Regulamentação pode transformar a indústria, gerar empregos e tornar o país um competidor estratégico no setor medicinal e sustentável
Uma decisão de grande impacto econômico e social está em curso no Brasil, após o fim do prazo dado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 30 de setembro de 2025. A determinação obriga a Anvisa e a União a definirem se o cultivo de cânhamo será regulamentado ou proibido em definitivo. Com isso, o futuro de um mercado bilionário passa a depender dessa decisão.
De acordo com o Instituto Escolhas, em estudo publicado em junho de 2025, o mercado nacional de medicamentos derivados da cannabis já deve movimentar R$ 1 bilhão neste ano. Além disso, ele pode atingir R$ 6 bilhões até 2030, consolidando-se como uma das maiores oportunidades da economia verde no país.
Investigação técnica revela potencial produtivo e econômico
O cânhamo, variante da cannabis com teor de 0,3% a 0,5% de THC, difere da maconha tradicional por não possuir efeito psicoativo significativo. Por outro lado, concentrações acima de 3% caracterizam a planta como droga recreativa. Essa distinção científica é o centro da cautela regulatória da Anvisa.
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Para atender à demanda projetada, o Brasil precisaria cultivar 64 mil hectares até 2030, exigindo investimento de R$ 1,23 bilhão. Assim, o retorno esperado seria de R$ 5,76 bilhões em receitas líquidas e a criação de 14,5 mil empregos diretos. Na prática, o país lucraria quase cinco vezes mais do que o aporte inicial, o que reforça a urgência da regulamentação.
Impactos econômicos e sociais da regulamentação
O mercado global de cânhamo deve atingir US$ 48 bilhões em 2025 e alcançar US$ 700 bilhões em 2033, sendo US$ 120 bilhões apenas em medicamentos, conforme dados da Business Research Insights. Enquanto isso, países como Uruguai, Paraguai e Colômbia já avançaram com políticas liberais e exploram economicamente a planta, o que pressiona ainda mais o Brasil.
No Brasil, especialistas ressaltam que a autorização pode representar uma revolução na saúde pública. Medicamentos à base de cannabis já mostraram eficácia no tratamento de depressão, ansiedade, insônia, epilepsia, Parkinson, Alzheimer e endometriose. Além disso, os derivados possuem usos industriais em cosméticos, têxteis, construção civil e alimentos funcionais.
Corrida científica e desafios regulatórios
Apesar da demora regulatória, alguns avanços já ocorreram. Em 2015, a professora Vanessa Stein, da Universidade Federal de Lavras (MG), obteve autorização extraordinária da Anvisa para cultivar cânhamo em laboratório. Suas pesquisas com biotecnologia aplicada ao melhoramento genético da planta receberam em 2025 um financiamento de R$ 1,2 milhão da Fapemg.
Segundo Stein, a regulamentação ampliaria o acesso e reduziria custos. “Hoje, medicamentos com cannabis chegam a custar até R$ 600 em farmácias”, afirma. Além disso, Daniela Bittencourt, secretária-executiva do comitê da Embrapa sobre cannabis, alerta que o Brasil pode recuperar décadas de atraso em apenas 15 anos, caso políticas públicas incentivem pesquisa e produção.
Planejamento para exploração sustentável
O uso do cânhamo também traz ganhos ambientais. Rafael Giovanelli, do Instituto Escolhas, ressalta que a planta pode substituir o algodão, que ocupa 3,5% da área agrícola brasileira e responde por 10% do consumo nacional de agrotóxicos. Diferente do algodão, o cânhamo dispensa químicos, consome pouca água, remove carbono da atmosfera e resulta em produtos mais duráveis.
Essas características reforçam a visão de que a planta pode se tornar um dos pilares da economia verde do século XXI. Dessa forma, além de fortalecer a indústria têxtil, o cânhamo abre caminho para práticas agrícolas mais sustentáveis e alinhadas às metas de descarbonização.
O cânhamo em contexto global
Países como Estados Unidos, Canadá, França, Inglaterra e China avançaram na pesquisa e exploração do cânhamo há décadas, colhendo frutos econômicos e tecnológicos. No entanto, no Brasil, a decisão da Anvisa pode definir se o país seguirá à margem da corrida internacional ou se transformará seu potencial agrícola em liderança global.
O exemplo de vizinhos sul-americanos e a pressão de setores produtivos reforçam a urgência de uma definição. Além disso, os depoimentos de pacientes que já utilizam medicamentos à base de cannabis, como a produtora cultural Anamaria Boschi, de 48 anos, mostram que há uma demanda crescente por alternativas terapêuticas mais acessíveis.
O que o futuro reserva para o Brasil?
Com terras férteis, clima favorável e instituições científicas robustas, o Brasil tem condições de se tornar um protagonista no mercado global de cânhamo. Porém, o futuro dependerá da decisão da Anvisa, que precisa equilibrar inovação, saúde pública e sustentabilidade.
O dilema agora é claro: o país deve regulamentar rapidamente o cânhamo para aproveitar seu potencial econômico e medicinal ou adotar uma postura mais cautelosa, garantindo que a exploração ocorra dentro de padrões rigorosos de segurança e sustentabilidade?