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Catador de recicláveis encontra R$ 8 milhões em criptomoedas no lixo e é obrigado a devolver a chave

Escrito por Carla Teles
Publicado em 09/11/2025 às 12:41
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Um catador de material reciclável encontrou em descarte um laptop que continha, em seu disco rígido, o acesso a uma carteira com criptomoedas no lixo de valor potencialmente multimilionário. O caso, que imediatamente remete ao precedente internacional do britânico James Howells (que descartou um HD com milhares de Bitcoins, avaliados em cerca de R$ 4,8 bilhões), levanta questões cruciais sobre a classificação de ativos digitais no direito brasileiro e a rota legal obrigatória para o descobridor.

A posse da chave privada, instrumento de acesso aos fundos, coloca o catador em uma posição de alto risco e alta recompensa. O caminho não é simples: tentar acessar os fundos de forma amadora pode levar à perda irreversível do ativo, enquanto a falta de comunicação às autoridades pode configurar apropriação indébita. A complexidade do achado reside na dicotomia entre o hardware físico, de baixo valor residual, e o ativo virtual, de valor substancial, acessível por meio desse hardware.

A primeira etapa crucial para o catador é a correta classificação do bem encontrado. O laptop, como objeto físico, é um bem móvel regido pelo Código Civil Brasileiro, especificamente o Artigo 1.233.

O Art. 1.233 do Código Civil Brasileiro é claro: quem encontra uma coisa perdida é obrigado a restituí-la ao proprietário legítimo ou entregá-la à autoridade competente. O cumprimento dessa obrigação é o que garante ao descobridor, neste caso o catador, o direito a uma recompensa legal chamada achádego.

A classificação mais provável para este laptop é a de res perdita (coisa perdida acidentalmente), e não res derelicta (coisa abandonada intencionalmente). Dispositivos modernos usam criptografia de disco robusta (como FileVault ou BitLocker), o que sugere que o proprietário original estava protegendo seus dados e, portanto, o perdeu ou o descartou por erro, e não por vontade.

O Art. 1.233 do Código Civil garante o direito a um achádego (recompensa) que não pode ser inferior a 5% do valor do bem encontrado.

A notificação formal e imediata do achado à autoridade competente é, portanto, legalmente imperativa. É o único caminho para que o catador mantenha seu direito ao achádego. Sem essa comunicação, qualquer tentativa de monetização do ativo pode expor o descobridor ao risco legal de apropriação indébita, mesmo que tenha sido ele quem encontrou a carteira com criptomoedas no lixo.

O status patrimonial do ativo virtual

O bem de maior valor, o criptoativo em si (como Bitcoin ou Ethereum), não é um objeto físico, mas sim um ativo digital imaterial. No Brasil, a Lei nº 14.478/2022 (Marco Legal dos Ativos Virtuais) e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmam o status patrimonial da criptomoeda.

As decisões do STJ permitem que esses ativos sejam objeto de penhora judicial. Isso é crucial porque solidifica a tese de que a recompensa legal (o achádego) deve ser calculada sobre o alto valor da criptomoeda, e não apenas sobre o valor residual do laptop. A posse da chave privada confere o poder de movimentação do ativo, mas a propriedade legal continua ligada ao dono original. O catador adquire, assim, um direito creditório (o achádego) sobre essa riqueza imaterial.

O risco técnico: por que não tentar acessar?

A complexidade técnica de acesso à carteira com criptomoedas é tão grande que qualquer tentativa amadora pode ser catastrófica, transformando o achado em perda permanente. Isso justifica a recomendação de buscar serviços forenses especializados.

O primeiro obstáculo é a criptografia de disco. Se o laptop utiliza sistemas operacionais atuais, o disco rígido (HD ou SSD) está protegido por criptografia robusta. Tentar bypassar essa proteção ou inserir senhas incorretamente pode levar a um bloqueio irreversível, um risco ilustrado por dispositivos de segurança que limitam o número de tentativas de acesso (como o precedente IronKey), bloqueando o conteúdo permanentemente após algumas falhas.

Além do desafio lógico, há o risco físico. Danos ao hardware causados pelo descarte (superaquecimento, impacto) exigem um ambiente de trabalho estéril, como laboratórios com sala limpa ISO 5, para evitar a corrupção total dos dados.

A estratégia da “taxa baseada em sucesso”

Para mitigar esses riscos e alinhar os interesses do catador, a única estratégia prudente é a contratação de empresas especializadas em recuperação de criptoativos, com experiência em perícia forense.

Essas empresas operam sob um modelo de taxa baseada em sucesso (success-based fee), que geralmente fica em torno de 20% do valor total recuperado. Este modelo é altamente vantajoso para o descobridor, pois ele não precisa arcar com os altos custos iniciais de laboratório e forensics. O pagamento é contingente ao sucesso: “Sem recuperação, sem taxa”. A expertise profissional minimiza o risco de perda permanente do ativo por erro técnico, garantindo o máximo potencial de recompensa.

A rota da recompensa: do achado à monetização

O plano de ação do catador deve priorizar a legalidade e a segurança técnica para transformar um achado fortuito em uma recompensa legítima, declarável e inatacável judicialmente.

  1. Preservação Forense: O laptop não deve ser ligado ou manipulado. Deve ser preservado imediatamente para avaliação técnica.
  2. Assessoria Legal Imediata: Contratar um advogado especializado em direito digital. Este profissional deve formalizar a comunicação do achado à autoridade, cumprindo o Art. 1.233 do Código Civil Brasileiro, o que legitima o processo e resguarda o direito ao achádego (mínimo de 5% sobre o valor da carteira com criptomoedas).
  3. Contratação Profissional: Usar um serviço forense especializado com taxa baseada em sucesso para recuperar a chave privada ou a frase semente.

Se a recuperação da chave privada for bem-sucedida, os fundos devem ser imediatamente transferidos para uma nova carteira segura, de posse do catador (ou sob custódia legal), para prevenir que o proprietário original (caso possua um backup) mova os ativos primeiro.

Negociação e compliance fiscal

A notificação proativa à autoridade, estruturada por um advogado, pode levar a uma negociação vantajosa com o proprietário. Em troca da entrega cooperativa da chave e do hardware, o catador pode negociar um percentual de achádego superior aos 5% legais, como 10% ou 20% do valor recuperado, evitando um longo e caro litígio.

Qualquer ganho (o achádego negociado) é considerado renda e deve ser declarado ao fisco brasileiro, sujeito à tributação de ganho de capital sobre criptomoedas. A assessoria jurídica é vital para garantir que a monetização seja realizada dentro dos parâmetros de compliance fiscal.

O achádego da era digital

O caso do catador que encontra uma carteira com criptomoedas no lixo é um marco que testa a legislação brasileira na fronteira entre o bem físico e o ativo digital. A chave para a monetização legítima e segura é a profissionalização: o catador deve transformar a descoberta técnica da chave privada na aquisição legal de um achádego sobre um ativo patrimonial de alto valor.

Quem você acha que tem o maior direito sobre o valor total: o catador (pelo achádego) ou o dono original (pela propriedade)? Acha que a lei de 5% do achádego é justa para ativos que valem milhões? Deixe sua opinião e comece o debate nos comentários, queremos saber como a sociedade avalia esse dilema jurídico-financeiro.

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Carla Teles

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