Brasil perde 1,1 milhão de caminhoneiros em uma década; jovens evitam estradas, enquanto profissionais com mais de 60 anos já são maioria
O transporte rodoviário de cargas no Brasil enfrenta uma crise silenciosa, mas com efeitos profundos. Em dez anos, o número de motoristas de caminhão caiu de 5,5 milhões para 4,4 milhões, uma redução de 20% — ou 1,1 milhão de profissionais.
A dificuldade em atrair jovens para a profissão contrasta com o envelhecimento rápido da categoria e coloca em risco a base do sistema logístico que movimenta a economia nacional.
Dados que expõem a gravidade do problema
O levantamento do Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS) mostra que, em 2024, apenas 4,11% dos motoristas tinham até 30 anos, enquanto 11,05% já ultrapassavam os 70.
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A maior concentração está entre 51 e 60 anos, com 1,22 milhão de profissionais, seguida pela faixa entre 61 e 70 anos, que soma 898 mil.
Hoje, um terço dos caminhoneiros tem mais de 60 anos, e os jovens com idade entre 18 e 30 anos não chegam a 200 mil.
Embora não exista evasão significativa da profissão para outros setores, a reposição de mão de obra não acompanha o envelhecimento natural.
O resultado é uma queda no número de profissionais ativos e uma preocupação crescente para empresas que dependem do transporte rodoviário, responsável por 62% de tudo que é produzido no Brasil.
Contratação autônoma em xeque
Outro ponto de pressão está no modelo de contratação predominante. A maioria dos motoristas atua como autônomo, assumindo tanto a prestação do serviço quanto os custos de aquisição e manutenção do caminhão. Esse modelo, que já foi a base da categoria, hoje enfrenta limitações diante das dificuldades financeiras de quem inicia na profissão e das novas exigências do mercado.
As empresas começam a investir na compra de veículos e oferecer contratos formais em regime CLT, especialmente em regiões do interior.
Esse movimento busca garantir a continuidade das operações em um cenário de escassez de profissionais.
Mercado de caminhões em expansão
Os dados do setor de veículos ajudam a dimensionar o desafio. Em 2024, o Brasil licenciou 120 mil novos caminhões, o que representa um crescimento líquido de 65 mil unidades.
O aumento da frota contrasta com a queda no número de motoristas disponíveis, o que evidencia a necessidade de novas estratégias de contratação e capacitação.
Histórias que revelam o impacto
Uma reportagem do SBT mostrou a trajetória de Eduardo, exemplificando as exceções no setor.
Aos 41 anos, ele realizou o sonho de infância ao se tornar motorista após iniciar como ajudante e participar de um treinamento.
Hoje, faz viagens até Minas Gerais e destaca a gratificação de alcançar esse objetivo. Mas casos como o dele são raros diante da queda de 1,2 milhão de motoristas nas últimas décadas.
Para enfrentar a falta de mão de obra, algumas empresas de transporte e logística têm criado cursos de capacitação para funcionários interessados em migrar para a boleia do caminhão.
O objetivo é estimular novas gerações e mostrar que a profissão ainda pode oferecer estabilidade e sustento familiar.
Razões da fuga dos mais jovens
Apesar dessas iniciativas, a adesão continua baixa. Muitos jovens preferem seguir outros caminhos, como dirigir carros de aplicativo.
Entre os motivos apontados estão a baixa remuneração, os riscos de roubo de carga, as condições precárias das estradas e o impacto pessoal de ficar longe da família.
Um motorista resume o dilema: “A gente dirige, mas não sabe se vai voltar para casa. Eu tenho um filho de 5 anos e não sei se vou ver ele.”
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