor, as importações cresceram mais que as exportações.
Na análise por setores, a transformação liderou a variação em volume, com alta de 5,7%. A extrativa subiu 1,2%, e a agropecuária recuou 3%.
O FGV Ibre projeta superávit de cerca de US$ 62 bilhões em 2025, desde que não ocorram novas surpresas.
O impacto do tarifaço
A decisão do governo americano de sobretaxar produtos brasileiros atingiu fortemente o comércio. Dos 30 principais itens exportados, 18 não receberam isenção e passaram a pagar a tarifa extra. Entre eles, 13,3% têm dependência acima de 30% do mercado americano.
Isso pressiona setores como o siderúrgico, que enfrenta dificuldades em redirecionar vendas, já que as cadeias produtivas são especializadas.
O governo brasileiro anunciou linhas de crédito e apoio às pequenas e médias empresas, mas a diversificação imediata segue como desafio.
Entre os setores mais afetados estão o de carne e o de café. No caso das carnes, a tarifa acumulada chega a 74%.
Os Estados Unidos compraram 12% do volume embarcado pelo Brasil no primeiro semestre de 2025. Já o café brasileiro representa mais de 30% das importações americanas. Para o Brasil, os EUA respondem por 16% das exportações totais de café, segundo o Cecafé.
O café e sua relevância
O Brasil exportou 50,6 milhões de sacas de 60 quilos para 120 destinos em 2024. Os Estados Unidos lideraram a lista, com 8,1 milhões de sacas. Em seguida vieram Alemanha, Bélgica, Itália e Japão.
Esse cenário mostra a relevância do mercado americano para o café brasileiro, mas também a vulnerabilidade diante de políticas comerciais mais duras. O setor é um dos que mais sentem os efeitos imediatos do tarifaço.
Setores fora da taxação
Apesar das sobretaxas, alguns setores escaparam das medidas. Os quatro principais foram petróleo, laranja, celulose e aviação. Esses produtos ficaram fora da alíquota de 50%.
Por outro lado, aço, alumínio e cobre foram taxados. A cobrança efetiva, no entanto, ficou em 19,5%, após ajustes baseados em argumentos de segurança nacional definidos em fevereiro. As tarifas entraram em vigor em março.
A lista de exceções
Uma ordem executiva publicada em 30 de julho pelo governo americano trouxe 694 produtos brasileiros fora da cobrança extra. Essas exceções representam US$ 18,4 bilhões em exportações.
Entre os setores contemplados, combustíveis somaram US$ 8,5 bilhões. Aeronaves apareceram em seguida, com US$ 2 bilhões. Já o ferro e aço responderam por US$ 1,8 bilhão, enquanto a celulose alcançou US$ 1,7 bilhão.
Frutas, móveis, químicos, máquinas, pedras preciosas e até equipamentos médicos também entraram na lista, mas em volumes bem menores.
Os números reforçam como os setores estratégicos receberam tratamento diferenciado, enquanto outros tiveram de absorver o peso da tarifa.
Um cenário desafiador
As exportações brasileiras seguem em crescimento em volume, mas a concentração no mercado americano e as sobretaxas impostas por Washington aumentam a pressão sobre vários setores.
O governo brasileiro tenta aliviar a situação com medidas internas, mas o efeito não será imediato. Empresas, especialmente as menores, enfrentam dificuldades em se adaptar e buscar novos mercados.
Portanto, a dependência elevada dos Estados Unidos continua sendo um risco central para o comércio exterior brasileiro. O desafio agora é manter o superávit e reduzir vulnerabilidades em meio a um cenário de incertezas e barreiras crescentes.
Com informações de Istoe Dinheiro.