O casal à frente do Grupo Grespan entra em recuperação judicial por dívida de R$ 147 milhões, envolvendo três fazendas e produção de soja e pecuária. Entenda os impactos da recuperação judicial no agronegócio.
O casal de produtores rurais que representa o Grupo Grespan entrou em processo de recuperação judicial após acumular cerca de R$ 147 milhões em dívidas, com três fazendas entre os estados de Mato Grosso e Minas Gerais, e cerca de 2.000 cabeças de gado.
A decisão, deferida pela 4ª Vara Cível de Rondonópolis, ocorreu em maio deste ano e agora revela como a recuperação judicial se torna saída para empresas do agronegócio diante de pressões financeiras.
O pedido foi motivado por fatores como a alta de custos, embargos ambientais e a inadimplência de contratos agrícolas — e mostra porque a recuperação judicial está ganhando relevância no setor.
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Endividamento e origem da crise
O Grupo Grespan, estruturado pelo casal Sandro Grespan e Gerusa Grespan, atua na produção de soja em grande escala e pecuária de corte, com propriedade de três fazendas nos municípios de Serra Dourada, São Félix e Campo Novo do Parecis (MT) e em Paracatu (MG).
Segundo informações da defesa, o montante envolvido da recuperação judicial é de cerca de R$ 102 milhões a serem reorganizados, dentro de um passivo total de R$ 147 milhões.
A crise foi desencadeada por uma conjunção de fatores externos: custos em elevação durante a pandemia, embargos do IBAMA, falhas de safra (como na temporada 2019/20), além de contratos futuros de soja descumpridos.
Adicionalmente, o acesso ao crédito se tornou mais restrito — linhas como o Fundo Constitucional do Centro‑Oeste (FCO) e o Banco da Amazônia (BASA) negaram financiamento para o grupo, comprometendo a capacidade de investimento em infraestrutura fundamental.
Diante desse cenário, optou-se pela recuperação judicial como mecanismo para reorganizar as finanças e preservar os ativos, mantendo a operação produtiva das fazendas.
O que significa a recuperação judicial
A recuperação judicial é um instrumento previsto na legislação empresarial que permite que uma empresa — no caso o Grupo Grespan — suspenda execuções em seu patrimônio por determinado prazo e apresente um plano de recuperação aos credores.
No processo deferido, a Justiça garantiu proteção patrimonial contra execuções por seis meses e deu ao grupo 60 dias para apresentar o plano.
Esse tipo de ação é cada vez mais comum no agronegócio brasileiro: dados indicam que, em 2024, o setor já havia registrado patamar recorde de pedidos de recuperação judicial.
Para o agronegócio, a recuperação judicial representa uma alternativa viável diante de pressões como elevação de custos, instabilidade climática, juros em alta e queda de rentabilidade — fatores que tornam muitas dívidas insustentáveis.
Portanto, não se trata necessariamente de má-gestão, segundo os produtores, mas de efeitos sistêmicos do mercado e do ambiente regulatório.
Impactos para o casal e para o setor rural
A adoção da recuperação judicial pelo Grupo Grespan tem implicações importantes.
Primeiro, para o casal de produtores: a medida oferece tempo para reestruturação, evita venda imediata de ativos e potencial liquidação das fazendas, além de negociar dívidas sob condições mais controladas.
No entanto, exige transparência, plano de recuperação bem fundamentado e credores dispostos a colaborar.
Para o setor rural, esse caso funciona como alerta. O agronegócio enfrenta uma nova onda de endividamento — tão grave que muitos acreditavam que o agronegócio era imune a crises.
O fato de grandes grupos recorrentes à recuperação judicial mostra que nem sempre a escala protege contra choques múltiplos.
Além disso, o caso aponta para um reposicionamento dos bancos e instituições de crédito rural, que se tornam mais exigentes com garantias, projetos e prazos.
Isso pode aumentar o custo de capital para produtores, pressionando ainda mais quem está no limite.
Próximos passos da recuperação judicial
Dentro do processo de recuperação judicial, o Grupo Grespan tem pontos-chave a seguir:
- Apresentar plano de recuperação aos credores dentro do prazo. Conforme consta, o prazo definido foi de 60 dias após o deferimento da proteção patrimonial.
- Avaliar a viabilidade produtiva das três fazendas (Cristalina, Nossa Senhora das Graças e Bom Jesus III), considerando culturas de soja e pecuária, para garantir que os ativos gerem receita suficiente para honrar o plano.
- Negociar com os credores, de forma realista, sem depender de cenários extraordinários para recuperação — dado que a crise atual não deriva apenas de erro individual, mas de fatores externos.
- Monitorar custos, regularizar embargos ambientais e garantir a infraestrutura produtiva, para restabelecer produtividade e fluxo de caixa positivos.
O pedido de recuperação judicial do Grupo Grespan — com três fazendas, cerca de 2.000 cabeças de gado e dívidas de R$ 147 milhões — resume de forma emblemática o novo momento do agronegócio brasileiro.
Produção em grande escala, acesso a terra e gado, ainda assim, não imunizam contra crises financeiras sistêmicas.
Assim, a recuperação judicial se confirma como ferramenta essencial para negócios rurais que enfrentam endividamento elevado, custos crescentes e restrição de crédito.
Fonte: Compre Rural



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