Complexo do Pecém, no Ceará, recebe aporte bilionário e pode se tornar segundo maior polo de data centers do Brasil, impulsionado por energia renovável, empregos qualificados e atração de gigantes como Google, Amazon e TikTok.
Um projeto de grande porte no Complexo do Pecém, em Caucaia, coloca uma capital do Nordeste no radar para se firmar como novo polo de tecnologia do País.
O plano reúne a instalação de data centers na Zona de Processamento de Exportação (ZPE), exigência de energia renovável e a projeção de R$ 20 bilhões em investimentos em novos parques solares e eólicos.
A expectativa é de 15 mil empregos na fase inicial das obras, de acordo com o Diário do Nordeste, que publicou a reportagem neste sábado (13).
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O movimento tem apoio do governo federal, por meio da MP 1.307/2025, e mira a atração de multinacionais como ByteDance (TikTok), Google, Amazon e Apple.
Data center âncora e cronograma de obras
O complexo receberá um data center da Casa dos Ventos, empresa de grande porte no setor de energia renovável, com aporte estimado em R$ 150 milhões.
A planta ficará dentro da ZPE e tem início de construção previsto até dezembro, segundo o Diário do Nordeste.
Além desse empreendimento, a ZPE atraiu o interesse de ao menos outras cinco companhias do segmento, conforme informou Fábio Feijó, diretor-presidente da ZPE Ceará.
Propostas internacionais e foco em hiperescala
Empresas estrangeiras apresentaram ofertas para erguer data centers de hiperescala, voltados a processar volumes maciços de dados, padrão exigido por operações como as de Google, Facebook e Amazon.
Esses projetos, segundo a administração da ZPE, endereçam demandas de alto desempenho computacional típicas da inteligência artificial.
A avaliação das propostas está em curso e a definição de boa parte delas é esperada até o primeiro semestre de 2026, disse Feijó ao Diário do Nordeste.
Nas palavras do executivo, “estamos analisando as ofertas, mas o mais importante disso é que entramos no mapa mundial dos data centers”.
Ainda conforme Feijó, a procura atual parte majoritariamente de grupos internacionais e está associada a uma regra da ZPE:
“Antigamente, a gente via empresas de data center do Brasil, mas quem está nos procurando são empresas internacionais, até porque a legislação exige que 100% do faturamento na ZPE tem que ser exportado”.
Ceará mira o posto de 2º maior polo de data centers
A possibilidade de novos empreendimentos reposiciona o Estado na disputa por relevância nacional.
Rodrigo Porto, professor titular de Telecomunicações da Universidade Federal do Ceará (UFC), avalia que o Ceará pode caminhar para se tornar o segundo maior polo de data centers do País, caso as iniciativas se confirmem.
Hoje, a quantidade de equipamentos coloca o Estado atrás de Rio de Janeiro e São Paulo.
A análise foi publicada pelo Diário do Nordeste.
Para além da contagem de instalações, chama atenção a escala dos investimentos propostos.
Na visão do especialista, a tendência é que as futuras estruturas já nasçam preparadas para sustentar o crescimento do processamento computacional e a IA, o que deve irradiar efeitos para a cadeia de suprimentos.
A expectativa é estimular a produção local de equipamentos e serviços de ponta.
Energia limpa, segurança jurídica e a MP 1.307
O impulso regulatório veio com a Medida Provisória nº 1.307/2025, assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante visita ao Ceará.
A MP determina que novas empresas instaladas em ZPEs utilizem fontes de energia renovável e permite que prestadoras de serviços, como data centers, acessem o regime especial alfandegário.
Segundo o Diário do Nordeste, Feijó destaca que a medida ofereceu segurança jurídica para a atração de projetos e consolidou a exigência de compromisso com energia limpa.
Outro ponto mencionado pelo executivo é que a regra reduz o risco de competição direta por eletricidade entre data centers e usinas de hidrogênio verde.
A ZPE projeta que a obrigatoriedade de fontes limpas pode alavancar R$ 20 bilhões em novos parques solares e eólicos, de acordo com informações publicadas pelo Diário do Nordeste.
Especialistas, no entanto, alertam que a chegada de unidades de grande porte exige reforços na transmissão para evitar sobrecarga na rede.
Conectividade estratégica: cabos submarinos e infraestrutura local
A vocação do Ceará para telecomunicações e energia é apontada como diferencial.
Rodrigo Porto observa que, na Praia do Futuro, a presença de cabos submarinos e de data centers já instalados permite aproveitar de imediato a infraestrutura de conectividade.
A expansão prevista no Complexo do Pecém reforça esse ecossistema, que soma condições naturais e logísticas para sustentar operações de baixa latência e alta disponibilidade, segundo avaliação repercutida pelo Diário do Nordeste.
Empregos, qualificação e efeitos na economia local
Os data centers são unidades críticas para processamento, armazenamento e distribuição de grandes volumes de dados.
A construção dessas instalações mobiliza cadeias de serviços e gera postos de trabalho.
Eduardo Tude, presidente da Teleco, explica que esses investimentos criam oportunidades de emprego já na obra e, depois, na operação cotidiana, que demanda profissionais qualificados.
O data center bilionário da Casa dos Ventos prevê 500 empregos diretos na operação plena, além de 15 mil empregos diretos e indiretos na primeira fase das obras.
A Prefeitura de Caucaia trabalha com a expectativa de firmar parcerias com instituições de ensino para capacitar jovens dos municípios do entorno, preparando mão de obra aderente ao perfil técnico exigido pelo setor.
A planta em projeto foi concebida com 10 salas de dados, cada uma com mais de 2.000 m², e pode atender grandes multinacionais, como ByteDance (TikTok), Google, Amazon e Apple.
Por que o Ceará tem condições de acelerar?
Há, segundo os entrevistados, uma confluência de fatores. O ambiente regulatório, com exigência de energia renovável, favorece operações intensivas em eletricidade e alinhadas a metas de descarbonização.
A posição geográfica, com cabos submarinos conectando o Brasil a outros continentes, reduz distâncias digitais.
A ZPE do Pecém oferece regime aduaneiro especial e impõe a exportação de 100% do faturamento, atraindo operadores globais com perfil voltado a clientes internacionais.
E a presença de um projeto âncora — o data center da Casa dos Ventos — tende a catalisar fornecedores e serviços correlatos, conforme publicou o Diário do Nordeste.
O conjunto de iniciativas, se confirmado nos prazos indicados, pode elevar o Ceará a um patamar de protagonismo no mapa brasileiro de infraestrutura digital, em um momento em que a IA e aplicações baseadas em nuvem ampliam a demanda por processamento e armazenamento de dados.
A partir desse cenário, que área da economia local deve se transformar primeiro com a chegada de data centers de hiperescala?