O Brasil detém cerca de 21 milhões de toneladas de terras raras, base para carros elétricos, turbinas e defesa. A tarifa de 50% dos EUA esfriaram a cooperação e reacenderam o debate sobre soberania mineral.
O Brasil negociava com Washington apoio técnico e investimento para acelerar a exploração de terras raras e reduzir a dependência ocidental da China no processamento desses minerais. A guinada tarifária de 50% anunciada pelos Estados Unidos em agosto interrompeu o diálogo, levou o caso à OMC e reabriu o debate sobre soberania mineral e reconfiguração de cadeias de suprimentos.
Segundo estimativas oficiais, o país detém cerca de 21 milhões de toneladas em reservas e pode se tornar um ator relevante se avançar em mineração, processamento e produção de ímãs permanentes.
O que são terras raras e por que o Brasil virou peça-chave em minerais críticos
As terras raras são um grupo de 17 elementos utilizados em ímãs de alta performance, presentes de carros elétricos a turbinas eólicas e aplicações militares. Apesar de abundantes na crosta, são difíceis de separar e refinar em escala. Hoje, a China concentra a maior parte do processamento global, o que expõe outras economias a riscos geopolíticos e de oferta.
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No Brasil, os levantamentos mais recentes indicam 21 milhões de toneladas em reservas, colocando o país entre os líderes mundiais. A publicação Mineral Commodity Summaries 2025 da USGS confirma esse número, enquanto o Serviço Geológico do Brasil (SGB) comunica que o volume equivale a cerca de 23% das reservas ou recursos globais, diferença explicada por metodologias e conceitos distintos entre recursos e reservas. Explicar ao leitor a diferença ajuda a entender por que os percentuais variam.
O SGB também retomou em 2025 campanhas de aerogeofísica com a espanhola Xcalibur para atualizar mapas e reduzir incertezas geológicas, base para atrair capital e licenciar novos projetos. O avanço do mapeamento reduz riscos, melhora a precificação dos ativos e encurta prazos entre descoberta e produção.
Tarifas de 50% e OMC: como a crise Brasil x EUA travou a parceria
Em 30 de julho de 2025, a Casa Branca publicou atos que enquadraram o Brasil como ameaça à segurança nacional dos EUA, medida que embasou tarifas punitivas e elevou a temperatura diplomática. No início de agosto, Washington instituiu tarifa de 50% sobre a maioria das importações brasileiras, com exceções, e o governo brasileiro levou o caso à OMC.
Em 19 de agosto, os Estados Unidos aceitaram o pedido de consultas do Brasil na OMC, mas alegaram que o tema envolve segurança nacional e, portanto, estaria fora do escopo do mecanismo de solução de controvérsias. Na prática, isso adiciona incerteza jurídica e afeta decisões de investimento em minerais críticos no curto prazo.
Como resposta econômica, o BNDES anunciou em 22 e 23 de agosto uma linha de crédito de 10 bilhões de reais para empresas afetadas, parte de um pacote mais amplo para sustentar liquidez, diversificar mercados e amortecer choques das tarifas. Setores como o café já relatam impactos de preço e de competitividade. Previsibilidade regulatória será chave para reencaixar qualquer acordo específico sobre minerais.
Quem investe hoje: Serra Verde, Aclara e a nascente cadeia de ímãs permanentes
A Serra Verde é o primeiro projeto brasileiro de terras raras em produção comercial. Em 2024, a empresa recebeu US$ 150 milhões de investidores norte-americanos, e foi incluída na lista de projetos do Minerals Security Partnership (MSP), iniciativa liderada pelos EUA e aliados para diversificar cadeias fora da China. O desenho atual, porém, ainda envia parte do material para processamento no exterior, o que evidencia a lacuna de refino local.
A canadense Aclara Resources avança no Brasil e firmou acordo de fornecimento com a alemã Vacuumschmelze (VAC), que monta uma fábrica de ímãs na Carolina do Sul com apoio do Pentágono. A empresa também busca financiamento público norte-americano para integrar mineração, processamento e manufatura de ímãs, criando uma ponte Brasil–EUA na cadeia de valor. Tarifas elevadas e ruído político podem adiar cronogramas ou redirecionar parcerias para Europa e Ásia.
No plano doméstico, o Brasil iniciou em julho o MagBras, projeto de R$ 73 milhões coordenado por SENAI e parceiros industriais para consolidar uma cadeia nacional de ímãs permanentes. Em paralelo, o laboratório-fábrica em Lagoa Santa (MG) vem sendo apontado como peça de P&D e pré-série para dar escala à fabricação de ligas e ímãs com conteúdo local. Se a etapa industrial deslanchar, o país passa a capturar mais valor do que apenas exportar concentrado.
Caminhos possíveis para o Brasil em terras raras e minerais críticos
Cenário 1. Acomodação negociada. Brasil e EUA criam exceções setoriais ou um “entendimento de minerais críticos”, destravando cooperação técnica e investimento. Indicadores a observar: agenda de consultas na OMC, eventuais exceções tarifárias e retomada de missões técnicas ligadas ao MSP.
Cenário 2. Prolongamento da disputa. As tarifas de 50% e o contencioso jurídico reduzem o apetite de capital norte-americano por projetos brasileiros, com empresas buscando offtakes e financiamento em outros polos. Esse ambiente adia decisões de plantas de refino e ímãs no país e pode concentrar ganhos em mineração básica.
Cenário 3. Pivot geopolítico e conteúdo local. Sem acordo com os EUA, o Brasil intensifica parcerias com UE e Ásia, acelera aerogeofísica e licenciamento e impõe contrapartidas de processamento doméstico. O diferencial competitivo passa por segurança jurídica, rapidez ambiental e qualidade da infraestrutura, além de proteger soberania mineral com governança transparente.
O que acompanhar nas próximas semanas para não perder o fio
Acompanhe a tramitação das consultas na OMC, pois um cronograma claro tende a reduzir incerteza e a reabrir conversas setoriais. Observe também anúncios do BNDES e da área de minas e energia sobre crédito, mapeamento e normas de conteúdo local, além de decisões de investimento de Serra Verde e Aclara. Por fim, monitore os sinais do MSP e da indústria de ímãs nos EUA, já que a coordenação entre mineração, refino e manufatura definirá onde o valor ficará na próxima década.
Agora é com você: as tarifas de 50% e a disputa na OMC mudam o jogo para as terras raras brasileiras? Na sua visão, o Brasil deve priorizar soberania mineral e processamento local ou buscar um entendimento com os EUA para acelerar investimentos em minerais críticos?